Capítulo 23 - Fantasmas do passado

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Julien acordou sobressaltado.

A testa gotejando suor, os cabelos úmidos e o corpo formigando. Respirou fundo uma e outra vez para se recompor, e ergueu o lençol para confirmar se havia mesmo feito o que pensava. Bufou ao ver que sim. Tinha ejaculado com o sonho que o acordou tão abruptamente.

Deixou a cabeça cair para trás no travesseiro e esfregou as mãos no rosto, encarando o teto em seguida. Era a terceira vez desde que chegara a Londres, quase duas semanas atrás. Não conseguia acreditar que aquele incidente havia se repetido. Como iria esquecer Christinie se os seus próprios sonhos insistiam em fazê-lo lembrar do que ocorreu entre eles no bosque?

Na verdade, seus desejos inconscientes estavam levando-o a um patamar muito além do que apenas aquele acontecimento. Idealizava a ruivinha nua e arfante em seu colo, os seios arrebitados roçando provocativamente em seu rosto em um pedido mudo para abocanhá-los com ânsia, enquanto suas mãos acariciavam demoradamente cada centímetro daquela pele macia e cheirosa à medida que seu pênis afundava entre as carnes embebidas de prazer e sensíveis dela. Céus! Somente imaginar tal coisa já o fazia se agitar.

Não que seus pensamentos em algum momento tenham sido dos mais inocentes. Contudo, depois de experimentar daqueles fogosos beijos e a sensação do corpo menor em contato com o seu, de escutar os inebriantes gemidos dela, pareciam ter ficado ainda mais maliciosos.

Julien soltou um longo suspiro, querendo abrandar o calor que voltava a dominar seus sentidos. Continuar relembrando só pioraria aquele martírio e, além disso, tinha muitos compromissos ao longo do dia para se dar ao luxo de perder a concentração por conta disso.

Finalmente reunindo coragem para levantar, o rapaz abandonou a cama depois de vestir a ceroula e caminhou até a janela para abrir as cortinas a fim de observar o clima. A paisagem com a qual se deparou era completamente diferente daquela que estava acostumado, mesmo tentando se habituar a ela. As árvores e os extensos gramados verdejantes pareciam apenas uma imagem distante comparada as construções luxuosas e carruagens opulentas que percorriam as ruas de cascalhos. Mais um dos tantos cenários que Julien vira em suas viagens.

Porém, o que realmente fez com que ficasse cabisbaixo foi o fato de que, estando ali, ele não podia observar os gêmeos correndo animados pelo jardim e nem admirar o sorriso iluminado de Christinie, que, apesar dos pesares, alegrava seus dias. A separação pesou em seu peito.

— Basta! — disse a si mesmo ao perceber que seguia a escuridão de seu coitadismo.

Bateu com as mãos nas bochechas como forma de acordar, não apenas literalmente, como de seus devaneios também. E foi lavar o rosto. Teria que descer logo mais e deveria se aprontar.

Apanhou uma toalha limpa, jogando em cima do ombro, e se observou no espelho atrás de algum indício de que deveria se barbear; ele estava preparando o lavabo com água limpa no momento em que a porta foi aberta e um grito ecoou repentinamente dentro do quarto.

A jarra de porcelana quase escorregou da mão de Julien e foi ao chão tamanho o susto que tomou. Alarmado, o rapaz virou e defrontou-se com uma jovem criada, que o encarava tendo a face rubra igual a uma pimenta. Vislumbrou-a um instante. Não estava certo de já tê-la visto antes, mesmo conhecendo uma boa parte dos empregados do casarão.

Nenhum deles se pronunciou.

O Dufour percebeu como o olhar dela estudava-o minuciosamente e parecia carregar certa malícia, e só então se deu conta de que não usava camisa e vergonhosamente trajava somente a roupa de baixo que, ainda por cima, provavelmente evidenciava sua indecência.

Santo Deus, que vexame! Ele se desesperou e correu até a cama, apanhando o robe de caxemira e vestindo às pressas, cobrindo-se praticamente por inteiro. Houve um minuto de silêncio.

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