Embora a atmosfera fosse desconfortável e um tanto embaraçosa, Julien não conseguia parar de vislumbrar Christinie. Era notável o rubor em suas bochechas, tal qual as de seu irmão. Ambos estavam envergonhados, ainda que não demonstrassem em gestos ou expressões, muito provavelmente por terem esquecido que haviam visitas. Ou talvez porque não quisessem causar uma má impressão, o que não parecia o caso.
Os irmãos Dufour viram-se em dúvida no momento em que os cumprimentos deveriam ser feitos. Apertariam as mãos? Se sim, de ambos ou apenas de um deles? Afinal, era uma dama ali também. O dilema se estendeu por alguns segundos, até que os gêmeos resolveram o inesperado problema com um breve anuir e foram para os seus lugares.
Sem muita predileção a sociabilidade, concluiu Julien. Eloïs, bem, não deu tanta importância. Afinal, também não era muito dado a essas convenções.
— Espero que se comportem agora que temos convidado aqui. Entenderam?
— Sim, papai. — os gêmeos responderam em uníssono.
Até mesmo as vozes eram parecidas, embora fosse possível notar uma leve rouquidão vindo de um deles. Porém, falando juntos, era difícil distinguir de quem se tratava.
— Bom. Enfim, já que estamos todos aqui, posso enfim fazer as devidas apresentações de nossos convidados. — Hugh se pronunciou, mudando de assunto — Este é Julien Dufour. Filho mais velho e herdeiro do meu estimado amigo e parceiro nos negócios, Renè, o Conde de Conserans. E este é Eloïs, o segundo e não menos importante filho. A propósito, um excelente pianista.
Os irmãos fizeram uma pequena reverência, cumprimentando a todos.
— Apesar de ser algo de conhecimento geral, gostaria de fazer um anúncio formal. Renè e eu concordamos que o enlace de nossos filhos seria muito proveitoso para ambas as famílias. Por isso, Julien e Suzanne estão comprometidos e irão se casar em breve.
Não houveram burburinhos, somente o silêncio da compreensão.
Christinie cutucou o irmão por debaixo da mesa com o pé e, trocando olhares, chegaram a mesma conclusão. Sabiam que um dos convidados era o noivo da irmã mais velha, porém, ficaram inesperadamente desapontados ao saber que Julien era o pretendente.
O rapaz não coincidia com o caráter de Suzanne.
Com todos devidamente acomodados, o duque gesticulou para que retomassem o café da manhã. Uma das empregadas se aproximou para servir leite quente aos gêmeos, mas, aquele que parecia ser o verdadeiro garoto, sorriu e disse que poderia servir a si mesmo. Julien estranhou. Era incomum esse tipo de comportamento vindo de um nobre. E ainda mais incomum quando o rapaz serviu também a irmã.
A conversa de outrora não demorou a recomeçar, porém, Julien tinha que fazer algum esforço para ater-se ao que o duque dizia. Isso porque os seus pensamentos o atraiam para a figura ambígua sentada a pouca distância e que, sorrateiramente, ele tentava observar pelo canto dos olhos. Estava tão intrigado com aquela moça, que ao menos percebeu que sua prometida tentava lhe chamar discretamente a atenção.
Julien tentou ao máximo resistir à tentação, mas aquele sentimento esquisito corroía-o de tal forma, que ele precisava fazê-lo nem que fosse uma vez. E qual não foi sua surpresa, ao finalmente ceder, de encontrar Christinie também o espiando pela borda da xícara que levava a boca. Seus olhares se encontraram, intensos e curiosos, provocando uma queimação repentina no estômago de Julien e fazendo-o engolir custosamente o chá que bebericava. Ele sentiu o coração saltar dentro do peito.
O que, em nome de Deus, estava acontecendo consigo?
Desconcertado como em poucas vezes estivera na vida, ele desviou os olhos e voltou a encarar o duque com mais veemência do que realmente gostaria, fingindo inutilmente estar atento a cada palavra. Era isso ou sucumbir àquelas emoções insólitas.
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O Mais Belo Vermelho
RomanceJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...