Partilhando novamente da garrafa de gin que Julien ganhara de Frederick como presente de despedida, os irmãos conversavam acerca do que Adelyn havia confidenciado no dia em que encontraram o túmulo de Abigail, a mãe dos gêmeos e o grande amor do duque.
Ainda era difícil assimilar aquela história, principalmente o fato de que o acidente com a diligência foi premeditado, justamente pelo amante da falecida duquesa. Este que arquitetou durante anos sua vingança e agiu quando menos esperavam, pegando a todos desprevenidos.
Sem contar que, antes mesmo da tragédia acontecer, Hugh teve de lidar com o falatório de todos na sociedade ao se apaixonar por uma mulher que não era sua esposa. E, após a dolorosa perda, ser obrigado a ouvir que a morte dela foi um castigo divino por tudo o que cometera.
No entanto, não foi Deus quem o puniu, e sim o próprio homem.
— Tenho pena do senhor Hugh. — comentou Eloïs, fitando o líquido dentro do copo — Eu não imaginava que um dos segredos dessa família fosse tão lastimável. Ele sofreu tanto.
— Realmente. Quanto mais descobrimos sobre essa família, mais abismado eu fico.
— Deveras.
Havia tanto por trás da fachada imponente dos Bamborough, especialmente de seu patriarca, aquele que ostentava o título de Duque de Northumberland e parecia alguém tão inabalável.
E, mesmo com tantas revelações, certos segredos continuavam sem explicação.
— Se bem que, por mais insensível que vá soar, estive pensando e.... — Eloïs cruzou uma perna sobre a outra e recostou na cadeira — Acho que isso pode ser algo bom para você.
Julien ergueu uma sobrancelha.
— O que quer dizer?
— Talvez, tendo esse passado sofrido de amor, o duque entenda sua situação. Ele não vai querer que outra pessoa viva o mesmo martírio que enfrentara anos atrás, em especial porque uma de suas filhas está envolvida. Justamente a filha que tivera com seu grande amor.
— Quero acreditar que esteja certo. — suspirou — Espero que o senhor Hugh entenda e permita que eu fique com Christinie. Ainda que não dependa somente dele acabe com esse noivado.
Eloïs sabia perfeitamente a quem o Juli se referia. A pessoa que podia mudar completamente o rumo de suas vidas, como fizera em várias ocasiões ao longo dos anos.
A tensão repentinamente envolveu os dois.
— E se o nosso pai não permitir?
Julien girou o punho algumas vezes e observou o gin dentro do copo. Ficava apreensivo sempre que imaginava qual seria a reação do pai ao ler sua carta ou a resposta que enviaria.
O Conde de Conserans não era um homem impiedoso, porém, defendia rigorosamente a moral e os bons costumes. Bem como a tradição de que o próximo na linha de sucessão, no caso ele, deveria garantir a continuidade do sobrenome Dufour ao casar e gerar herdeiros legítimos.
O que não aconteceria, já que Christinie não podia engravidar, e ele não tinha qualquer outra mulher em sua cama. Nem mesmo com a finalidade de perpetuar o sobrenome de sua família.
Respirando fundo, deu o último gole na bebida, e olhou para o caçula.
— Então, também estarei disposto a renegar tudo, e fugir com Christinie para longe daqui.
Como se tivesse escutado a resposta para todos os males do mundo, Eloïs arregalou os olhos e então, de repente, começou a gargalhar. No entanto, não era um som alegre, e sim sarcástico.
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O Mais Belo Vermelho
RomansaJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...