Capítulo 15 - Tentativas

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Christian paralisou diante daquela pergunta.

As mãos, até então sobre as teclas do piano, deixou que caíssem trêmulas em cima do colo a fim de esconder o súbito nervosismo que se apossou de seu corpo. Mas era inútil. Ainda que a mentira estivesse se agarrando na garganta, os olhos abertos em claro desespero o denunciavam.

E, mesmo que fosse um exímio mentiroso, não conseguiria fugir do olhar de Eloïs. Tal como via-se incapaz naquele momento. Pois, aquele homem passou a conhecê-lo tão bem, que não havia outra escolha a não ser dizer a verdade. A temida verdade da qual esquivara por semanas.

Céus! Por que aquilo estava acontecendo?

Apesar de estar disposto a dar um fim aos encontros na sala de música escondida, lugar que se tornara o seu mais precioso refúgio do mundo, não queria que terminasse daquele jeito. Não queria que ele o odiasse. A ideia era insuportável demais para conceber.

Christian não queria ser odiado pela pessoa que amava.

Eloïs continuou encarando o ruivinho, esperando por uma resposta que abrandasse minimamente a dor excruciante em seu peito, mesmo sabendo que seria impossível.

Um par de explicações não seria o suficiente.

Inquieto demais para ficar parado, ele começou a andar pelo cômodo, como se fazê-lo fosse lhe trazer algum alento. Além disso, olhar para o rosto de Christian sem lembrar que tudo entre eles não passou de uma mentira estava destruindo-o. Foi tudo uma mentira, uma enganação, quando seus sentimentos eram tão malditamente verdadeiros. E continuavam sendo.... Dolorosamente.

Nenhum deles falou por um longo tempo.

Haviam explicações demais, emoções demais, e nenhuma coragem.

E assim os minutos se arrastaram, até Christian tomar a iniciativa ao sentir que era seu dever:

— Eloïs...

— Não me chame pelo primeiro nome! — cortou-o com um rosnado alto — Eu havia lhe dado essa intimidade quando pensei que...

O Dufour esfregou a testa de maneira nervosa e respirou fundo. Não era de sua natureza perder a calma com tanta facilidade, mas, naquele momento, algo muito além do costumeiro comportamento estava em jogo. Talvez tudo no que acreditou a vida inteira até ali.

— Por que? — indagou ele em voz branda, sem olhar para o outro rapaz — Por acaso, estava gostando de brincar com os meus sentimentos? De me fazer de tolo?

Não houve resposta, o que aumentou sua irritação.

Porém, em seu rompante de fúria, esqueceu-se que provavelmente Christian não podia ouvi-lo, menos ainda respondê-lo. Suspirou pesadamente.

Mesmo a contragosto, virou e repetiu a pergunta.

— Não! Eu nunca brincaria com os seus... Com os sentimentos do senhor.

— Ah, não? E o que foi tudo isso então, além de uma brincadeira de extremo mau gosto?!

Eloïs voltou a andar de um lado para o outro igual a um leão enjaulado. Sua cabeça encontrava-se uma tremenda confusão e a raiva crescente não o permitia enxergar mais do que sua desilusão; levou as mãos aos cabelos e apertou-os com um pouco de força. Como não foi capaz de distinguir as pequenas diferenças entre os gêmeos? Foram tantas as vezes em que teve a oportunidade, por que deixou-se enganar tão estupidamente? Por que?

Escorou-se na prateleira de mármore da lareira e soltou o ar com força. Ele sabia a razão.

E saber tornava seu tormento ainda maior: não se deixou ser enganado. Estava encantado demais para perceber o óbvio. Sem contar que não fazia ideia sobre a condição do rapaz.

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