Capítulo 21 - Um lugar que só nós conhecemos

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— Nós viajaremos em dois dias. — anunciou o duque, sem desviar a atenção dos papéis que analisava — Você acha que seu irmão estará em condições de nos acompanhar?

Julien permaneceu calado, pensativo. Não sabia exatamente o que responder.

Desde àquele incidente no bosque – e que ainda assolava seus pensamentos –, Eloïs se trancou no quarto alegando uma indisposição e negava-se a atendê-lo, o que não lhe impedia de continuar insistindo. Mais do que nunca, estava preocupado com seu irmãozinho, sobretudo pelo o que presenciou. Aquelas lágrimas, a vulnerabilidade palpável de alguém que se encontrava à beira de suas emoções, e, principalmente, o medo estampado em seu rosto.

Eloïs parecia estar prestes a desmoronar.

Havia prometido a si mesmo que iria respeitar o irmão, tal como o homem que era, mas até que ponto conseguiria observar sem contrapor-se? Até que ponto iria abster-se de ajudá-lo?

Intrigado com o silêncio do futuro genro, Hugh ergueu a cabeça para fitá-lo e o arrancou de suas divagações ao perguntar:

— Deveria mandar chamar o doutor Daryl?

— Ah, perdão. — pigarreou — Não creio que seja necessário. Meu irmão só está cansado. Isso sempre acontece quando ele se dedica tanto as composições. Tudo o que ele precisa é descansar até o dia da viagem, mas irei conversar com ele e deixá-lo ciente de que partiremos em breve.

— Bem, caso necessite de alguma coisa, não hesite em vir falar comigo. Tudo bem?

— Obrigado, senhor.

— Pode se retirar.

Julien fez uma ligeira reverência e deixou o escritório do duque, inclinado a subir para informar o irmão sobre o que acabara de ouvir.

Desconfiava que Eloïs não iria recebê-lo de bom grado, considerando os dias anteriores, mas era algo de extrema importância e, quem sabe, falar sobre a viagem que daria a oportunidade de conhecer excelentes conservatórios não animasse seu humor. Música sempre o animava.

Parado diante do quarto do irmão, Julien deu três batidas na porta e aguardou que viesse atendê-lo, o que não aconteceu. Tentou mais uma vez e, ao não ter resposta, forçou a maçaneta e constatou que estava aberta; empurrando lentamente, espreitou dentro do cômodo e viu o irmão adormecido na cama. Não era do feitio do mais novo cochilar durante a tarde, mas, desde pequeno, Eloïs sempre tivera facilidade para dormir quando a situação lhe era propícia.

O que, aparentemente, fora o caso.

Ele se aproximou do mais novo e o encarou um instante. Apesar de serena, a expressão de Eloïs denotava o sofrimento que enfrentava em silêncio, aguçando seu lado protetor.

Inconscientemente, levou a mão até os cabelos castanhos em um tom semelhante ao seu e os acariciou. Não importava que os anos tivessem passado ou que não fossem mais crianças, pois, Eloïs sempre seria o seu irmãozinho ingênuo e temperamental.

— Estarei sempre aqui para você. — murmurou, querendo que suas palavras o alcançassem.

Disposto a deixá-lo descansar e adiar a conversa para um outro momento, Julien saiu do quarto e fechou a porta devagar para não acordá-lo, olhando-o uma última vez. Suspirou.

Aquela viagem viria bem a calhar, afinal de contas, tanto para Eloïs quanto ele próprio. Ficar três meses afastados do palácio seria a oportunidade perfeita para desatar os laços inaceitáveis que tinham criado com os gêmeos. A distância se encarregaria de extinguir aquela ligação.

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