Capítulo 20 - Afundando em um transe

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Agachado em frente a lápide, Lean fechou os olhos e fez uma breve oração. Os gêmeos, logo atrás, fizeram o mesmo. O lindo buquê de amarílis que levaram descansava sobre a grama, ao lado das flores de campo que o escocês colocara ali às pressas da última que a visitara, pouco antes de o baile acontecer. Mais especificamente, depois da breve conversa com Julien.

Estar diante do túmulo de sua amada irmã nunca era algo fácil para Lean. Porém, mesmo que a dor o dilacerasse às vezes, não deixava de vê-la sempre que fazia uma visita a casa dos Bamborough. Costumava esperar até o dia de sua partida, pois, não gostava de lidar com a realidade da morte dela mesmo depois de dez anos. Estar ali reacendia emoções com as quais não queria conviver, ainda que soubesse que, lá no fundo, estavam cravadas em seu coração.

Ao abrir os olhos, encarou o nome da irmã esculpido no mármore branco e suspirou.


Abigail Cunningham

1767 – 1802


Sentia saudades todos os dias, que só era abrandada ao estar na companhia dos sobrinhos que tanto lembravam ela. Ao menos, Hugh teve a consideração de enterrá-la dentro da propriedade e em um bom lugar. Christian e Christinie mantinham a lápide sempre bem cuidada e com flores frescas. Cuidavam com carinho daquele espaço, tendo a ajuda dos criados que também a estimavam muito. Aby, como a chamavam, era adorada por todos.

Assim como seus filhos.

— Poderiam me deixar um momento a sós com a mãe de vocês. — perguntou Lean, os olhos ainda fixos no nome da irmã.

Os gêmeos apenas acataram o pedido do tio e se afastaram para lhe dar privacidade. O ruído dos pés descalços em contato com a grama indicou ao escocês que os sobrinhos haviam saído.

Respirando fundo, Lean começou a falar:

— Estou partindo, mo phiuthar*. Ainda não sei quando irei voltar, mas espero que seja em breve. Honestamente, continuo preocupado com o que lhe contei sobre a Chrisie e o noivo da Suzanne, o Julien. Temo que ela sofra assim como você sofreu por um amor proibido. Não quero que a história se repita... — suspirou, apertando a boina que segurava — Eu vi, pelos olhares deles, que é só uma questão de tempo. Não sei o que fazer ou se devo fazer alguma coisa. Não sei.

Lean olhou para trás, querendo ter certeza de que estava sozinho, e retomou:

— Além disso, sinto que há algo mais nessa história e envolvendo o tal Eloïs, o irmão mais novo. Não me sai da cabeça a expressão que ele fez ao dançar com a Chrisie no baile.

Lean prosseguiu desabafando as preocupações com a irmã, até conferir no relógio de bolso que estava na hora de ir. Seria um longo caminho até as terras de seu clã na Escócia; fazendo o sinal da cruz e beijando os dedos para então tocar a lápide, ele se despediu e retornou ao palácio.

— Está mesmo de partida? — indagou o duque, levantando da cadeira ao ver Lean na porta.

— Tenha a decência de esperar até que eu saia para comemorar. — provocou o escocês.

Hugh esboçou um sorriso sarcástico e deu a volta na mesa para ficar de frente para o outro.

Permaneceram calados.

Lean o estudou e hesitou ao pensar naquele assunto. Como confessara a irmã, não sabia o que fazer. Deveria interceder diretamente com o duque, uma vez que não adiantara de nada conversar com Suzanne? Não, seria muito estranho se, de uma hora para a outra, resolvesse demonstrar sua desaprovação em relação ao noivado. Ele geralmente não se importava com nada referente a família além de seus sobrinhos, e, mesmo que o assunto de alguma forma envolvesse um deles, era algo que correspondia especificamente a filha mais velha.

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