Christinie descansou o livro sobre as pernas estendidas e, deitando a cabeça no tronco da árvore em que se apoiava, observou o vento derrubar as folhas secas das árvores ao redor.
Não tinha uma estação do ano favorita, gostava de todas elas e suas particularidades. O outono em Northumberland era sempre bonito, apesar de frio. As rajadas vindas da Escócia contribuíam para que o clima obrigasse todos a usarem roupas mais quentes, o que incluía a si própria. Diferente da primavera e do verão, em que podia caminhar descalça pelos jardins, botinas grossas envolviam seus pés. E trajava um redingote* vermelho, um dos poucos que pertenceram a mãe e guardava com carinho, usando em tempos como aquele.
As folhas alaranjadas formavam um bonito tapete colorido acima da relva. Ela sabia que não demoraria muito até que tudo fosse coberto pela neve branquinha e que lhe trazia boas recordações da época de infância, antes de as coisas mudarem. Antes de sua màthair* partir.
Costumeiramente, quando os primeiros flocos de neve caiam, eles saiam para agraciar a chegada do inverno e nem mesmo o frio cortante era capaz de desencorajá-los. Lembrava-se que Christian, Adelyn e ela construíam bonecos de neve com a ajuda da mãe. Augustus gostava de guerrear com bolas de neve e sempre arrastava seu tio, Lean, e Joseph para a presepada. Até Suzanne e Queeny costumavam ceder e se entregavam àquela felicidade.
Enquanto o pai assistia, com um singelo sorriso, da cadeira de balanço na varanda.
Foram épocas inesquecíveis.
Contudo, naquele momento, não eram as memórias de outros tempos que ocupavam sua cabeça, e sim os pensamentos do que estava por vir. A notícia da imprevista visita do conde e da condessa de Conserans lhe pusera apreensiva. Os pais de Julien chegariam em breve e a presença deles, embora ainda inexistente, já despertava sentimentos nada agradáveis. Seu amado parecia agitado desde que seu pai contara a novidade, e o mesmo valia para Eloïs.
Seu gêmeo contara que o amante se sentia duplamente preocupado. Tanto pelo irmão mais velho, quanto pelo fato de que a vinda dos pais também indicava um risco para eles dois.
Por que seu pai não contara antes sobre tal visita?
Por que escondera algo tão importante?
O som de passos amassando as folhas secas puxou Christinie das divagações. Ela virou e ergueu a cabeça. Se antes existia um sentimento de desconforto ou menosprezo, estes se desmancharam com o inusitado momento que compartilharam na sala de música há semanas.
Suzanne parecia acanhada ao se aproximar. As mãos estavam unidas em frente ao corpo, como se servissem para protegê-la de qualquer possível rejeição, e sua expressão era acanhada. A mais velha dos Bamborough, a cada dia que passava, demonstrava uma faceta nunca antes vista. Christinie não sabia o que tinha acontecido, porém, era óbvio que acontecera algo para incentivar essa mudança brusca de comportamento. E, embora quisesse perguntar e talvez ajudar de alguma maneira, a relação entre elas não havia avançado a esse ponto. Não ainda.
— Estou atrapalhando? — indagou Suzanne, indicando o livro.
— Oh, não. — gesticulou a ruivinha e põe-se de pé — Dei uma pausa na leitura.
A mais velha balançou a cabeça e, até então retraída, disse:
— Adelyn pediu que eu viesse chamá-la. Ela quer ajuda com o enxoval.
O jantar de noivado fora um sucesso. A mãe de Daryl, senhora Laura, acertou os detalhes do arranjo com o duque e os jovens amantes decidiram que casariam na próxima primavera.
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O Mais Belo Vermelho
RomanceJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...