Capítulo 16 - Convidado

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O céu estava particularmente bonito aquela tarde.

Límpido, sem nenhuma nuvem, somente o imenso azul que se estendia até perder de vista.

Se o clima continuasse bom daquela maneira, o final de semana prometia ser muito agradável, o que seria favorável para o baile que aconteceria, enfim, no dia seguinte. A movimentação dos criados era intensa, dentro e fora do palácio, e para onde olhasse. Todos trabalhavam arduamente para organizar os mínimos detalhes, a fim de que tudo ficasse impecável.

No entanto, apesar dos ares festivos, os ânimos em torno da família Bamborough e os irmãos Dufour estavam longe de condizer com as circunstâncias. Ainda que agissem corriqueiramente, não passava de um disfarce para encobrir os verdadeiros sentimentos que os permeavam.

Fazia uma semana desde aquele turbilhão de acontecimentos.

Eloïs passou a ficar o dia inteiro trancado no quarto ou na sala de música principal. Fugia de qualquer interação com a família e até mesmo com o irmão, dando a justificativa de que precisava focar na composição uma vez que o baile se aproximava. Mas era uma mentira.

Defrontar Christian estava cada vez mais difícil, tal como lidar com os sentimentos que insistiam em atormentá-lo. A expressão tristonha do ruivinho assombrava seus pensamentos, da mesma forma que as lembranças do que partilharam nas últimas semanas.

Ele só queria esquecer. Mas como fazê-lo?

Até descobrir tal resposta, que parecia muito distante, Eloïs se fecharia na solidão.

Afundar no trabalho era sempre a melhor saída quando não queria confrontar a si mesmo. E assim ele tocava. Dedilhava fervorosamente o piano para exteriorizar o que corrompia sua alma.

Mas o distanciamento que buscava desesperadamente estava longe de existir.

Às vezes, quando conseguia escutar a melodia, Christian escorava na porta e ficava apreciando. Nunca durava mais do que poucos minutos, visto que alguém poderia flagrar, mas era o bastante para acalentar a dor em seu peito. O ruivinho iludia-se com a falsa sensação de ainda estar perto de quem amava. Também relembrando dos belos momentos que tiveram juntos naquele cômodo escondido e que se tornara tão vazio desde que o frágil elo se quebrou.

E se as coisas andavam complicadas para Christian e Eloïs, o mesmo valia para Christinie e Julien, que ao menos haviam nomeado o que sentiam um pelo outro. Apesar de, inegavelmente, ambos nutrirem muito mais do que gostariam ou poderiam admitir.

Mesmo pedindo que ele fosse seu amigo, Christinie sabia que desejava além da amizade. Além dos beijos escondidos com Aeryn ou dos toques inocentes que trocaram. Era como se, em todas as vezes que estava perto de Julien e seus olhares se encontravam, algo se inflamava em seu interior. Quase como uma febre que a tomava indecorosamente em partes que não podia dizer.

Era um desejo ambicioso, egoísta.

Que crescia... Crescia...

Possuía... Dominava...

E ela tinha que freá-lo antes que a engolisse por completo.

Por isso, tê-lo como amigo deveria ser mais do que o suficiente, já que não passariam disso. Continuaria tratando-o com gentileza, do mesmo modo que trataria qualquer outra pessoa, e ficaria feliz em ser retribuída com nada mais do que a modéstia que ele poderia lhe dar.

Mal sabia Christinie que o desejo do qual tanto fugia era o mesmo que Julien sentia.

O Dufour mais velho via-se angustiado com o anseio crescente que agarrava suas entranhas. Era incontrolável, violento.... Apavorante! Como conseguia sentir tantas coisas em tão pouco tempo e não morrer? Como alguém era capaz de sobreviver com tantas emoções dentro de si?

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