Capítulo 52 - Segredos que retornam

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— Estou ficando preocupado. — confessou Julien, enquanto caminhava ao lado do irmão, rumo ao bosque — Por que nosso pai ainda não respondeu a carta que enviei?

— Sabe que essas coisas demoram. Estamos muito longe de casa. — respondeu Eloïs.

— Mas já passou tempo o suficiente. Não creio que a carta tenha sido extraviada. — desviou de um galho caído no chão e suspirou — Algo me diz que chegou a ele. Eu sinto isso.

Desde a conversa que tivera com Lean, naquele inusitado encontro, não conseguia parar de pensar no que ele dissera antes de partir sem qualquer explicação: "Mesmo que esteja esperando por uma oportunidade, lembre-se que, às vezes, agir é a melhor solução. Porque, no fundo, não há momento certo e as oportunidades se vão antes que dê conta".

Ele queria resolver a situação de forma pacífica, ainda que se mostrasse uma tarefa realmente difícil. Não queria magoar sua noiva e nem criar empecilhos que pudessem atrapalhar ou até impedir seu casamento com Christinie. Mas, no fundo, Julien tinha consciência de que estava cegado pela apreensão. Era tolice acreditar que, sendo cauteloso, conseguiria minimizar os danos de sua decisão. Suzanne possivelmente ficaria bastante ofendida com tal desfeita e o duque não aceitaria de bom grado desenlaçar aquele noivado de quase um ano para, em seguida, ceder a não da filha caçula. Seria otimismo demais pensar que tudo se resolveria assim.

Talvez pudesse apelar para o passado de Hugh, que também se apaixonou imprudentemente por uma mulher que não era sua esposa e entendia como deveria se sentir, mas sabia que não poderia escapar das consequências ou do sentimento de decepção que receberia do duque.

E quanto a seu pai, ah, essa seria uma catástrofe a parte.

Ele não aceitaria facilmente que, no pior dos casos, abdicasse de sua posição como herdeiro para ficar com sua ruivinha. Já que o detalhe da infertilidade agravaria tudo. Afinal, como primogênito e até então herdeiro, era seu dever manter viva a linhagem dos Dufour com seus filhos. Logo, casar-se como uma mulher incapaz de conceber acarretaria numa enorme afronta aos seus pais, e não duvidava que fariam o possível e o impossível para impedi-lo.

Definitivamente, considerou, resolver de maneira pacífica era uma mera ilusão.

Por isso que pegava-se matutando tanto as palavras de Lean. Porque esperar o momento certo era apenas adiar o inevitável. Talvez agir tivesse sido a melhor opção desde o início.

Esperar a resposta de seu pai, em verdade, não faria qualquer diferença.

Vendo que o irmão se calara de repente e parecia perdido na confusão dos próprios pensamentos, Eloïs tocou gentilmente em suas costas para chamar a atenção, e disse:

— Você não precisa se martirizar por fazer o que achava certo.

— Eu sei. Mas as coisas já teriam se resolvido, caso eu...

— Ou não, Juli. — cortou-o — Ou estariam mais complicadas do que agora.

— Tudo o que eu queria era resolver de modo que ninguém saísse ferido. Especialmente Suzanne que, apesar dos pesares, não tem culpa de nada. Mas é impossível uma decisão dessas não gerar consequências. Pensar que agir cautelosamente iria diminuir as chances de uma balbúrdia foi estupidez. — Julien torceu os lábios e confessou — Eu só estava com medo.

— Te julgaria um tolo se não estivesse. Porque eu também estou. Por nós dois.

Eles percorreram mais alguns metros em silêncio, isso até Eloïs comentar:

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