— Temos que tomar uma providência. — disse Eloïs, categórico — Os dois estão sofrendo e são orgulhosos demais para tomarem uma maldita iniciativa.
— Não creio que orgulho seja o problema. — suspirou Julien — Christian está enfrentando uma situação complicada e Christinie se sente responsável pelo acidente dele. Nenhum dos dois sabe realmente como lidar com suas emoções.
O mais novo respirou fundo e concordou; seu irmão retomou:
— Além disso, já tentei conversar diversas vezes com a Chrisie, mas ela parece não ouvir uma palavra do que falo. O remorso impede que reflita direito sobre o assunto.
— A mágoa e a frustração estão fazendo o mesmo com o Chris.
O silêncio predominou brevemente.
Julien devolveu a pena ao tinteiro e virou para observar o caçula.
— Estou tão preocupado quanto você, El, mas o que poderíamos fazer? Infelizmente, esse é um assunto que somente eles poderão resolver.
— Não estou dizendo para resolvermos, e sim para ajudá-los nesse processo.
Ciente de que a mente sagaz do irmão fumegava em pensamentos, o mais velho cruzou os braços de modo quase desleixado, e aguardou. Entre ambos, sem dúvidas, Eloïs era o melhor em encontrar soluções imprevisíveis; as palavras seguintes o fizeram erguer as sobrancelhas.
— E se déssemos a eles um outro ponto de vista?
— Como assim?
— Talvez, se trocarmos de lugar, eles possam assimilar de maneira diferente.
— Você falar com a Christinie e eu com o Christian?! É isso?
— Exatamente. — acercou-se um pouco mais — Conheço os temores de Christian e você os de Christinie. Se fizermos o que proponho, quem sabe consigamos que eles entendam os sentimentos um do outro. Às vezes, não somos capazes de enxergar nossas próprias atitudes diante de um problema, sendo necessário que alguém de fora abra os nossos olhos.
Julien ponderou. Até que não era uma ideia ruim.
Sendo os quatro confidentes e amigos, poderia funcionar, e assim os gêmeos resolveriam seus problemas. Faziam dias que estavam desentendidos e era horrível vê-los tão amuados. Todos no palácio já haviam percebido que os ânimos entre os dois não eram dos melhores.
— Tudo bem. Vamos tentar. — concordou o mais velho — É a melhor opção que temos.
Eloïs sorriu e deu batidinhas no joelho do irmão, contente que aceitara sua sugestão. Ainda que não fosse necessariamente um problema que devessem se intrometer, conversar não poderia piorar a situação – ou, ao menos, era o que acreditavam. Esperavam que não.
Uma vez que combinaram de entrar em ação naquela mesma tarde, a fim de não perder mais tempo e aproveitando que o duque estaria fora a trabalho outra vez, Julien falou:
— Vamos voltar a trabalhar, sim?! O senhor Hugh precisa desses papéis antes de sair.
Encarregado de calcular e anotar os rendimentos nos documentos que o duque levaria a um de seus novos arrendatários, o Dufour mais novo consentiu, e tomou assento novamente. Os dois se concentraram no serviço ao longo da hora seguinte, com a intenção de livrarem-se das obrigações para focarem totalmente na inusitada missão de aconselhar seus amantes.
Rabiscando os cálculos, Eloïs parou de repente, e murmurou para si mesmo:
— Ora, porque os números não coincidem?
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O Mais Belo Vermelho
RomantizmJulien Dufour está enredado em um casamento arranjado com a filha mais velha do Duque de Northumberland, amigo de longa data e sócio de seu pai. Sabendo de seus deveres como primogênito e herdeiro, ele nunca se opôs a ideia de expandir os negócios a...