Capítulo 53 - Castelo de cartas

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Oito anos.

Faziam oito anos que Hugh não via ou tinha notícias do segundo filho. Tanto que, por vezes, imaginara o pior. Augustus era praticamente um rapazote quando saiu de casa, deveria ter a idade de Julien na época. Porém, naquele instante, estava diante de um homem. Com traços marcantes e a expressão de quem havia enfrentado muito nos últimos anos.

O olhar endurecido pelo tempo e pela dor.

Ainda não sabia o que sentir exatamente com aquele reencontro ou mesmo o que tinha acontecido. Para todos, Augustus fugira de casa por causa daquela mulher, mas não era necessariamente verdade. Logo, tê-lo de volta lhe trouxe duas certezas: seu filho não era mais o mesmo e a real história por trás de sua fuga acabaria vindo à tona em algum momento.

Ninguém se moveu ou falou durante longos segundos. O que deveria ser uma alegre reunião de família, mostrou-se exatamente o contrário. Os ares nunca estiveram tão sombrios, pesados.

Definitivamente, pensou Julien, aquela pintura em Londres era uma ilusão.

Um retrato do que as pessoas esperavam ver e não existia.

— Olá, pai. Quanto tempo. — Joseph rompeu o silêncio sepulcral do cômodo — Eu deveria ter enviado uma carta, avisando de nossa chegada, mas as circunstâncias não permitiram. Perdão.

Hugh pôs a mão no ombro do primogênito, num dizer mudo de que estava tudo bem, e, imediatamente, sua atenção voltou-se para Augustus. Se entreolharam; a tensão retornando.

— Pai. — foi tudo o que Augustus disse, meneando a cabeça.

— Olá, meu filho.

A animosidade entre os dois era palpável. Quem estava ali presente conseguia notar.

De repente, risos e vozes ecoaram do corredor, avançando em direção a sala. Tanto Julien quanto Eloïs olharam para a porta, esperando que os gêmeos entrassem, só não imaginavam que estariam acompanhados justamente dos garotos que ajudaram mais cedo. E então, num relampejo de entendimento, os irmãos se deram conta de quem àquelas crianças eram.

Filhos de Augustus Bamborough, portanto, netos do Duque de Northumberland.

Os meninos soltaram as mãos de Christinie e correram até o pai, tagarelando alegremente sobre as gostosuras que ganharam das empregadas e como aqueles "moços" de cabelo alaranjado eram divertidos. Augustus ergueu a cabeça para fitar os gêmeos, que deixara para trás custosamente quando ainda eram pequenos, e não tinham qualquer noção da vida ou do mundo.

Um misto de espanto e contemplação lhe invadiu. Eles haviam crescido bem. Ainda mantinham a mania de vestirem-se com as mesmas roupas e eram tão parecidos quanto lembrava. Até mais, considerando que imitavam o mesmo corte de cabelo. Praticamente um a cópia do outro.

A reação dos gêmeos ao reconhecerem o irmão que não viam há anos, foi de assombro. Augustus estava diferente, embora conservasse traços do rapaz que corria com eles pela pradaria e ensinava as mais divertidas brincadeiras. Que tocava primorosamente violoncelo e se metia em confusão, e era extremamente gentil. Endiabrado, porém, com um enorme coração.

Em seguida, contradizendo a tensão que predominava, Christinie e Christian foram de encontro ao irmão, que deu um passo à frente e abriu os braços instintivamente para recebê-los. Apesar de tudo o que aconteceu e o que sabia, os gêmeos jamais tiveram culpa, assim como Abigail. Augustus amava os caçulas, independentemente da história por trás de seus nascimentos, e ficara deveras entristecido por abandoná-los, assim como suas outras irmãs. Mas não teve escolha. Florence fora a razão de sua existência, e, além de seu amor proibido, os segredos que descobrira empurraram-no para longe do palácio. Tomara um caminho de mão única.

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