Luxúria

Cap 1

Outubro de 2019

O cheiro de café me fez despertar com mais ânimo. Por um momento me permiti inspirar o cheiro delicioso que escorria pelos cômodos do apartamento e umedeci os lábios já pressentindo o sabor delicioso do café de Mike.

Sim, eu tinha certeza que ele era quem estava na cozinha.

Valentina não sabia nem pôr uma água pra ferver sem acabar se distraindo com qualquer coisa e deixando tudo queimar - ou evaporar.

Não. Era Mike. Michael sempre fazia café para mim as segundas e eu adorava isso.

Ele adorava me mimar.

Me levantei com um sorriso no rosto, apesar de saber que teria pouco tempo para saborear o banquete. Eu tinha que ir trabalhar, o Senhor Bruno estava saindo de férias com a esposa e havia me escalado para cuidar de sua agenda - que agora passaria a ser a agenda de seu filho.

Eu, provavelmente, trabalharia dobrado.

− O seu ogro está na cozinha. - Valentina disse, quando nos encontramos no corredor.

Ela parecia ainda sonolenta, mas não perdia a chance de demonstrar seu descontentamento.
Ela odiava as noites que Mike dormia aqui e fazia questão de deixar claro que preferia comer formigas a sentar-se à mesa de café da manhã com ele.

Apenas suspirei. Resignada.

− Bom dia, flor do dia! - Falei, sorrindo, indiferente a sua careta.

− Eu nunca vou entender... - Suspirou, dai baixou o tom de voz, como se fosse falar algo altamente confidencial. - Como você agüenta? Sabe, esse cara... - Parou de falar deixando no ar palavras que eu conhecia bem. - Irmã, ele mal fala com nossas amigas, parece sempre alheio, como se fôssemos menos que ele. É tão chato.

Eu sabia ao que ela se referia.

Na noite anterior havíamos nos reunido para um dia de garotas e, quando Mike chegou, estávamos levemente bêbadas, rindo a toa, falando bobagens; porém, ele não havia esboçado uma reação muito acolhedora, preferindo se trancar no meu quarto e esperar.

Foi apenas isso.

Valentina adorava dramatizar.

− Ele tinha passado o dia revisando documentos, mesmo sendo domingo. - Expliquei.

Michael trabalhava numa multinacional, mas ainda era apenas um estagiário, precisava se esforçar para chegar longe, por isso não se importava de trabalhar aos domingos, mas isso acabava lhe deixando esgotado e um pouco estressado.

Eu entendia.

Do corredor que estávamos, eu podia ouvi-lo cantarolando algo enquanto, provavelmente, terminava de checar as torradas.

− E daí? - Ela deu de ombros. - Eu o agüento toda segunda logo cedo e nem por isso saio dando patadas nas pessoas.

Massageei minhas têmporas.

Cedo demais para brigas.

− Eu te amo! - Falei, desistindo da discussão, lhe dando um beijo estalado na bochecha. - Bom dia!

E sai andando depressa antes que ela resolvesse falar mais alguma coisa.

Depois que sai do corredor, me guiando pelo cheiro de comida, vi Mike rente a mesa, bebericando seu café enquanto assistia ao jornal da manhã.

Pelo visto seria um dia chuvoso aqui no Rio de Janeiro - pelo menos era o que a mulher do tempo dizia. Não que eu acreditasse, geralmente eles erram.