Cap 20

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Eu não tinha muitos amigos no Brasil. A maioria dos meus amigos estavam na Argentina e na Itália e raramente os via, apenas pela internet.
Mas tinha alguém, um velho conhecido, que eu considerava como irmão e que havíamos retomado contato nos últimos tempos.

Jorge.

Jorge e eu nos conhecíamos desde criança e entre idas e vindas pro Brasil, sempre estávamos juntos e compartilhando histórias.

Recentemente ele havia se casado e Paola, sua esposa, estava grávida do primeiro filho.

E, assim que sai do prédio da Karol, foi para casa deles que eu dirigi.

Eu estava com a foto pousada no banco do carona e, sem dúvida, Jorge e Paola deviam ter algum porta-retrato. Eles iriam me emprestar e tudo ficaria bem.

Só precisava de um porta-retrato.

Assim que parei o carro na porta da casa deles, desci com a foto na mão e apertei a campanhia algumas vezes, até que ouvi um grito vindo de dentro da casa e parei.

Meus olhos estavam pesados e minha cabeça doía.

─ Ruggero?

Jorge me encara com os olhos semicerrados, talvez não acreditando na minha visita repentina.

─ Você tem um porta-retrato? – Ergo a foto que está na minha mão.

Ele me observa um pouco, atento.

Por fim balança a cabeça.

─ Acho que a Paola tem alguns. – Sorri amarelo. – Entra, você está precisando de uma bebida e de um amigo.

Não falo nada, pois ele tem toda razão.

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A casa de Jorge é enorme e arejada. Eu sabia que ele e Paola eram do tipo que andam por ai levantando a bandeira da natureza e protestando nas ruas pelo meio ambiente, por isso não estranhei o tanto de flores e plantas espalhadas pela casa.

Nos sentamos no sofá na sala e ele me serve um copo de água e quando franzo o cenho, ele apenas dá de ombros.

─ Desde que ela engravidou, não entra mais bebidas nessa casa. – Explica. – Mas tem bastante lata de leite na dispensa, se quiser, posso improvisar algo pra você. Pode ser nossa cobaia.

Nego veementemente e acabo rindo.

─ Acho que a água é mais que suficiente.

Jorge ri, mas sei que está me analisando, pois está com aquele olhar que sempre fazia quando estava me pegando na mentira ou questionando minhas desculpas.

─ O que aconteceu, Ruggero?

Bebo um gole generoso da água e depois descanso o copo na minha perna.

─ Estava com saudades de você. – Minto descaradamente e escancaro um sorriso no rosto.

─ Não seja ridículo! – Estala a língua. – Você está tendo problema com alguma mulher, né?

Me remexo no sofá, subitamente desconfortável.

─ Está tão na cara assim?

Ele arqueia a sobrancelha daquele jeito que diz que me conhece bem o suficiente para ler isso na minha expressão sem que eu precise abrir a boca.

Relaxo os ombros.

─ Vai falar ou está esperando um convite formal?

Rolo os olhos me sentindo coagido.

LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora