Cap 9

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Quando eu tinha dez anos me apaixonei e o nome dela era Camile.

Foi o meu primeiro amor; aquele amor platônico que a menina nem sabe da sua existência, muito menos percebe seus sentimentos. Era um amor com gosto de sorvete de chocolate em pleno verão escaldante, era puro e cheio de ilusões, porém, quando o outono chegou, ela havia se mudado de escola e nunca mais a vi.

Foi terrível. Lembro-me até hoje de ter praguejado o amor e decidido que nunca mais me apaixonaria por ninguém, mas, três meses depois, quando o inverno apareceu, lá estava eu me apaixonando perdidamente – dessa vez por Alicia, uma menina de onze anos que tinha cabelos alaranjados, na verdade, eram ruivos.

Mas nesse caso, Alicia era doce, gentil e conversava comigo. Ela até ria das minhas piadas ruins. Eu amava o som da risada dela.
Meu pai, naquele tempo, havia me dito para falar para ela o que sentia, que ia ser bom para ambos.

E foi o que eu fiz.

No dia seguinte, comprei pipoca doce – a preferida dela – e a encontrei no pátio da escola, como sempre. Ela estava desenhando algo em seu caderno e sorrio para mim, meu coração parou, porém eu segui.

Mas quando eu ia lhe contar – de verdade, eu ia mesmo – ela me falou que seus pais estavam se separando e, de um segundo para o outro, começou a chorar. Ela chorava muito, muito mesmo, eu nem conseguia entender de onde vinha tanta lágrima.

Seu pai ia embora naquele dia.

Lembro-me vagamente de ter ficado lá, parado, mudo, sem reação.
Sua dor havia me acertado em cheio e eu apenas lhe entreguei a pipoca e prometi que tudo ficaria bem.

Mas não ficou.

Alicia foi embora com a mãe para outro estado e nunca mais a vi.

Meus próximos "amores" não foram muito diferentes, talvez menos intensos, mas sempre acabavam em despedidas bruscas.

Acho que foi por isso que decidi me dedicar ao mesmo ramo dos meus pais, o ramo do prazer.

Quando você transa com alguém, quando ambos trocam prazeres e, de verdade, aproveitam o momento, as despedidas não são a parte mais importante, pois o melhor momento foi na cama, quando os corpos suados se entrelaçavam e exalavam não apenas suor, mas também desejo, luxúria, memórias perpetuas.

Sexo, para mim, era muito melhor que amor.

Mas uma coisa havia me intrigado no dia em que Karol saiu do meu escritório depois de ter chorado nos meus braços; naquele dia, não foram as memórias da noite que tivemos que ficaram na minha cabeça, mas sim a dor que vi transpassar seus olhos.
Uma angústia esquisita me deixou mal naquele momento, de repente, me lembrei das lágrimas de Alicia e de como eu me senti impotente, mas agora era mil vezes pior.

Eu era um adulto. E um adulto deveria saber o que fazer.

Mas eu não sabia.
O Ruggero criança me olharia feio e balançaria a cabeça inconformado com minha performance, mas eu não tive muita escolha.

Vê-la chorando daquela forma, foi muito ruim.

Foi por isso, que uma idéia surgiu em minha mente e eu já estava pensando em como executá-la quando bateram na porta e por um instante pensei que Karol havia voltado, porém, quando mandei que entrassem, não era ela.

Na verdade, eu nem me lembrava do nome da tal mulher, mas sabia que ela era secretária de alguém.

Mas o nome...

─ Candelária. – Ela disse sorridente quando perguntei. – O senhor não lembra? Eu estava limpando a sala quando o Senhor Bruno te trouxe daquele dia. No primeiro dia que... Bom, que você começou aqui.

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