Valu deslizava a escova pelo meu cabelo molhado enquanto eu brincava com um fio solto do meu vestido; ela cantarolava e vez ou outra depositava um beijo no meu ombro.
Quando éramos crianças, ela adorava pentear meus cabelos enquanto conversávamos sobre algum garoto ou até sobre algo que aconteceu na escola; Vó Margô sempre sorria quando nos via juntas e cuidando uma da outra.
Ela nos ensinou que independente de qualquer coisa, sempre teríamos uma a outra e isso seria nosso porto seguro.Valu era e sempre será meu porto seguro.
─ Você lembra do espelho da mamãe? – Valentina perguntou assim que fez uma pausa em sua cantoria. – Aquele espelho que a Vó Margô guardou mesmo depois que ela se foi. Lembra?
Eu me lembrava.
Aquele espelho havia sido dado pelo meu pai; era um espelho pequeno e redondo, cabia na palma da mão e na parte de trás era da cor de ouro e tinha uma frase gravada. Uma linda frase.─ "A visão mais bonita do mundo." – Citei, recordando da frase atrás do espelho. Sorri com a recordação. – Eles se amavam tanto.
Minha irmã para de pentear meu cabelo e sinto a cama balançar quando ela desce e corre na direção da cômoda ao lado de seu guarda-roupa.
Estávamos em seu quarto, pois ela sempre me deixava dormir com ela quando eu não estava bem, e vice e versa.─ Olha só. – Ela se vira na minha direção com o pequeno objeto na mão. O espelho. – Eu trouxe quando a gente se mudou pra cá.
Um sorriso gigante cresceu no meu rosto e fiquei paralisada encarando aquele objeto tão cheio de significados e lembranças.
Quantas vezes minha mãe se olhou naquele espelho? Quanto pensamento não tinha em sua cabeça? Quanto sorriso esboçou se olhando ali... Eu daria qualquer coisa para vê-la só mais uma vez.
─ É tão bonito.
Valu assentiu enquanto sentava ao meu lado na cama.
─ Vem cá, maninha. – Ela me puxou para que eu me deitasse e fez o mesmo, logo depois encostou a cabeça na minha e dessa forma nossos rostos apareciam no espelho. ─ A visão mais bonita do mundo, não acha?
Meus olhos ainda estavam avermelhados por causa do choro e meus lábios pareciam levemente inchados, mas naquele momento eu me sentia relativamente melhor; estávamos com algo que foi dos nossos pais, que provavelmente os uniu ainda mais e, sinceramente, eu só conseguia sorrir.
─ A visão mais bonita do mundo. – Sorri.
─ Irmã, não importa onde estejamos e nem o que aconteça em nossas vidas, por que sempre, sempre, sempre teremos uma à outra e isso é o que importa.
Eu encarava seus olhos azuis pelo reflexo e assentia.
─ Eu sei disso.
Ela baixou o espelho e se virou de lado para ficar de frente pra mim.
─ Você precisa denunciar aquele crápula.
Por um momento eu pensei em sair dali e ignorar aquilo. O pavor me consumia só em pensar que todos saberiam o que passei e, pior, que eu teria que vê-lo de novo.
E se ele viesse atrás de mim para revidar?
Mesmo que meu coração ainda não tivesse deixado de amá-lo completamente, eu morria de medo.─ Não posso fazer isso. – Murmurei. – Eu não posso denunciar o Michael. Tenho medo, Valu. Muito medo.
Valentina acariciou minha bochecha e com esse gesto afastou uma lágrimas que escorria pelo meu olho.
─ Eu sei que é difícil e nem estou pedindo que pense ou faça isso agora, mas... Karol, e se ele fizer o mesmo com outra mulher? Irmã, eu acho que você pode ajudar a parar esse cretino.

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Luxúria
FanfictionSINOPSE LUXÚRIA: "Três anos atrás Karol havia feito uma coisa que se arrependia amargamente; ela havia traído o, até então, namorado. Pensar nisso a fazia ter dores de cabeça. Trair significava que ela não era a mulher perfeita que Michael esperava...