Cap 22

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Valu deslizava a escova pelo meu cabelo molhado enquanto eu brincava com um fio solto do meu vestido; ela cantarolava e vez ou outra depositava um beijo no meu ombro.

Quando éramos crianças, ela adorava pentear meus cabelos enquanto conversávamos sobre algum garoto ou até sobre algo que aconteceu na escola; Vó Margô sempre sorria quando nos via juntas e cuidando uma da outra.
Ela nos ensinou que independente de qualquer coisa, sempre teríamos uma a outra e isso seria nosso porto seguro.

Valu era e sempre será meu porto seguro.

─ Você lembra do espelho da mamãe? – Valentina perguntou assim que fez uma pausa em sua cantoria. – Aquele espelho que a Vó Margô guardou mesmo depois que ela se foi. Lembra?

Eu me lembrava.
Aquele espelho havia sido dado pelo meu pai; era um espelho pequeno e redondo, cabia na palma da mão e na parte de trás era da cor de ouro e tinha uma frase gravada. Uma linda frase.

─ "A visão mais bonita do mundo." – Citei, recordando da frase atrás do espelho. Sorri com a recordação. – Eles se amavam tanto.

Minha irmã para de pentear meu cabelo e sinto a cama balançar quando ela desce e corre na direção da cômoda ao lado de seu guarda-roupa.
Estávamos em seu quarto, pois ela sempre me deixava dormir com ela quando eu não estava bem, e vice e versa.

─ Olha só. – Ela se vira na minha direção com o pequeno objeto na mão. O espelho. – Eu trouxe quando a gente se mudou pra cá.

Um sorriso gigante cresceu no meu rosto e fiquei paralisada encarando aquele objeto tão cheio de significados e lembranças.

Quantas vezes minha mãe se olhou naquele espelho? Quanto pensamento não tinha em sua cabeça? Quanto sorriso esboçou se olhando ali... Eu daria qualquer coisa para vê-la só mais uma vez.

─ É tão bonito.

Valu assentiu enquanto sentava ao meu lado na cama.

─ Vem cá, maninha. – Ela me puxou para que eu me deitasse e fez o mesmo, logo depois encostou a cabeça na minha e dessa forma nossos rostos apareciam no espelho. ─ A visão mais bonita do mundo, não acha?

Meus olhos ainda estavam avermelhados por causa do choro e meus lábios pareciam levemente inchados, mas naquele momento eu me sentia relativamente melhor; estávamos com algo que foi dos nossos pais, que provavelmente os uniu ainda mais e, sinceramente, eu só conseguia sorrir.

─ A visão mais bonita do mundo. – Sorri.

─ Irmã, não importa onde estejamos e nem o que aconteça em nossas vidas, por que sempre, sempre, sempre teremos uma à outra e isso é o que importa.

Eu encarava seus olhos azuis pelo reflexo e assentia.

─ Eu sei disso.

Ela baixou o espelho e se virou de lado para ficar de frente pra mim.

─ Você precisa denunciar aquele crápula.

Por um momento eu pensei em sair dali e ignorar aquilo. O pavor me consumia só em pensar que todos saberiam o que passei e, pior, que eu teria que vê-lo de novo.
E se ele viesse atrás de mim para revidar?
Mesmo que meu coração ainda não tivesse deixado de amá-lo completamente, eu morria de medo.

─ Não posso fazer isso. – Murmurei. – Eu não posso denunciar o Michael. Tenho medo, Valu. Muito medo.

Valentina acariciou minha bochecha e com esse gesto afastou uma lágrimas que escorria pelo meu olho.

─ Eu sei que é difícil e nem estou pedindo que pense ou faça isso agora, mas... Karol, e se ele fizer o mesmo com outra mulher? Irmã, eu acho que você pode ajudar a parar esse cretino.

LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora