O ronronar dos gatos, aquela vibraçãozinha no peito do bichano, que ouvimos quando ele está confortável ao nosso lado, é cientificamente comprovado que pode diminuir a pressão sanguínea e, não à toa, quarenta por cento dos donos de gatos tem menos chances de ser acometido por um ataque cardíaco.
Acho que li isso em algum site sobre a saúde e sobre os riscos e benefícios em ter animais quando decidi que iria adotar um gato, mas acabei deixando a idéia de lado, pois Mike era alérgico ao pelo do animal.
Entretanto, enquanto Ruggero acariciava meus cabelos e sua respiração me acalmava, imaginei se era assim que os animais nos curavam, por que eu tinha a sensação que o abraço de Ruggero estava me acalmando, baixando meu nervosismo, amenizando os números da minha pressão.Meu corpo estava voltando aos eixos, mesmo que as lágrimas continuassem caindo.
Respirei pesadamente e me desvencilhei de seu abraço; ele levou o polegar até minha bochecha e enxugou algumas lágrimas.
─ Sente-se melhor?
Assenti ligeiramente, pois eu sabia que estava bem, mas ao mesmo tempo temia a angustia que viria assim que eu cruzasse a porta do escritório.
─ Sim. – Funguei me afastando. – Obrigada e desculpa.
Ele franziu o cenho.
─ Pelo quê, coração?
Havia tanta doçura em sua voz que minhas pernas por um momento esqueceram que deviam funcionar e precisei me apoiar no tampo da mesa, mas logo balancei a cabeça e me afastei para mais longe, como se a distância o impedisse de me afetar.
Eu amava Mike e precisava me acertar com ele e, sinceramente, ficar aqui me deixando afetar por Ruggero não me ajudaria.
─ O senhor não precisava ter feito isso. – Tossi. – Eu posso me retirar?
─ Karol... – Ele ia, ia mesmo, tocar no meu braço, mas desistiu no meio do caminho. Ele não iria me tocar até que eu pedisse. O abraço havia sido apenas um ato de solidariedade. ─ Tire o resto do dia de folga. Pode ir, eu tenho tudo sob controle aqui.
Balancei a cabeça negando veementemente. Eu não iria aceitar isso, por mais que estivesse fisicamente mal e emocionalmente estraçalhada, eu não deveria colocar o trabalho de lado; e ir pra casa e ficar sozinha lá, esperando algo de Mike, só ia me deixar pior.
─ Não quero ir. E-eu... Eu não quero ficar sozinha. – Confessei. – Além do mais, trabalho é trabalho.
Ruggero ria, mas não havia humor em seu riso. Talvez houvesse compreensão.
─ Então, como trabalho, eu quero que você vá passear, tome um sorvete, vá à praia... Não sei, mas ficar aqui, não vai te fazer bem, coração.
─ Não me chame assim, Ruggero. Não somos amigos. – Ralhei, pois aquele apelido estava me dando nos nervos. – E, não adianta, eu não vou sair.
Enxuguei o rosto com as costas das mãos.
Precisava voltar à minha mesa, talvez Michael tivesse respondido algo.
Ruggero deu a volta e sentou-se em sua imponente cadeira, pegou uma caneta e ficou mordendo a tampa; depois assentiu.
─ Não te dei opções, você está suspensa por hoje. Apenas vá e, pelo menos uma vez na vida, pense em si mesma, esquentadinha.
Eu quase, quase mesmo, revirei os olhos para aquele outro apelido idiota, mas me contive.
─ Você é impossível! – Protestei.

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Luxúria
FanfictionSINOPSE LUXÚRIA: "Três anos atrás Karol havia feito uma coisa que se arrependia amargamente; ela havia traído o, até então, namorado. Pensar nisso a fazia ter dores de cabeça. Trair significava que ela não era a mulher perfeita que Michael esperava...