Cap 35

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Eu devo ter desmaiado por alguns segundos, mas ainda consegui sentir o impacto na lataria do carro quando ele acertou o poste; alguns carros buzinaram e o Airbag estourou no meu rosto, machucando meu nariz e me desorientando mais ainda.

O sangue escorria lentamente do meu nariz quando desafivelei o cinto e abri a porta com toda a força que ainda tinha.

Alguém se aproximou gritando para chamar uma ambulância, mas eu fiz um gesto negativo e expliquei – como pude – que estava bem, porém um pouco desnorteado, apenas isso.

Puxei o telefone do bolso, pois ele estava tocando loucamente e mesmo sem ler o nome atendi.

Jorge soou preocupado do outro lado da linha.

─ Ruggero?

Franzi o cenho. Minha cabeça estava latejando e saia fumaça do capô da Mercedes, sem contar que muitas pessoas se aproximavam e falavam ao mesmo tempo; um engarrafamento começava a se formar.

─ Jorge.

─ Cara, como a Karol está? Seus pais estavam me ligando, pois não conseguiam falar com você. Como assim ela foi pro hospital? Está tudo bem com o bebê?

Meus pais.

Sim, lá no fundo eu me lembrava de ter avisado a eles que estava indo até o hospital ver a Karol. As lembranças eram confusas, mas eu tinha avisado pouco antes de sair correndo do apartamento.

─ Ela perdeu nosso filho. – Murmurei.

Sim. Ela tinha perdido. Não foi um pesadelo.

Uma chuva fina começava a cair quando ouvi a sirene do carro da polícia se aproximar e só então me dei conta da gravidade das coisas.

Eu tinha provocado um acidente.

─ Porra! Sinto muito, irmão.

─ Jorge?

─ Fala, mano, pode falar.

Limpei o nariz com as costas da mão e senti uma leve tontura me acometer.

Karol.

Karol.

─ Preciso que venha me encontrar. – Olhei ao redor. ─ Eu sofri um acidente.

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Jorge havia chegado mais rápido do que seria possível, mas eu agradeci.

A policia fazia muitas perguntas e me obrigaram a fazer o teste do bafômetro, mesmo que eu dissesse que não estava bêbado.
Jorge havia explicado toda a situação para eles, pois eu não estava em condições.

O mundo parecia fora de foco vez ou outra e minha cabeça latejava tão forte que temia desmaiar se ousasse respirar mais profundamente.

Por fim, como eu não tinha machucado ninguém – além de mim mesmo – e não estava bêbado, a polícia havia me deixado ir, mas eu precisaria comparecer a delegacia logo com um advogado, pois havia danificado o poste de luz e precisaria pagar o conserto, mas isso era o de menos no momento.

Logo depois o guincho veio buscar meu carro e o seguro pagaria tudo; Jorge havia me oferecido uma carona e eu tinha aceitado. Ele queria me levar a um hospital para que me examinassem, pois meu nariz continuava sangrando, mas eu não queria.

Eu não merecia cuidado nenhum.

Ainda era culpa minha a perda do nosso bebê.

─ Eu não acredito que está se culpando por isso, Ruggero! – Jorge falou quando parou no sinal vermelho. ─ Isso não é culpa de ninguém. Infelizmente é uma coisa que não podemos prever... Como você mesmo disse ainda pouco, foi um aborto espontâneo.

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