Prólogo 1/2

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Outubro de 2016

Não ia dar certo. Definitivamente isso não iria dar certo.

Eu estava seguindo Valentina pelas calçadas movimentadas que nos levaria até a entrada do clube a sós. Um clube de mulheres onde estava rolando a despedida de solteira da Malena, nossa amiga – bem, mais amiga da Valentina do que minha –, mas como minha irmã jamais me deixaria em casa remoendo minhas dores e angústias, lá estava eu seguindo-a para dentro do clube logo após mostrar nossas identidades a um segurança que nos mediu de cima a baixo, depois sorriu.
Era sensual.

Deus, onde eu me meti?

Valentina agarrou minha mão e me guiou pelo corredor que nos levaria, segundo ela, até o salão onde estava ocorrendo a reunião, a festa, a pegação.
Mesmo antes de entrar no tal salão eu já conseguia ouvir uma música lenta, sedutora, convidativa, daquelas que te faz querer tirar a roupa ali mesmo; olhei para Valu, mas ela estava sorrindo para alguém, depois acenando. Segui seu olhar, eram as convidadas e a noiva.

− Eu sou uma ótima madrinha! – Valentina disse, enquanto nos aproximamos de todas.

O lugar era belíssimo, muito intimo, elegante até.
Eu precisaria admitir que estava errada quando pensei que seria como aqueles cabarés que vemos nos filmes, aqueles bem feios onde as pessoas estão se esfregando uma nas outras, passando as mãos em lugares onde não se deve.

Mas ali não.

Apesar de ser um clube onde tudo acontecia – pelo menos era isso que dizia no site – o lugar era sóbrio, com cores brincando entre o vermelho escuro e o vermelho mais sutil; havia mesas espalhadas por todo salão, de frente para uma passarela com um pole dance no meio. Tudo exalando um cheiro adocicado, mas não enjoativo, como se tudo fosse preparado na medida.
Nada exagerado, nem as luzes que eram fracas, nem a música sedutora – nem mesmo a voz que cantava parecia preocupada com algo, era como se estivesse tendo um orgasmo lento e muito ansiado. Era como se estivesse tentando seduzir quem ouvia.

Fui trazida de volta pelos risos das madrinhas e da noiva que bebia goles longos de algum champanhe que nunca caberia no meu orçamento.
Malena era rica, muito rica, mas isso não mudava o fato de ela ser uma pessoa muito agradável e gentil e, de certa forma, eu até sentia inveja da amizade dela com a minha irmã, já que Valentina a adorava.

− Como conseguiu arrancar a Karol de casa? – Anita perguntou.

Anita era nossa amiga também, mas detestei a forma como ela fala isso. Parecia que eu era tipo um bicho do mato que não vê a civilização por algum medo.

Torci o nariz para ela, rejeitando sua pergunta.

− Ela brigou com o Michael. De novo. – Minha irmã falou as últimas palavras com um tédio palpável na voz. Revirei os olhos. – Ele ainda não aceita o fato da minha irmã não ter nascido colada nele e precisar tomar suas próprias decisões.

− Valentina, não é bem assim... – comecei a falar, mas ela riu.

− É claro que é! – Valu se virou para as outras. – Acreditam que ele surtou porque a Karol vai trabalhar na Melee? Tipo, eu trabalho lá há anos, é uma ótima empresa, sem contar que ela vai ser assistente pessoal do Senhor Bruno. Aquele coroa gostoso.

Puxei uma cadeira e me sentei, desistindo de teimar.

Eu havia passado o caminho inteiro dizendo a ela que Mike não estava com raiva disso. Bom, talvez um pouco.
Mas era que Michael odiava a idéia de eu trabalhar em uma empresa de produtos eróticos. Ele dizia que aquilo soava esquisito.

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