Bati na porta da sala da presidência apenas uma vez e Ruggero me mandou entrar.
Podia parecer infantil, mas eu estava tentando decifrar seu tom de voz, tentando notar se havia algum resquício de raiva ou até de mágoa. Não sei. Só queria entender porque seus olhos recaíram sobre mim de forma tão fria e impessoal assim que cruzei a soleira da porta.
─ Podemos conversar? – Perguntei com a mão pousada sobre a maçaneta gelada.
Ele umedeceu o lábio inferior e fechou uma pasta que estava aberta sobre a mesa; depois assentiu e me mandou fechar a porta.
Era esquisito como parecíamos dois estranhos. Era como se fosse a primeira vez que nos víamos.
Não havia nenhum tipo de intimidade, sequer um sorriso; e eu me sentia desconfortável ali na frente dele, mesmo percebendo que seus olhos me evitavam.─ Se for sobre a foto, fique tranquila. – Foi logo dizendo. – Não se preocupe, darei um jeito e seu noivo não saberá de nada, muito menos permitirei que alguém faça qualquer tipo de brincadeira sem graça com você.
Eu estava de pé no meio da sala e negava veementemente com a cabeça.
─ Não é por isso que estou aqui, Ruggero. – Comecei. – Não estou com o Michael e sinceramente não importa que ele veja essa foto.
Só então ele me olhou com um misto de surpresa e ressentimento.
Eu queria ir até ele e tocá-lo, mesmo que fosse por alguns segundos. Queria que nos religássemos, que de alguma forma a nossa conexão de antes voltasse a funcionar.
No entanto, continuamos cada um em seu lugar, sem se atrever a sequer respirar fundo, como se qualquer movimento brusco fosse fazer tudo desmoronar nas nossas cabeças.─ Então por que veio? – Foi sua pergunta e ela ecoou por todos os lados até me atingir. – Ontem você me expulsou sem qualquer consideração. Não entendo o que ainda temos para conversar.
─ Eu queria dizer que... Que sinto muito. – Soltei o ar pela boca lentamente, recuperando as forças e acalmando as batidas do meu coração. – Não era pra ter sido daquela forma, mas eu estava nervosa, fiquei magoada que tenha me escondido o murro que deu em Mike e...
─ Eu só queria te ajudar! – Falou enquanto se levantava e empurrava a cadeira para trás. – E esse foi meu erro. Por que, talvez, eu tenha me metido onde não devia.
─ Ruggero...
─ O que quer, Karol? Por acaso acha que é fácil pra mim? Eu não consigo te entender, muito menos quero continuar nesse redemoinho de problemas, por que no final é a ele que você escolhe. – Ele sorriu, mas não havia humor. – Não a mim.
Balancei a cabeça.
─ Não quero o Michael. Ele... Ele me magoou demais, me machucou de uma forma imperdoável, por favor, entenda!
─ Me entenda também! – Retrucou contornando a mesa e parando na minha frente. Eu podia notar seus olhos marejados. – Karol, eu sei que o nosso lance era só sexo, mas... Mas não dá mais pra mim. Não consigo e não quero ser apenas mais um caso seu, a pessoa que você usa pra fazer ciúmes ao seu noivo abusivo. Isso machuca!
Levantei a mão para tocá-lo, mas ele virou de costas e se afastou esfregando a testa.
Abaixei a mão devagar e uma lágrima escorreu pelo canto do meu rosto.
Ele estava me deixando.
─ Acabou, então? – Murmurei, rouca.
Ruggero riu, mesmo que não parecesse achar graça e, quando finalmente me olhou, percebi que ele estava chorando e que não fazia questão de esconder.
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Luxúria
FanficSINOPSE LUXÚRIA: "Três anos atrás Karol havia feito uma coisa que se arrependia amargamente; ela havia traído o, até então, namorado. Pensar nisso a fazia ter dores de cabeça. Trair significava que ela não era a mulher perfeita que Michael esperava...