ERLEBNISSE

▪︎ ende.

Quando mais jovem visava para mim um futuro brilhante. Encarava o futuro como um aliado que faria de mim uma mulher culta, elegante e privilegiada.

Antes de Herbert outros homens passaram pela minha vida, alguns me fizeram bem e outros me destruíram aos poucos. Quando conheci o alemão vi nele incontáveis oportunidades, dentre elas ser feliz e me sentir amada, foi exatamente o que ele fez.

Ao seu lado vivi os melhores doze anos de minha vida, contando com nosso namoro antes de nos casarmos. Eu amava o jeito em que ele se importava comigo, em que me acolhia e cuidava de mim.
Era fascinada por toda qualidade de vida que eu tinha ao seu lado, não apenas no âmbito rentável, mas também enquanto mulher.

Ainda não consigo esquecer seu olhar apaixonado e o jeito engraçado que tinha quando virávamos a noite fria da Alemanha tomando um vinho francês.
Sinto falta de ter sua atenção, seu carinho. Sinto falta do seu corpo me envolvendo e me aquecendo durante a noite, dos beijos de bom dia e de seu toque suave.

Quando descobri o que estava acontecendo, doeu. Uma estaca cravada em meu peito doeria muito menos.
Revivi aqueles olhares que observei e as mensagens que li por dias, cada vez que eu lembrava perdia o equilíbrio e meu coração errava as batidas.
Ainda assim tentei ignorar, tentei fingir que aquilo não estava acontecendo, eu não queria o perder e se o preço para tê-lo ao meu lado era me submeter a aceitar seu caso com minha sobrinha eu o faria.

Eu não sabia viver sem ele e confesso que ainda estou tentando aprender.

Os anos se passaram levando consigo um pouco da minha dor. Antes os dias eram frios e hoje consigo sentir um pouco do calor do sol sob minha pele, o mundo vem voltando a ter cor e a vida finalmente conseguido fazer sentido.
Esse é o sétimo natal desde que tudo aconteceu e esse ano foi resolvido realiza-lo em minha casa, ou melhor, na de Camila.

- Terra chamando Vivian - ouço a voz de Amanda exigindo minha atenção e saio de meus devaneios dirigindo meu olhar a ela - Está no mundo da lua?

- Apenas perdida em meus pensamentos - a respondo com um sorriso fraco - Camila já terminou de se arrumar?

- Ainda não.

- Amanda, pelo amor de Deus coloque um salto alto. Sapatilhas não combinam nem um pouco com seu vestido - exclamo firmemente.

- Você vive me mandando usar saltos, mas nunca sequer se propôs a me ensinar.

- Você já tem quase trinta anos e não sabe usar salto alto, deveria se envergonhar e tentar aprender sozinha! - minha nora me lança um olhar raivoso - Porque está me olhando assim? Vá até meu closet e pegue ao menos uma sapatilha mais sofisticada para usar essa noite.

- Quando vai deixar de ser tão chata? - indaga virando-se e indo em direção a escada suponho que para fazer o que eu aconselhei.

Amanda mora conosco a três anos, ela e minha filha ainda não oficializaram a união alegando ainda não estarem prontas para isso, o que me deixa bastante inconformada, afinal como que se namora alguém a sete anos e não se sente preparada para se casar? É absurdo.
Mas em contrapartida, parecem estar felizes assim. Já presenciei diversas brigas do casal, a maioria delas pelo ciúmes exacerbado de Camila com as amigas de faculdade que a companheira tem, mas sempre se entendem e acabam ficando bem. Antes eu tentava intervir e me intrometer, hoje apenas ignoro sabendo que nos próximos trinta minutos tudo estará resolvido entre elas.