— Tudo bem com você?
A voz de Aoyama ecoou próxima ao elevador, de onde havia acabado de sair, quando Izuku passou apressado. Não sabia dizer se era o treinamento novo ou algo que tinha comido durante a semana, mas era fato que seu estômago doía bastante desde a manhã. Esperava não piorar a ponto de ter que voltar à enfermaria e ser proibido novamente de treinar o sábado inteiro no dia seguinte, como havia planejado.
— É só uma pequena dor. — Respondeu ao mesmo tempo em que colocava a mão na barriga, caminhando na direção de seus aposentos. — Deve melhorar até o final do dia.
— Se é sobre dor de estômago, eu posso ajudar. Venha. — O garoto abriu a porta do próprio quarto enquanto falava, fazendo Izuku parar no meio de seu caminho. Considerava-se amigo de Aoyama desde o primeiro ano, mas ainda eram um pouco estranhas as conversas que tinham, principalmente nos últimos meses. E agora estava sendo convidado a entrar como se fossem absolutamente íntimos. — Eu estava precisando te pedir uma coisa, no fim das contas.
Inseguro, seguiu-o cômodo adentro, admirando-se da quantidade de brilho por todo o lugar. Era curioso imaginar como Aoyama conseguia dormir ali. Ficou parado próximo à parede enquanto o garoto mexia em uma gaveta, onde várias separações pareciam organizar pequenos objetos, dentre eles um vidrinho amarelo com comprimidos redondos. Então o rapaz abriu um pequeno freezer e Izuku se perguntou como aquilo tinha ido parar ali. Não que eles não pudessem ter eletrodomésticos no quarto, mas de certa forma a ideia pareceu inovadora e conveniente. Junto com o remédio, um copo de água gelada lhe foi oferecido.
— Vai estar se sentindo melhor em menos de uma hora, com certeza. Você pode se sentar e ficar à vontade, se quiser. — O rapaz apontou a cama, para onde Izuku se dirigiu depois de engolir o remédio. Podia ver o próprio reflexo nos vários espelhos a sua frente. — Quer um pedaço de queijo também? Esse aqui veio direto do norte da Itália. Quando eu uso demais o laser e a dor na barriga fica muito forte, ele ajuda um pouco a melhorar.
Izuku agradeceu mais uma vez. Era esperado que o colega fosse um expert em cuidar desse tipo específico de problema, então aceitou um pedaço do queijo. Um instante de silêncio se passou enquanto o outro o assistia mastigar com um meio sorriso no rosto.
— Aoyama-kun…
— Yuga. — O rapaz o interrompeu enquanto se sentava na cadeira próxima à varanda. — É natural que amigos se chamem pelo primeiro nome, não é? Eu ficaria feliz se Deku-kun me tratasse dessa forma também.
— Y-Yuga-kun — Izuku repetiu quase mecanicamente. — disse que tinha algo para me pedir…
— Ah sim! — Ele apontou para a armadura no canto do quarto. — Normalmente eu desmonto para limpar, mas no último final de semana eu a derrubei e desde então o cotovelo esquerdo emperrou de um jeito que não consigo mais mexer. Se você pudesse me emprestar um pouco da sua força e soltar as duas peças, estaria me fazendo um grande favor.
Izuku encarou o inexpressivo homem de metal alguns centímetros apenas mais alto do que ele. Tiveram que tirar o escudo e desmontar desde o ombro para que ele pudesse entender como funcionava a junta. Não precisou de muito esforço para desamassar o metal usando o One for All, assim que conseguiu enfiar o dedo por dentro de um pequeno buraco na lateral. Era estranho usar uma porção bem pequena da individualidade dessa maneira depois de tanto tempo, mas considerou que também poderia ser um bom tipo de treinamento para o auto controle. Decidiu falar com All Might sobre isso no próximo treino.
Após o conserto, foi questionado sobre a dor e pode perceber o quanto já havia melhorado. Agradeceu mais uma vez ao colega pela ajuda e, por fim, ganhou mais um pedaço de queijo para caso ainda estivesse se sentindo mal a noite. Enquanto Yuga o embalava em um pedaço de papel alumínio dourado, esperou próximo a uma escrivaninha em cima da qual notou um envelope cor-de-rosa com um adesivo vermelho em formato de coração como selo.
— Não sabia que Yuga-kun tinha namorada.
Pegou-se dizendo em voz alta e, consequentemente, chamando a atenção do outro garoto, que levantou a cabeça com uma expressão de confusão e curiosidade. Imediatamente percebeu o quanto havia acabado de ser invasivo. Se perguntou se ele realmente deveria ter visto aquela carta, porque certamente não era de sua conta o conteúdo e muito menos a autoria. Talvez fosse melhor pedir desculpas ou então agir como se nada tivesse acontecido e mudar de assunto…
— O que te leva a crer que uma menina me escreveu essa carta? — Seus pensamentos foram interrompidos pelo rapaz cujo sorriso era indecifrável naquele momento. Ficou em silêncio enquanto ele colocava o embrulho em suas mãos antes de tocar no envelope com as pontas dos dedos, como se estivesse apreensivo. — Na verdade, eu estava planejando entregar isso para alguém na próxima semana.
— Oh, então você vai se declarar?! — Izuku exclamou animado. Durante os anos na U.A., tinha visto alguns casais se formarem e até mesmo terminarem, mas nunca uma pessoa tão próxima havia lhe contado algo sobre isso. Naquele momento, lhe parecia bastante diferente a ideia de namorar alguém. — Que legal! Você tem muita coragem para decidir fazer algo assim…
— Essa não é nem de longe a parte mais difícil. — Yuga continuou, mesmo após Izuku franzir as sobrancelhas. — Eu preciso mesmo é de uma boa oportunidade de nos encontrarmos para entregar isso.
— Ela não é da U.A?
— Não. — O rapaz pegou o envelope de cima da mesa e colocou dentro de uma das separações da gaveta. — Por mais que a ideia de namorar heróis seja até um pouco excitante, acho que a gente não escolhe de quem vai gostar, no fim das contas. Até porque, não existe tanta opção aqui para mim, se eu for por esse lado…
Izuku concordou com a cabeça. Nunca havia parado para pensar sobre isso, mas percebeu que Yuga estava certo sobre não ser possível escolher tanto assim. Se pegou pensando se esse tipo de coisa deveria ficar cada vez mais em segundo plano na sua vida, assim como tinha sido com All Might. Havia heróis que se casavam e constituíam família, mas era estranho se imaginar nessa posição com qualquer uma das meninas da escola, não que talvez não pudesse acontecer com alguém de fora também.
— Enfim, não vale a pena agonizar sobre isso agora. — Yuga murmurou mais para si próprio que para o outro. — Até porque, quem não iria querer um namorado tão gracinha quanto eu, não é mesmo? — O garoto passou os dedos nos próprios cabelos loiros, jogando-os para trás com maestria. Incapaz de decidir se ele estava brincando ou falando sério, Izuku esboçou um meio sorriso enquanto era acompanhado até a saída do quarto. — Me avise caso precise de outro remédio, certo?
— S-sim. Pode deixar.
Após a porta se fechar diante de si, caminhou pelo curto percurso até seu próprio dormitório tentando imaginar que tipo de pessoa faria o colega se declarar daquela forma. Assim que se sentou na frente da escrivaninha, resolveu que escreveria sobre tudo aquilo no diário. Pensando um pouco em si mesmo, será que era possível alguém o interessar ao ponto de fazer uma confissão? Ou mesmo o contrário, o que faria se alguém se declarasse para ele?
Sentiu as bochechas queimando e então fez questão de negar esse último pensamento, principalmente porque a boa parte das meninas estava bem fora do seu alcance. Lembrou que geralmente os garotos, inclusive de outras turmas, dizia ter uma queda por Yaoyorozu, por exemplo, e de como ela havia sido a melhor aluna da turma durante dois anos seguidos. Era praticamente impossível se aproximar de alguém tão legal assim. Talvez o único a altura dela fosse mesmo Todoroki...
Apoiou o queixo sobre um dos braços e suspirou. Todoroki tecnicamente também era completamente fora do seu alcance, de certa forma, e mesmo assim eles se davam bem desde o primeiro ano. Talvez o devesse chamar para comprar algumas revistas junto com Iida na próxima semana... Fechou o diário, decidindo que o assunto sobre romance era complicado demais e, portanto, ele seguiria o conselho de Yuga e não agonizaria sobre isso agora.
Já que seu estômago não doía mais tanto, resolveu estudar um pouco.
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A história de nós dois
FanfictionNo último ano da Academia de Herois, Todoroki Shoto e Midoriya Izuku têm que lidar com a pressão de serem grandes heróis e competirem pelo primeiro lugar, enquanto desenvolvem sentimentos um pelo outro.