Preterito imperfeito do subjuntivo

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— É verdade? — A voz de Uraraka era fina e um pouco tremida, depois que ela havia derrubado metade das cartas do baralho no chão. — Não é verdade, né? por que não nos falaram?

— N-nã… — Shoto ouviu a voz de Izuku, enquanto podia vê-lo agitar os braços apenas com a visão periférica — N-nós só… Eu e ele, n-no-no-nós somos...

Antes que ele pudesse terminar a frase, no entanto, o outro garoto girou nos calcanhares, segurou-o pelos ombros e encostou os lábios nos seus, de forma brusca. Não houve reação. Izuku ficou apenas paralisado em resposta e, no momento em que se separaram, seus olhos ainda estavam bastante abertos. Shoto não tinha muito bem certeza das próprias ações, mas naquele ponto, a última coisa que poderia suportar era Izuku negando a relação deles na frente dos colegas, depois de tudo.

— É verdade — confirmou ao soltá-lo, ignorando o jeito que o garoto parecia atordoado. — Nós estamos saindo há seis meses.

— Então Deku teve mesmo um sonho erótico com o Todoroki na aula, aquele dia? — Kirishima apontou para Izuku, que instantaneamente ficou com o rosto inteiro vermelho.

— O que!? — Ele retrucou, quase dando um passo para trás, com a voz trêmula. — C-c-claro que não! Eu juro que foi sobre um bolo, não teve nada que chegasse perto de ser erótico. O-ok que era um encontro, eu admito, m-m-mas foi numa lanchonete e tinha um bolo que a gente gosta, por isso eu fiquei dizendo para comer e também que estava com vontade, mas isso não significa nada demais, já que não foi s-s-sexual nem nada, eu juro por tudo...

— Acho que eu meio que já sabia. — Sero coçou a cabeça, interrompendo o que já havia se tornada um murmúrio incompreensível da parte do outro.

— Como assim, cara? — Kirishima quem perguntou, mas todo mundo teve a mesma curiosidade ao dirigirem olhares para o rapaz no canto da sala.

— Po, o Todoroki mora do lado do meu quarto. Não precisa ser muito esperto para perceber uma coisa ou outra...

 O barulho alto da mesa de centro virando chamou a atenção de todos. Uraraka levantou subitamente, parecendo que tinha levado um soco no estômago, e disparou para fora do salão em direção ao refeitório. Iida olhou para Asui e então os dois correram atrás dela. Izuku pareceu querer ir também, mas o namorado o segurou pelo pulso, sem pensar muito bem nas próprias ações. Manteve a visão grudada em Bakugou até que este último deu de ombros:

— Que seja, amiguinho ou namorado, danem-se vocês dois. — Ele limpou o sangue no canto da boca com as costas da mão e ajeitou a calça com batidas leves, inexpressivo. Então olhou para Izuku. — Se é assim, então se vira sozinho.

Bakugou deu meia volta e saiu pela porta da frente, seguido logo por Kirishima, que virou a cabeça para trás algumas vezes, com o olhar alternando entre Sero e o casal. Pareceu legitimamente impressionado com a revelação sobre o namoro dos colegas, mas não disse mais nada até que os dois amigos sumiram das vistas de quem ficou. O clima ainda estava tenso, quando finalmente tudo caiu em silêncio. Por algum motivo, Shoto não conseguia se acalmar e nem soltar o pulso de Izuku. Desta forma, praticamente puxou o namorado atônito para os elevadores, batendo os pés ao caminhar.

Não foi surpresa quando o rapaz não apertou o botão do próprio andar, mas o jeito que ele absolutamente não levantou o rosto e manteve os punhos fechados, sem dizer mais nenhuma palavra fazia o coração de Shoto se apertar por causa daquela cena lá em baixo. Era óbvio que ele tinha feito besteira e Izuku estava chateado, mas não conseguia se sentir de todo culpado por toda a situação. Não, o que estava sentindo era frustração e indignação acima de tudo, ainda mais pela forma que Bakugou tinha falado a última frase, como se o outro precisasse de algo que ele poderia ter e Shoto não. 

A história de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora