Labirinto de túneis

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Shoto abriu os olhos, atordoado, mas não conseguiu perceber onde estava. Sua perna parecia ter ficado presa embaixo de alguma coisa e a simples menção de mexê-la causava uma dor excruciante. A tosse seca de Izuku ao seu lado o fez lembrar-se de que tinham acabado de despencar desde um buraco e agora se encontravam sob toneladas de escombros de um edifício. Podiam ouvir ainda alguns rangidos, parecendo vir de lugares diferentes.

— O que aconteceu? — Ouviu a voz rouca ecoar várias vezes, ainda que baixa, rompendo o silêncio — Kuroko ia dizer alguma coisa e então nós caímos… E o prédio…

— Estamos em algum lugar abaixo daquelas fundações — respondeu sem conseguir enxergá-lo. Era difícil respirar e sua garganta parecia seca e dolorida. — Acho que quebrei o pé. Vamos ter que decidir entre achar uma saída ou esperar que venham nos buscar.

— S-sim. — Izuku respirou fundo antes de continuar com a voz falhada. — Não é seguro usar chamas aqui, pois pode haver alguma tubulação de gás estourada, e acredito que a minha individualidade também nos colocaria em perigo de vida. Mas eu gostaria de procurar primeiro algum lugar mais seguro, talvez.

— Tenho uma lanterna na mochila, acha que consegue alcançar?

Sentiu as mãos do outro tateando-o desde o braço até suas costas, ouviu o zíper da bolsa abrir e fechar, antes que uma luz se acendesse para cima. Demorou um tempo até seus olhos se acostumarem e conseguirem enxergar uma possível passagem por baixo de uma coluna diagonal de concreto, pela qual poderiam se agachar. Estavam machucados e sujos. Tudo parecia instável demais de modo que qualquer coisa retirada do lugar talvez colocasse em risco a segurança da câmara.

— Espera um pouco. — Izuku rasgou um pedaço da manga da sua roupa para amarrar um corte no braço do outro, cujo sangramento era notável, mesmo que ainda não estivesse doendo tanto devido à adrenalina. No entanto, Shoto não conseguiu conter o grito quando puxou a própria perna de baixo do pedaço de rocha que o colega levantou com facilidade. Enfaixaram e imobilizaram-no da melhor forma que puderam sem saber a extensão do ferimento. — Parece melhor assim, mas precisamos encontrar logo um jeito de subir ou isso vai ficar feio.

Não conseguia nem mesmo dizer a própria profundidade e o intrigava o fato de não terem sido completamente esmagados. Não havia dúvidas de que alguém estava por trás disso, só desconheciam ainda o porquê.

Finalizados os cuidados e mediante atestado de que ambos estavam bem o suficiente para prosseguir, se arrastaram por entre os caminhos que escolhiam, tomando o máximo de cuidado para não se cortarem com os vergalhões e pedras expostos ou remexerem demais os escombros ao pisarem. Encontraram algo que parecia ser um encanamento abandonado, grande o suficiente para caminharem por dentro. Era o lugar mais seguro naquela situação e também uma possível saída para o exterior, a qual valia a pena explorar.

Shoto apoiou-se nos ombros do outro para se estabilizar enquanto andavam. O percurso, porém, era confuso e os rapazes precisaram tomar algumas decisões em momentos nos quais os canos se dividiam. Quando perceberam que estavam passando pelo mesmo lugar uma terceira vez, Izuku começou a anotar no caderno que tirou de dentro do macacão, desenhando uma espécie de mapa com linhas simples.

— Nós já passamos por essa encruzilhada, eu acho, então devemos pegar o caminho da esquerda, se formos por aqui, assim que virmos os fios pendurados. — Viu-o coçar a cabeça e olhar em volta. O cansaço já era visível em seus rostos. Havia perdido a noção do tempo em que estiveram andando. — Já era para termos encontrado alguma coisa diferente nesse ponto. O que são esses canos, afinal?

— Não sei — respondeu, seguindo a rota sugerida pelo outro — mas deve haver alguma entrada de ar, se não nós já teríamos sufocado.

— Tem razão. — Izuku encarou o próprio mapa. — Nós passamos por um túnel com um pouco de vento uma vez. Acredito que consigo nos levar até lá de novo, mas não lembro de termos achado uma saída que não retornasse para algum lugar conhecido. Os únicos caminhos que de certeza de não termos escolhido são esse e o daquela coisa verde no chão, que prefiro me manter longe. O que acha de irmos por aqui primeiro e depois procurarmos perto de onde vem o vento por alguma possível passagem que a gente tenha perdido?

A história de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora