Motivação

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A próxima ilha era quase tão grande quanto a principal. Nos últimos dois dias, já tinham conseguido quatro partes do mapa e iam agora para a quinta sem ter ainda topado com a outra equipe e, com isso, sem saber o status atual deles. O estranho, porém, era que já estavam ali há tempo demais e até agora nenhum sinal do totem que continha o dispositivo para reconhecer os seus relógios. Nem mesmo com robôs haviam cruzado. Quando a hora do almoço chegou, se reuniram todos perto de uma grande árvore para deliberar sobre o que fazer.

— Nós deveríamos ir para outra ilha — Kodai ponderou. — Não tem sentido estarmos rodando em círculos pelo mesmo lugar há mais de cinco horas sem encontrar absolutamente nada.

— Concordo. — Dessa vez quem falou foi Kendo. — Por mais que eu ainda não esteja pronta para admitir a derrota, nós já perdemos muito tempo aqui. Quem sabe como anda a outra equipe?

— Seria melhor deixar esse lugar para o final. — Shoto interveio. — Alguma coisa aqui não parece certa. Tenho certeza que é algum truque para nos atrasar. Não podemos deixar de trabalhar com a possibilidade da outra equipe ser mais bem sucedida aqui, contudo. — Nesse momento, estava se referindo especificamente à Izuku e Yaoyorozu como estrategistas, por saber o quão espertos os dois eram. — Meu palpite é irmos para a ilha com o lago no meio por agora, que me parece a mais óbvia.

— Certo. — Kendo replicou apressada. — Alguma objeção à ilha do lago?

Com todas as respostas negativas, seguiram para a praia em conjunto e precisaram ir nadando uma distância de quase um quilômetro. Estavam frustrados por terem perdido o dia, mas não havia como continuar quando o sol já havia praticamente se posto e o cansaço e a fome os consumia. Montaram acampamento perto do lago em um ponto protegido de robôs e se revezaram na vigília noturna. O dia seguinte não seria menos cansativo, mesmo assim Shoto só estava conseguindo dormir muito pouco devido ao local aberto e aquilo o estava estressando progressivamente.

Quando o sol começou a despontar, se levantou e acordou alguns colegas para que continuassem procurando. O melhor palpite era que o dispositivo estivesse em algum lugar dentro da água doce, considerando a quantidade de robôs fixos parecidos com aqueles que os atacaram na chegada ao arquipélago. Por um minuto, desejou que Kaminari estivesse em sua equipe, enquanto bolavam uma estratégia para mergulharem todos em meio aos lasers.

Se espalharam pelo formato ovalado do lago, buscando o melhor lugar para entrarem, quando ouviram um murmurinho vindo da floresta, indicando que o resto dos alunos também tinha escolhido aquela ilha para passarem o dia. Bakugou e Sero apareceram por entre a vegetação perto de onde Shoto estava sozinho e o combate era inevitável agora. Por um momento, teve a esperança de ver Izuku junto dos dois, mas não foi o caso. Quando a luta irrompeu em vários focos ao redor da água, podiam-se ouvir explosões causadas pelos lasers. Enquanto isso, o colega da equipe rival usava as próprias explosões contra Shoto, que desviava e incendiava as árvores no intuito de atrasá-lo.

Foi em um momento menos agitado que Shoto olhou para o lago e percebeu um ponto cego perfeito. Inclinou o corpo estrategicamente para o lado e deixou que uma das mãos de Bakugou o atingisse, protegido por uma pequena quantidade de gelo, empurrando-o para dentro da água em um solavanco que não conseguiu controlar bem, mas foi suficiente. Assim que caiu na água e nenhum laser conseguiu atingi-lo, mergulhou. Confirmando suas expectativas, lá estava o totem.

Emergiu depois de registrar a própria pulseira, pensando na melhor forma de trazer todos os colegas para lá, quando ouviu um splash logo atrás de si e se virou. Izuku tinha acabado de perceber o mesmo ponto cego e se jogar na água sozinho da exata maneira que Shoto havia feito para buscar o totem. Encarou-o, sentindo o coração acelerar. Era bom poder vê-lo, finalmente, mas o sentimento que tinha agora era completamente alerta.

Criou uma parede de gelo que, surpreendentemente, se movia mais rápido dentro d’água, mas o outro também era ligeiro e destruiu-a em um instante, criando uma onda que carregou Shoto de forma descontrolada até bater de costas em uma pedra. Desnorteado por ter engolido bastante água, o rapaz olhou em volta confuso. Estava na mira de uma série de lasers que já se preparavam para atirar. Fechou os olhos, pronto para o que estava por vir, quando uma segunda onda irrompeu da mesma direção da anterior, mas dessa vez destruindo todos as máquinas e abrindo um caminho limpo até a borda do lago. Izuku tinha acabado de salvá-lo novamente.

Era a oportunidade de ouro que buscava, mas teria que lutar pelo caminho com o próprio namorado. Desde a pedra onde estava, surfou por cima da água turva, seguido por Izuku até a beirada. Estavam frente a frente e ele sabia o que fazer. Juntou energia na perna esquerda e viu-o repetir o gesto do mesmo jeito que faziam com os treinamentos matinais de All Might, mas agora muito mais cansados e doloridos.

Já esperava pelo momento em que Izuku evitou o golpe no último segundo, mas dessa vez o garoto mesmo chutou para o lado, na direção da floresta, evitando o fogo da perna do outro. Era surpreendente como ele se adaptava. Ainda no ar, Shoto fechou a mão em um punho com uma camada dura de gelo em volta e o acertou no rosto, fazendo-os cair há alguns metros de distância. Ofegante, Izuku levantou para perceber que o adversário já preparava outro golpe com a perna igual ao anterior, dando-o pouco tempo para pensar em revidar.

— O que está fazendo, idiota?! — Um grito na voz de Bakugou irrompeu de uns arbustos. — Se vai ficar com medo de usar, passa essa merda adiante!

Por um instante, Shoto viu os olhos do rapaz na sua frente se estreitarem em uma espécie de raiva e ânimo dos quais fazia tempo que ele não mostrava. Já estava no meio do chute, quando Izuku virou a perna de baixo para cima desde o chão e o atingiu com uma força muito maior do que o esperado, fazendo-o ser arremessado novamente e cair em algum lugar no meio das árvores. Os galhos haviam amortecido sua queda, mas demorou um tempo até que conseguisse se mover outra vez para se pôr sentado. Estava inteiro, apenas extremamente chateado.

Era uma péssima hora para Izuku finalmente conseguir acertar aqueles 80% com a precisão que vinham buscando há meses. Apertou os punhos e chutou uma pedra no chão antes de conseguir respirar fundo e se acalmar. Ainda tinha uma tarefa a cumprir e, aparentemente, estavam em desvantagem de qualquer maneira.

Encontrou-se com os colegas de equipe assim que chegou de volta e confirmou a derrota quando o grupo verde já havia terminado de registrar e ido para o próximo. Não havia tempo a perder. Seguiram-nos até a sexta ilha, onde havia uma falésia consideravelmente alta, a qual precisaria ser escalada para terem acesso à floresta. Como a noite já estava chegando, montaram o acampamento em uma caverna na base.

Naquela noite, Shoto não conseguiu dormir. Estava frustrado pela derrota, mas também pela circunstância. Sabia o quanto Bakugou tinha influência sobre essa parte da vida de Izuku, mas aquelas palavras em específico tinham ficado martelando em sua cabeça durante as horas em que passou encarando as sombras da luz da fogueira nas curvas das pedras no teto. Não sabia exatamente o que incomodava nelas, porém, além do fato de como haviam afetado o garoto de forma tão certeira.

A história de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora