Pôsteres diversos espalhados pelas paredes, materiais escolares dividindo a escrivaninha com bonequinhos de heróis, livros coloridos na pequena estante, a cama arrumada às pressas. Shoto olhava em volta, sentado no chão no meio do quarto do rapaz que mexia em uma gaveta à procura de alguns papéis. Mesmo que lhe parecesse tanta informação a ponto de não conseguir perceber cada detalhe, tudo ali parecia exclamar “Izuku”, até mesmo o cheiro de suor misturado com amaciante que sentiu quando fechou os olhos para suspirar por um instante.
— T-tudo bem? — Ouviu a voz apressada do garoto que agora sentava ao seu lado com um caderno na mão. Shoto assentiu e o silêncio que se seguiu era carregado de uma ansiedade latente. — Quer jogar um pouco antes de começar as lições de casa?
Assim que ouviu a confirmação, Izuku levantou em um salto para pegar o mesmo videogame do outro dia. Em um instante, nada mais existia além da música em looping, uma tela colorida e a exclamação de satisfação dele após vencer a primeira partida. Levantou o rosto para ver o reflexo nos olhos animados do rapaz que segurava o controle enquanto murmurava as opções de personagem para escolher, como se não estivesse nem um pouco cansado de tudo que aconteceu no dia inteiro.
De repente, ele pareceu notar que estava sendo encarado e levantou os olhos. Duas esmeraldas cercadas pelo rubor das bochechas que Shoto tinha vontade de beijar. Sem pensar duas vezes, deitou a cabeça em suas pernas cruzadas, forçando-o a desligar o jogo e esticar o braço para colocar em cima da cama.
— Tem certeza que está tudo bem, Shoto-kun? — Izuku começou a pentear seu cabelo para trás com a ponta dos dedos. Era um pouco embaraçoso que ele visse toda a cicatriz de seu rosto tão de perto, mas a preocupação do rapaz parecia estar voltada para outra coisa no momento.
— Eu nunca fiz isso antes. — Shoto respondeu pensativo. — Ir ao quarto de alguém e passar um tempo a toa, conversar…
— Oh, é sério? — Izuku parou o carinho por um segundo e depois recomeçou ao olhar para baixo. — Bem, eu também não tinha isso antes de vir para a U.A… A gente se acostuma a ficar solitário às vezes, não é?
— Eu achei que você e Bakugou fossem amigos desde antes.
— É diferente. — Izuku continuou depois de um tempo de pausa. — Nós somos vizinhos e fomos para a mesma escola desde pequenos… Ele… bem, nossa relação era… bem, diferente...
Shoto levantou a cabeça para ver o rosto do namorado por um ângulo que considerou novo. Izuku não o mirava de volta, porém, mas tinha o olhar perdido em algum lugar da parede. Naquelas horas podia sentir quase como se não o conhecesse, como se algo estivesse fora do lugar ou faltando ser dito. E mesmo que não fosse de sua conta, isso o chateava. Trancou os dentes e olhou para os próprios pés. Sabia dizer que Bakugou costumava maltratá-lo, ao ponto que no começo do primeiro ano Izuku mal conseguia falar com os colegas.
— Talvez tenha sido inveja. — As palavras saíram ácidas, mas Shoto não se importava. — Porque você é tão forte…
— Ah, m-mas eu não era tão forte assim! — O tom de voz do garoto era quase um pedido de desculpas. — você sabe, ter conseguido entrar para essa escola foi um enorme golpe de sorte para mim. É por isso que eu pretendo aproveitar o máximo que conseguir até o final.
— Foi sorte para mim também. — Shoto levantou o braço e tocou duas pintinhas com as pontas dos dedos. — Você estar aqui.
No mesmo instante, o rosto de Izuku ficou completamente vermelho de uma forma que era até um pouco divertida. Observou-o tentar sem sucesso escondê-lo com um dos braços enquanto virava a cabeça para o lado.
— N-nós… eu… v-vam… nós precisamos estudar!
Ao dizer isso, se mexeu de uma forma que obrigou Shoto a levantar, a contragosto, do conforto em que estava. Bom, de certa forma havia praticamente pedido por aquela reação. Suspirou antes de se pôr de pé para pegar as coisas de dentro da mochila. Tinha ido bem mal nos exames intermediários, no fim das contas, por isso se deu por vencido.
Sentaram de volta no chão, mas dessa vez encostados na cama com os cadernos repousando nos joelhos para discutirem questões de história, matéria que Izuku acabou ensinando-o mais do que aprendendo. Algumas questões dos exercícios de casa estavam bem mais elaboradas do que as próprias provas, talvez porque tivessem mais tempo para pesquisar e responder, o que rendeu algumas horas de trabalho.
Estudar com Izuku tinha se tornado o jeito mais eficiente, porém, o que se devia à recompensa de passar um tempo sozinho com ele depois. Fechou o caderno após a última questão e contraiu os lábios quando o silêncio preencheu o cômodo. Podia sentir a presença do outro rapaz ao lado e uma grande vontade de beijá-lo naquele instante.
Lentamente Izuku moveu uma das mãos apoiadas no chão e seus dedos se tocaram, provocando uma repentina aceleração no coração de Shoto. Respirou fundo, sentindo o rubor no próprio rosto, conforme acariciava aos poucos as texturas de cicatrizes de diversos tamanhos. Segurou-o com firmeza, guiando as costas da mão do namorado até a boca, onde se demorou por um pequeno espaço de tempo, e então deixou que ele virasse o braço 90º para tocar do lado frio da sua bochecha. Fechou os olhos e suspirou devido ao fascínio que aquela nova mistura de sentimentos lhe provocava.
A suavidade, porém, se transformou em fogo quando a mão de Izuku escorregou para a sua nuca e o puxou para um beijo suave, que foi tomando forma no movimento das línguas de dois garotos hesitantes. Era fácil não ver o tempo passar enquanto suas respirações estavam tão próximas ao ponto de tirá-lo da realidade. Queria conhecê-lo, saber tudo sobre ele, estar com Izuku o tempo todo, seja lá o que aquilo significasse.
Ajeitou-se para que ficassem mais de frente, de forma que envolveu-o com os dois braços, encostando a testa em seu ombro. O cheiro de shampoo dos cachos verdes era a única coisa na qual prestava atenção quando se permitiu virar a cabeça para fungar atrás da orelha do rapaz, que automaticamente esticou o pescoço como em um convite. Beijou-o ali e então outra vez mais em baixo, onde pôde perceber a pulsação rápida sob seus lábios. Com a ponta da língua, sentiu a textura da pele que tomou entre os dentes, chupando com força suficiente para fazer alguns barulhos.
Em um instante, o corpo de Izuku se contraiu por completo e Shoto sentiu as mãos dele agarrarem-no as costas sobre a camiseta. A despeito da mancha roxa que havia deixado, sugou-o uma segunda vez e então outra notando a forma como o garoto se contorcia em seus braços, até que ouviu um gemido curto e abafado seguido por uma respiração alta e irregular.
Naquele ponto, era difícil evitar que sua mente ficasse completamente em branco. Afastou-se alguns centímetros antes de empurrar-se para cima do outro, que caiu de costas sobre o tapete no chão. Com uma mão de cada lado de sua cabeça, encarou-o. Esperava que Izuku fosse virar o rosto ou retirá-lo dali, mas ele apenas sustentou o olhar como se esperasse por mais um beijo. Shoto sentiu um arrepio percorrer a espinha, terminando na ardência nos quadris. Fechou os olhos e deixou o corpo pesar inteiro sobre o dele quando suas línguas se enroscavam da mesma forma exasperada que a coxa do outro se forçava no meio de suas pernas enquanto mãos lhe subiam e desciam por dentro da camisa.
Uma batida na porta fez com que se separassem de súbito, pondo-se sentados frente a frente. Os olhos de Izuku estavam mais redondos do que nunca na medida que os dois perceberam onde tinham acabado de chegar. Nem mesmo Shoto sabia como reagir à sua indisfarçável excitação, por isso tampou a boca e encarou os próprios joelhos tentando esfriar a cabeça. Ficaram em silêncio por um tempo até ouvirem uma segunda batida, seguida pelo chamado de Aoyama. Observou Izuku se levantar para atender o vizinho enquanto dizia qualquer coisa que não conseguiu escutar muito bem.
— Eu vim te trazer isso... — A voz do rapaz loiro preencheu o cômodo, mas foi morrendo no momento em que sua visão encontrou Shoto sentado no chão. Então ele alternou o olhar entre os dois meninos, obviamente notando as marcas no pescoço de Izuku e a forma como estavam bagunçados. Depois de um tempo curto de silêncio, porém, sorriu e estendeu uma sacola preta com uma logomarca extravagante. — Acho que estou interrompendo... Mas é um presunto defumado especial que encontrei em edição limitada na loja de conveniência. Pensei que fosse a sua cara... Provavelmente a de Todoroki-kun também.
— S-sobre isso, — Izuku levantou as mãos no ar em um gesto de acalmar — n-n-nós estávamos estudando, aí…
— Queijo. — Shoto viu Aoyama enfiar um pedaço considerável de queijo inteiro na boca do garoto, que não soube como reagir. — Nós somos realmente bem parecidos, não é? Falando nisso, você está livre na sexta à noite? Eu vou jantar em um lugar ótimo e queria que Deku-kun também fosse. — Então ele esticou o pescoço na direção da mesa e piscou. — Obviamente você também está convidado, Todoroki-kun. E eu não vou aceitar um não como resposta, se é que me entendem.
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A história de nós dois
Fiksi PenggemarNo último ano da Academia de Herois, Todoroki Shoto e Midoriya Izuku têm que lidar com a pressão de serem grandes heróis e competirem pelo primeiro lugar, enquanto desenvolvem sentimentos um pelo outro.