Estágio

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A semana do intensivo havia acabado de começar e os alunos do terceiro ano, pela primeira vez, se encaminhariam para lugares diferentes depois do café da manhã. O clima geral era de ansiedade. Vestidos com os uniformes da escola, despediram-se dos colegas conforme cada um foi deixando o lugar.

O escritório onde Midoriya estagiava não ficava muitas estações distantes dos alojamentos da U.A., por isso podiam se deslocar sem muita pressa, então saíram em um último grupo junto com Koda e Sero, que iriam na mesma direção.

Enquanto o outro garoto ponderava algo, Shoto olhou para a cidade pela janela do trem, imaginando se todas as manhãs seguintes seriam feitas de pequenas e animadas conversas. Ainda perguntava-se o real motivo de ter aceitado o convite de Midoriya tão prontamente daquela forma. É claro que seria uma ótima oportunidade para conhecer um escritório diferente e adquirir experiência, mas havia outra coisa que já o estava preocupando há um tempo, em relação a si mesmo e ao rapaz, a qual talvez só fosse possível de compreender ao trabalharem juntos.

No momento em que entraram em um túnel, pôde ver seus reflexos de pé e instintivamente começou a reparar nas bochechas dele e em como as quatro pintinhas de cada lado eram, de certo modo, assimétricas. Desde atrás de sua orelha, um pequeno cacho verde se formava e Shoto imaginou como seria a sensação de enrolá-lo nos dedos.

Depois de um instante, viu-o levantar o rosto em sua direção, pelo vidro, e então desviar os olhos, para depois encará-lo novamente com uma expressão curiosa. Já fazia um certo tempo que sentia-se inclinado a observá-lo sempre que tinha a oportunidade, mas quando Midoriya esboçou um pequeno sorriso em sua direção, foi como se houvesse perdido o ar dos pulmões. Apertou a barra de ferro um pouco antes da luz de fora ofuscar suas imagens refletidas, anunciando que seu destino havia chegado.

Caminharam em silêncio até o prédio do escritório. Shoto sentia o coração bater como se houvesse acabado de fazer alguma atividade física, assim que a lembrança recente do sorriso do garoto voltava à sua cabeça. Cogitou a possibilidade de que pudesse estar ficando doente. Precisava colocar os pensamentos no lugar em relação à tudo aquilo o quanto antes.

Apresentou-se novamente a todos assim que entraram pela porta de correr metálica, que precedia uma sala de tamanho mediano, onde haviam duas escrivaninhas com monitores, quadros por toda a parede dos fundos, alguns armários e uma mesa redonda no centro, cercada por cadeiras simples. Era um lugar que parecia aconchegante até demais para a função que desempenhava.

De um dos computadores, Lemillion chamou a atenção de Midoriya e, que praticamente correu até o local enquanto tirava da mochila um caderno. Escutou-os discutir alguma coisa sobre estatísticas enquanto dividiam a atenção entre o monitor e as anotações do rapaz. Aquilo era diferente do que estava acostumado a fazer com Endeavor, por isso se ateve a prestar atenção no máximo possível. Ao deixar o caderno na mesa com o colega, Midoriya voltou até onde Shoto estava parado, desculpando-se pela pressa anterior e explicou que antes de começarem as atividades, fariam uma pequena reunião.

Sentados em volta da mesa de centro, olhando para uma maquete eletrônica projetada, três heróis e agora dois estagiários discutiam sobre a nova área de atuação e as funções atribuídas a cada um a partir daquele mês. Era um escritório pequeno formado por jovens, afinal.

Soube que precisaria entregar um relatório a cada dia de trabalho. Midoriya, que provavelmente já estava habituado a fazer isso, anotava várias coisas na medida em que a conversa avançava, e também era bastante requisitado quanto à estratégias e planos de ação, já que tinha detalhes importantes sobre possíveis vilões por escrito e uma boa memória. Todos pareciam contar com ele de uma forma instigante.

— O que acha, Shoto-kun? — Kuroko, uma heroína alta e esguia, cuja individualidade, escuridão, podia cegar temporariamente quem a ouvisse cantar em um raio de mais ou menos vinte metros, chamou-o com uma expressão amena, enquanto apontava para o mapa. — Como vocês fazem lá no Endeavor em relação à patrulhas?

A história de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora