A parede de gelo que se formara logo atrás não iria durar muito tempo. Shoto ouvia o som da própria respiração acelerada enquanto buscava a lanterna pela bagunça do que tinha sido a luta que parara tão subitamente quanto seu começo. As tosses entre gemidos do colega deitado de lado em cima de escombros o estavam preocupando. Com a luz agora nas mãos, agachou-se e virou-o de barriga para cima no intuito de examinar o estrago.
A primeira coisa que notou foi a quantidade de sangue que se espalhava pelo chão, ensopando o macacão verde, que o rapaz retirou o mais rápido que pôde, a fim de exibir a ferida. Shoto levou a mão à boca. Através de uma abertura de mais ou menos quinze centímetros, podia enxergar as pedras do outro lado do corpo de Izuku.
— Shoto-k... — Ouviu-o tossir seu nome entre o sangue que saia da boca. — Está muito ruim?
— Não — mentiu sem entender o motivo. — Vai ficar tudo bem. Nós vamos sair daqui.
Era o que ele precisava, tirar Izuku dali o mais rápido possível, mas antes de tudo era necessário estancar aquele ferimento. Não sabia o que fazer. Estava tremendo quando apontou a lanterna para trás, checando a barreira onde o vilão estava preso. Já não importava mais capturá-lo se eles não sobrevivessem.
Subitamente uma ideia lhe passou pela cabeça. Pôs a mão direita sobre o torso do outro, preenchendo todo o buraco com gelo e, em resposta, ouviu um grito rouco ecoar pelo local, antes que ele começasse a se contorcer de uma maneira que forçou Shoto a segurá-lo com certa força até que se acalmasse.
Teria que carregá-lo daquele momento em diante. Como se fosse uma criança, pegou-o com as pernas lhe envolvendo o quadril de um modo que poderia manter a mão gelada sobre a ferida nas costas e segurar a lanterna com a outra. Izuku apoiou a cabeça em seu ombro em uma espécie de abraço para se equilibrar. Desta forma, mancou por caminhos que mais ou menos se lembrava de ter percorrido, procurando o túnel com vento sobre o qual haviam conversado mais cedo.
Repetiu para si mesmo em voz alta que ia ficaria tudo bem durante todo o percurso, mesmo com os espasmos e a tosse esporádica em seus ouvidos. Havia esquecido que direção tomar à frente e não podia dizer se as batidas aceleradas de coração eram suas ou do rapaz em seu colo. Soltou-o por um segundo para pegar o caderno e escutou uma reclamação de dor que parecia ser mais reflexo do que consciente. Demorou um tempo para que conseguisse parar de tremer para ver o mapa.
— Depois dos fios… — Izuku murmurou numa voz arrastada. — Depois dos fios… Para direita. Em frente na encruzilhada… Vai ficar… tudo bem…
— Sim. — Shoto ouviu-o tossir enquanto apertava a mão em suas costas, aumentando a quantidade de gelo.
A melodia assobiada retornou baixinha, fazendo seu estômago se contorcer por um segundo.
Lágrimas embaçaram sua visão e ele as limpou com as costas do braço. Estava irritado e extremamente frustrado consigo mesmo pela incapacidade de se manter calmo e pensar direito naquela hora. O cansaço e a dor no tornozelo o impediam de ser tão rápido quanto necessitava. Acima de tudo, sentia-se culpado pelo que acontecera com o colega.
Olhou para os próprios pés por um segundo enquanto andava. Estavam deixando uma clara trilha de sangue. Suspirou. Bloquear o caminho com gelo não surtiria efeito nenhum, considerando a individualidade do oponente, não havia meios de se esconderem e nesse ritmo seriam alcançados em questão de minutos se não encontrassem uma saída.
A brisa soprava desde um lugar ainda não mapeado e Shoto seguiu-a até outro caminho fechado por grade, através da qual podia visualizar uma abertura no chão que parecia levar a outro túnel vertical, cujo destino desconhecia. Segurou o metal enferrujado, tentando forçar as barras sem sucesso. A reclamação de Izuku em forma de gemido precedeu um engasgo que o fez inclinar o corpo para o lado e cuspir bastante sangue.
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A história de nós dois
Fiksi PenggemarNo último ano da Academia de Herois, Todoroki Shoto e Midoriya Izuku têm que lidar com a pressão de serem grandes heróis e competirem pelo primeiro lugar, enquanto desenvolvem sentimentos um pelo outro.