Era realmente como no começo do primeiro ano, quando Todoroki o havia chamado para uma conversa durante o festival esportivo com uma voz dura e um pouco fria. Inclusive, mesmo que o teor do assunto fosse completamente diferente daquela vez, a sensação de apreensão e ansiedade, misturadas a uma certa curiosidade estranha, era bem parecida.
A despeito da nostalgia, porém, Izuku se perguntava se seria o fim de todo o progresso que conseguiram em sua amizade até ali enquanto seus passos ecoavam pelo corredor. Em instantes, estavam no mesmo lugar que havia usado para convidá-lo a se juntar ao escritório onde estagiaram juntos por um período que agora lhe parecia extremamente curto e distante.
Com os olhos pregados no chão, sentia o corpo pesado, o pensamento ia para todos os lugares. Seria realmente esse o fim de tudo? All Might tinha dito para deixar as coisas se resolverem sozinhas, mas que tipo de resolução exatamente queria? Durante três anos, tinham se tornado amigos, não havia um momento em que a presença do outro rapaz não o enchesse de motivação. O que poderia dizer ou fazer para não perder isso? Acima de tudo, o que esse sentimento significava de fato para si?
Seu coração pareceu parar por um instante junto com o som dos passos, quando o outro se virou em sua direção, próximos à porta de saída para o jardim de trás, onde mais ninguém frequentava durante o almoço. O silêncio se estendeu por segundos e finalmente Izuku teve coragem de encará-lo. Havia algo para além da feição inexpressiva de Todoroki quando os lábios dele se contorciam ligeiramente e algumas rugas se formavam entre suas sobrancelhas.
Naquele ponto, sentiu que precisava falar alguma coisa, ou sua cabeça iria implodir. Tomou fôlego, tirando a pouca coragem que lhe restava do receio de perder sua amizade. e começou, sem nem mesmo saber como continuar:
— T-Todorok...
— Midoriya…
Os dois pararam ao mesmo tempo e se encararam assustados. As bochechas de Izuku doíam e sua garganta parecia seca, mas ele tinha que tentar...
Todas as perguntas que gostaria de fazer, e havia tomado coragem para tal, se esvaíram de sua cabeça assim que Shoto se curvou diante de si, exibindo até a parte de trás da cabeça, onde os fios se dividiam perfeitamente em torno da nuca. A reverência inesperada deixou o outro rapaz completamente sem reação, fazendo com que apenas o assistisse se levantar tão de súbito quanto o ato anterior.
As rugas na testa de Todoroki se intensificaram um pouco mais e ele respirou fundo antes de começar a falar novamente.
— Me desculpa. Sobre o que eu fiz no hospital… — Estava falando em um tom normal, mas seu semblante era de alguém se esforçando para por as palavras para fora. — Você tem todo o direito de não querer mais ficar perto de mim, depois de tudo. Mas eu te asseguro que nunca mais vou fazer nada que você odeie assim de novo, então…
— Eu não odiei! — Izuku interrompeu-o sem se dar conta do que dizia. Suas mãos automaticamente se levantaram no intuito de acalmar o outro. Não tinha planejado uma continuação, mas os olhos confusos o mirando pareciam ansiosos por ela — E-eu não odiei… aquilo. Eu… eu só... N-não entendi… quer dizer, eu entendi o que foi, mas não o m-motivo. E aí você correu e…
— Não odiou...
Todoroki repetiu mais para si próprio em um tom de voz que condizia com o aspecto confuso. Parecia que ele não havia preparado nada para aquele tipo de resposta e estava tão perdido quanto o outro.
Izuku suspirou, sentindo o estômago dar voltas, mas decidido a resolver a situação de uma vez. Se haviam decidido se entender, era melhor que tudo ficasse claro.
— P-por que… você me b-b-beijou?
Finalmente a pergunta tinha sido feita e ele sentia um certo alívio por trás dos braços que escondiam seu rosto vermelho, dando espaço apenas para o par de olhos redondos que se recusavam a descolar do garoto à frente. Esperou naquela posição enquanto ele parecia matutar a resposta na cabeça, inexpressivo.
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A história de nós dois
Fiksi PenggemarNo último ano da Academia de Herois, Todoroki Shoto e Midoriya Izuku têm que lidar com a pressão de serem grandes heróis e competirem pelo primeiro lugar, enquanto desenvolvem sentimentos um pelo outro.