Castigo pelo esquecido

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Hoje eu me superei no título merda, parabéns pra mim.
Esse capítulo ta mais explicativo, pra vocês que tem desejos por explicações ;)

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Acordar no hospital não era uma situação surpreendente para Izuku, mas aquela era a primeira vez que não conseguia se lembrar do motivo de estar ali. O sol entrava baixo pela janela forma a indicar que estava de tarde e Shoto roncava baixinho na cama ao lado. Observou-o, ao recapitular o dia anterior, podendo notar a diferença de cor dos cílios compridos e como o canto de sua boca entreaberta era atraente…

Escondeu a cabeça debaixo do lençol que o cobria. Eles tinham mesmo feito o que achava que tinham feito na hora do almoço, certo? De alguma maneira, suas memórias estavam meio borradas e confusas, mas a imagem mental daqueles cílios tão perto de seu rosto e da respiração quente um instante antes de seus lábios se encontrarem era realista demais para ter sido um sonho.

Depois disso… Pressionou a testa contra as mãos que seguravam a coberta no esforço de entender o que tinha acontecido durante a tarde. Será que ele estava com amnésia? Será que era o motivo de estar ali, já que não tinha nenhum ferimento além de um joelho ralado? De qualquer forma, por que Shoto também dormia na cama ao lado? Alguma coisa tinha que ter acontecido afinal. Será que tinham feito mais alguma coisa...

— Izuku… — A voz do outro rapaz o tirou de seus murmúrios com um fazendo-o saltar um pouco da cama. Contudo, mesmo depois de se acalmar, parecia que o coração não queria desacelerar conforme o encarou. Shoto esfregava uma das bochechas enquanto se apoiava no cotovelo para sentar e escaneou o local, inexpressivo, até voltar a atenção para o colega. — O que aconteceu?

— Você também não lembra?! — Exclamou preocupado. Com a negativa de cabeça, Izuku levou uma das mãos ao queixo antes de completar. — A última cena que me recordo foi a hora d-do almoço… E então alguém chegou e… não sei mais.

Shoto ficou em silêncio por um instante, provavelmente buscando alguma memória para dizer o motivo de estarem ali. Esperou-o sem saber o que fazer, até notar marcas avermelhadas nos pulsos do rapaz, as quais nenhum dos dois conseguia dizer de onde vinham, mas que davam mais uma pista de que alguma luta deveria ter acontecido.

— Será que foi alguma individualidade que nos fez perder a memória? — Perguntou mais para si do que para o outro. — Talvez a gente…

Antes de acabar a fala, uma batida na porta precedeu a entrada da Recovery Girl junto com Ojiro, que também vestia roupas de hospital, mas ao contrários dos dois, tinha a cabeça e um dos braços enfaixados, como se houvesse se machucado sério. No momento em que ele se curvou diante dos meninos e agradeceu, Izuku não conseguiu deixar de ficar um pouco envergonhado e mais confuso ainda. A médica pareceu notar as expressões inquietas, quando continuou

— Parece que amnesia também é um dos efeitos colaterais do soro… Mas as individualidades de vocês já voltaram, ao que tudo indica.

— Soro? Individualidades? — Shoto cortou. — O que aconteceu ontem a tarde?

— Não se lembram mesmo de nada? — Ojiro perguntou um pouco chateado e curioso ao mesmo tempo. — Vocês quebraram praticamente todas as regras da escola e salvaram a minha vida no processo.

Os rapazes se entreolharam com as sobrancelhas franzidas. Ao confirmar que Shoto também não tinha ideia do que o colega estava falando, Izuku negou, buscando uma explicação de alguma das duas pessoas de pé no quarto. Depois de um suspiro, a médica sentou em uma cadeira próxima à mesa de cabeceira entre as camas e informou-os de todo o ocorrido desde o momento em que os professores foram avisados do sumiço até a prisão de Head Hunter.

Quando ela terminou, Izuku poderia dizer que estava em choque com toda aquela informação. Como ele podia ter esquecido? Não conseguia nem ao menos se imaginar aplicando uma injeção desconhecida no amigo e muito menos sendo responsável pelos ferimentos de corda em seus pulsos. Um calafrio lhe percorreu a espinha. Levantou os olhos na direção da Recovery Girl e perguntou.

— O que aconteceu com Hakagure-san?

Em um instante, o clima da sala ficou ainda mais pesado do que antes, quando os semblantes da médica e de Ojiro se fecharam para um certo pesar. Izuku engoliu seco, percebendo o quanto estava com medo daquela resposta.

— Está viva. — A médica disse de uma vez, acalmando um pouco os meninos. — Porém o tiro acertou a coluna e foi preciso fazer uma cirurgia de emergência. É difícil fazer cirurgia em alguém, bem… invisível, então tivemos bastante trabalho. No momento ela provavelmente não vai mais conseguir andar, mas estou certa que com um ano de fisioterapia é possível reverter o caso.

— E a escola? — Izuku tentou não soar tão alarmado quanto estava. — Ela não vai mais poder se formar?

— Não é assim. — A médica tinha um tom sério que assustava e confortava ao mesmo tempo. — Não é tão incomum casos assim acontecerem. É óbvio que a U.A. não pode formar alunos incapacitados para atuarem como heróis, no entanto existem certas políticas de incentivo para que não percam completamente o progresso e a chance de terminar a escola. Dito isso, ela vai repetir o terceiro ano e se formar um pouco depois de vocês.

Um silêncio preencheu o local enquanto as informações eram processadas na cabeça dos três jovens. Não era um futuro muito animador, mas parecia haver esperança afinal. Izuku não podia deixar de se sentir culpado, porém. Era a segunda vez que encarava o mesmo vilão e a única coisa que tinha conseguido fazer era dopar a si mesmo e a Shoto e deixar que a colega levasse um tiro em seu lugar. Abaixou a cabeça, desanimado, pensando no que All Might diria daquela situação.

— Falando sobre a escola. — Recovery Girl retomou a conversa com um tom mais firme. — Por mais que não se lembrem do que aconteceu ontem, não tem como deixarmos passar o fato de que vocês desobedeceram todas as ordens, atacaram o senhor Lunch-Rust, driblaram o sistema de segurança e fugiram dos limites da U.A. sem nenhum aviso. Por isso, estão suspensos pelo período de uma semana a partir de amanhã.

— Uma semana?! — Izuku praticamente choramingou em sua exclamação, ao se dar conta do que aquilo significava. — Mas as provas intermediárias são daqui a quinze dias! Nós vamos perder aulas importantes nesse período.

— Nós vamos ser punidos por ter ido salvar um colega? — A voz de Shoto indicava que ele estava estressado também pelo que tinha acabado de ouvir.

— Bom, vocês não estão acima das regras, mesmo que a intenção tenha sido boa. — Recovery Girl suspirou com certo desânimo. — Não é a primeira vez que fazem isso. Vocês são os melhores alunos da escola, precisam ser um exemplo para os colegas e também para a sociedade. O mundo lá fora vai ter uma imensidão de impedimentos muito piores do que esses e, como futuros profissionais, precisam aprender a lidar com isso também.

A expressão de Shoto não se amenizou, mas ele também não respondeu mais. Após uma série de checagens, a médica foi embora junto com Ojiro, deixando os meninos sozinhos no quarto mais uma vez. Passariam a noite ali e depois receberiam alta com instruções de irem direto para os dormitórios de onde não sairiam exceto nos horários de comida.

Izuku olhou pela janela para a lua que já estava alta no céu azul escuro. Sentia peculiarmente cansado, como se seu corpo estivesse ainda anestesiado, e ao mesmo tempo nervoso por ficar a noite inteira ao lado do colega. O que poderiam conversar? Será que conseguiriam lembrar de tudo se se comunicassem? O pensamento sobre o beijo o fez tocar o próprio lábio com as pontas dos dedos. Será que precisavam falar sobre isso naquele momento?

Arriscou virar a cabeça para o lado, esperando encontrar Shoto encarando-o, mas quando percebeu, ele tinha voltado a dormir tal como fazia há poucos minutos. Não o culpou, porque sentia-se tomado por um sono enorme ainda. O peito do rapaz subia e descia e sua boca estava ligeiramente aberta. Era difícil até mesmo querer parar de observá-lo. Antes de pensar em qualquer outra coisa estranha que estava com vontade de fazer, resolveu se virar para o outro lado e ceder ao efeito tardio do soro.

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E aí, gostaram? O que acharam do que aconteceu com a menina invisível?
Comenta aí pra me dar uma força!

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