Emergência

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A manhã da quarta-feira foi como a dos dias anteriores. O rapaz, agora em trajes verdes, guardou as coisas no vestiário logo depois de se trocar. Ao seu lado, Todoroki terminava de fechar a roupa em silêncio. Ele sempre emanava uma aura quieta e pensativa, mas Izuku sabia que no fundo era uma pessoa incrível e confiável de se ter por perto.

— Está deixando o cabelo crescer?

A pergunta repentina chamou a atenção do outro. Viu-o pôr a mão em uma porção branca da franja, que já ultrapassava a ponta do nariz, e refletiu que aquela era uma perspectiva bonita, de certa forma. O rapaz deu de ombros antes de voltar a atenção para o zíper do macacão.

— Desde o festival esportivo, as coisas ficaram um pouco agitadas lá em casa. Ainda não tive tempo de cortar.

— Está bonito. Imagino que deva ficar legal com ele bem grande. — Izuku desviou os olhos para o próprio armário, imaginando se tinha dito algo embaraçoso. Mudou de assunto, então, para o que realmente queria falar desde o início da conversa. — E-Eu estive pensando… Se p-poderia começar a te chamar de Shoto…

Engoliu em seco a pergunta recém feita antes mesmo de ouvir o que o garoto tinha a responder. Quer dizer, eles eram amigos, não eram? Mesmo se conhecendo desde o primeiro ano, podia mesmo dizer que tinham esse nível de proximidade? Talvez fosse ainda muito cedo para aquilo e teria sido melhor esperar o final do intensivo. Definitivamente poderia ter escolhido um momento melhor, ou devesse ter soado mais descontraído, como o Togata havia feito desde o princípio…

— Entendo. — Todoroki fechou a pequena porta de metal com suas coisas dentro, sem se preocupar em trancar. — Você acha melhor usarmos nossos nomes de herói durante o estágio…

— Não, não é isso! — Izuku respirou fundo antes de se explicar. — Recentemente me disseram que é normal algumas pessoas mais próximas se chamarem pelo primeiro nome. Então eu estive pensando que a gente já se conhece há um tempo… Seria legal se você me considerasse um amigo.

O rapaz à sua frente permaneceu inexpressivo por alguns segundos, enquanto parecia processar a informação. Aos poucos seu semblante foi se iluminando, até se transformar em um pequeno e introspectivo sorriso, e ele levantou a cabeça novamente em sua direção, como se houvesse decidido algo, que ansiava por dizer. Sustentaram olhares, enquanto percebeu uma confirmação sutil com a cabeça.

— Izuku. — Ouvir seu nome ser dito devagar pela voz do outro fez suas costas gelarem e a garganta ficar seca. Em teoria, passariam a se tratar de maneira menos formal, como havia sido com Yuga há alguns dias, mas na prática algo soava completamente diferente do esperado. Suas bochechas começaram a arder quando o rapaz prosseguiu — Eu…

— Estou interrompendo alguma coisa? — A voz de Kuroko ecoou pelo vestiário, fazendo-o praticamente dar um salto na direção da estante atrás de si. Antes mesmo que pudesse disfarçar qualquer coisa, ouviu a notícia vinda em um tom mais sério. — Acabaram de nos ligar da polícia. Parece que outro buraco estranho apareceu no meio da cidade, como o de anteontem, só que maior o suficiente para abalar a estrutura de um edifício de negócios. Estão suspeitando de que seja a individualidade de alguém e por isso nos chamaram para investigar. Vamos fazer uma pequena reunião agora e depois vocês dois vão comigo até lá.

Após se darem conta da seriedade da notícia, o assunto anterior ficou de lado conforme os três foram até a sala principal, onde o mapa sobre a mesa indicava os lugares do primeiro e do segundo episódios marcados em vermelho. Não parecia existir qualquer correlação lógica entre cada um deles e mesmo que a possibilidade de ter sido apenas um abalo sísmico não fosse descartada, havia fortes indícios de que algum vilão misterioso estava por trás daquele estrago.

A história de nós doisOnde histórias criam vida. Descubra agora