Capítulo 24. Lágrimas no Mar

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Eu estava completamente absorta olhando para o mar. Na minha cabeça se passava um filme com um começo, um meio e um fim, e o fim era a notícia da morte de meu pai. Sentia um peso enorme no peito. A dor era esmagadora.

O meu choro e a minha dor não era somente pela morte dele, mas por tudo o que isso representava, não era apenas uma questão de nunca mais o ver, era de nunca mais ter a chance de poder consertar a minha relação com ele, de falar com ele novamente. A nossa relação só tinha se tornado complicada há oito anos, quando eu saí de Miami para morar em Los Angeles, antes disso era a mais descomplicada de todas, éramos apegados um ao outro.

Por eu ser a filha mais nova ele tinha uma proteção a mais comigo, mais do que com os meus irmãos. Ele me chamava de Mellie, enquanto todo mundo me chamada de Mel, e eu adorava que ele era o único a me chamar assim. Quando eu era criança, ele sempre parava o que estava fazendo, por mais importante que fosse, para me dar atenção. Ele não tinha feito o mesmo pelos meus irmãos, por estar sempre muito ocupado com o trabalho, então eu era a sua última chance de corrigir esse erro, e ele me mimou de todas as maneiras que uma criança gostaria. Na minha adolescência, ele era mais severo e era bem mais ciumento comigo, enquanto a minha irmã passava de namorado para namorado, ele me mantinha na rédea curta, mas nunca perdeu o carinho, o amor e o cuidado. Ele sempre foi um pai amoroso.

Quando eu comecei a namorar com o 'P', ele ficou feliz, não só ele, todos ficaram. Ele o conhecia muito bem, sabia da criação que ele teve, afinal o pai era o seu melhor amigo e sócio, ele o viu crescer e sabia que ele me trataria bem, porém quando o nosso relacionamento se tornou abusivo, ele não soube, ninguém soube, nem eu mesma sabia. 'P' agia normalmente com todo mundo, como ele sempre foi, ninguém nunca imaginou o que acontecia de verdade entre nós dois, apenas o meu irmão notou a mudança dele e tentou me alertar, mas eu achei exagero, eu conhecia bem o 'P' e não achava que ele estava tentando me controlar. Obviamente eu me enganei demais, e não foi apenas eu, 'P' enganou e manipulou todo mundo, porém eu fui a única que pagou muito mais caro por isso.

Quando eu terminei o namoro, decidi contar aos meus pais o que acontecia entre mim e ele quando estávamos sozinhos, mas nem foi preciso falar muito, pois 'P' se revelou agressivo na frente deles quando tentou me levar a força para o baile de formatura, fazendo um escândalo, somente naquele momento eles viram quem o 'P' realmente era.

Depois que eles souberam a verdade sobre o nosso relacionamento, 'P' ficou proibido de entrar na minha casa, mas o motivo não foi apenas por eles saberem de tudo, e, sim, porque na manhã seguinte ao término, 'P' apareceu na minha casa e tentou abusar sexualmente de mim, e ele só não conseguiu porque o meu irmão estava em casa.

Apesar disso, meu pai tinha planos para a minha carreira profissional. Desde criança, eu era curiosa e me interessei pelo trabalho dele, e isso lhe despertou em sonhar com um futuro para mim na firma. Ele sonhava em me ver cursando Direito em Harvard e em me tornar uma advogada, mas na adolescência eu também me interessei pelo trabalho da minha tia, mais do que a advocacia, porém guardei isso para mim, pois os planos para eu cursar em Harvard já estavam sendo traçados por ele e eu não tinha coragem de tirar a sua alegria em ver a filha seguir os seus passos. Mas tudo isso mudou quando eu terminei o namoro e 'P' passou a me perseguir. Ele também iria para Harvard e eu sabia que ele continuaria a fazer tudo aquilo lá, o meu pai também pensou nisso e ele já havia providenciado um segurança particular que me acompanharia para onde eu fosse e, mesmo não gostando da ideia de não ter a minha liberdade, minha privacidade, eu estava aceitando. O ponto crucial para eu desistir de ir para Harvard foi quando 'P' me disse que faria da minha vida lá o inferno. Eu não tive dúvidas disso, sabia que ele faria, mesmo eu tendo um segurança, ele encontraria uma maneira. Então eu não vi outra saída. Se eu decidisse ir para Harvard, essa seria a minha pior decisão! Pensando em mim, na minha vida e nas minhas escolhas, eu decidi não ir e fiz a minha inscrição na UCLA. Com exceção da minha tia, do meu irmão e das minhas amigas, que sempre me apoiaram, ninguém mais sabia disso. Passei meses criando coragem para contar a minha decisão para meu pai, mas na semana de ir embora, antes que eu pudesse contar, ele achou a carta da UCLA e discutimos. Eu saí de casa e nunca mais voltei.

Só Faltava V💋cê! - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora