Capitulo 51 (Em busca de abrigo)

275 29 0
                                    

Maria
- Fiquei passando aquela esponja úmida pelo corpo enquanto continuava sentada embaixo do chuveiro fechado com um balde com água do meu lado que tinha pedido pra Leticia deixar já foi horrível o que aquela mulher me disse mais saber daquela forma foi mais cruel ainda,tentar entender seus motivos era um verdadeiro inferno interno,me lembrar de todas as suas palavras parecia um pesadelo que invadia meus pensamentos e ao passar outra vez sobre meu corpo tenho vontade de rasgar aquilo entre meus dedos pela tamanha raiva que sentia,eu sou uma aberração como minha"mãe"disse dentro de casa.
Graça:- Como está se sentindo?
- Não devia ter ficado exposta só que foi tão rápido que até achei que não daria em nada,fomos apresentadas ao mesmo jogo inúmeras vezes antes e eu melhor do que ela sabia como acabaria.
Maria:- Você se importa?
- Tinha acabado de entrar em casa,maldição dizer isso parecia ser coisa da mente de outra pessoa porque foi apenas alguns dias que tinha deixado aquele lugar,perdido minha virgindade e descoberto que era adotada,a cereja do bolo foi entender que tanto ela como Alex são farinha do mesmo saco.
Graça:- Pense o que quiser de mim filha mas...senti sua falta.
- Por que me sentia daquela maneira mesmo depois de saber a verdade?E a resposta era simples como respirar é porque à amava como mãe e odiava o fato de nunca estar à altura de nada,querendo que prestasse atenção em todas as coisas que eu fazia acabei me esquecendo de que precisava lembrar que minha prioridade é dar um jeito na minha vida e cuidar dos meus sentimentos,acima de tudo não deixar que ela ou qualquer outro fosse o foco da minha felicidade,era estranho essa coisa de me amar depois de todos esses anos vivendo com uma família que acreditava ser boa e essencial perceber que nós nem éramos ligados pelo sangue de fato mais não importava como seria dali pra frente sempre amaria Lúcia com todas as forças,éramos irmãs de alma,acabou!
Maria:- Por que nunca me disse a verdade?
Graça:- Acabei de fazer um bolo de chocolate vai querer um pedaço?
Maria:- Não valeu me contentaria se você falasse a verdade sobre quem são meus verdadeiros pais e por que nunca me disse.
Graça:- Quem te contou isso!?Foi o Alex!?
Maria:- Importa à essa altura!?
Graça:- Não muito.
- Aquele silêncio breve e irritante só me causavam mais raiva parecia que"Dona Graça"não dava a mínima muito menos tentava fazer as coisas serem diferentes,queria acreditar desde o início que talvez ela fosse me pedir desculpas ou talvez notasse algum arrependimento no tom da voz mas a resposta vinha misturada de desprezo e um tanto faz que doía como um tapa na cara.
Graça:- Por favor querida não me odeie.
Maria:- Pretendia falar algum dia?
Graça:- Já que sabe de tudo não preciso mais esconder nada,se você nem descobrisse não seria da minha boca!
- Agora entendo que por mais discussões que tivéssemos sua opinião continuaria a mesma e sou uma completa idiota por esperar alguma coisa da minha família quer dizer dessas pessoas.
Graça:- Que e isso querida não chore.
- Ao sentir seu toque doce e gentil pelas minhas bochechas gostaria apenas que esse tipo de carinho fosse em outra situação diferente dessa que estou enfrentando,loucura isso!
Maria:- Eu te odeio!
- Falei sem pensar só que a raiva controlava minhas vontades e tudo que queria era machucá-la como fez comigo.
Graça:- Aceito isso,o que as mães ganham dos seus filhos.
Maria:- Como consegue ser tão cínica!?Sei que sabia desde o início dos abusos do Alex contra mim,como conseguiu!?E se ele tivesse mesmo...
Graça:- Tentativas querida!
- Sua voz fica esganiçada e alta como se a possibilidade do seu filho predileto fazer qualquer mal à outro ser humano fosse impossível.
Graça:- Avisei pra ele diversas vezes pra pegar leve com você na verdade fui sempre eu que interferia pra não completar as loucuras que tinha na sua mente!
- Meu Deus essa mulher,pior do que imaginei que era,pra dizer esse tipo de coisa sem nenhum tipo de arrependimento devo estar certa mesmo.
Maria:- Você é doente!
Graça:- Cuidado com o tom de voz mocinha!Ainda sou sua mãe para todos os efeitos!
Maria:- Lúcia já descobriu a verdade também!Acha que vai ficar do seu lado!?
Graça:- Tá bem,fique calma amorzinho.
- Ao tentar me abraçar à empurro para longe mesmo sabendo que estou me recuperando das diversas sequelas causadas pelo seu filho continua do lado dele o protegendo das coisas que fez e continua fazendo comigo.
Maria:- Quem são meus pais?
Graça:- Por que isso agora!?Já passou!Você está conosco,seu pai teve o que mereceu!
- Uma idéia maluca passa pela cabeça mas até pra ela seria demais ou será que estou tapando o sol com a peneira?É doloroso pensar que seria capaz de uma coisa tão ruim.
Maria:- Você matou ele?
- O silêncio vem em sinal de alerta que pode ser colocado de diversas maneiras mas espero pacientemente sua resposta como última esperança de que não fosse uma total desconhecida para mim.
Graça:- Deus!É claro que não!Apesar das diversas traições nunca planejei alguma coisa pra ele.
- Deveria estar tranquila mas meu coração continua disparado no peito e toda essa confusão dando voltas na minha mente só me faz ter mais perguntas à essa mulher que me despertava sensações mistas e nenhuma era boa.
Graça:- Não acredita em mim?
Maria:- O que acha?
Graça:- Claro que não.
- Sua risada vazia e debochada só me fazia querer sair daquele lar tóxico o mais rápido que pudesse mas a curiosidade tinha matado o gato então permaneci onde estava apenas querendo desenterrar mais meu passado.
Graça:- Você é filha dele,era pra ser assim pelo menos mas a mentira não durou muito.
Maria:- Do que está falando!?Está bêbada!?
- Desde a morte do meu pai"minha mãe"tem se afogado em diversos vícios entre eles o da bebida,seu preferido era uísque ela adorava beber um copo toda vez que podia e as vezes perdia totalmente a noção e acabava ficando bêbada.
Graça:- Não querida pela primeira vez em muito tempo me sinto bem e isso é a mais pura realidade,pela sua cara não entendeu nada,nem à culpo já que é um enredo bem complicado.
Maria:- Chegamos á beira do precipicio"mãe"antes de me jogar gostaria de escutar tudo.
Graça:- E assim vai ser.
- Escuto o barulho de copo sendo colocado em algum lugar e em seguida seus passos parecendo vir na minha direção.
Graça:- Sabe quando tive sua irmã fiquei de resguardo por um certo tempo nessa época seu irmão já tinha uns quatro anos mas me dava um trabalho enorme sempre arranjando brigas no colégio querendo ser um desordeiro mas acreditei que com o tempo melhoraria ou apenas deixaria essa personalidade rebelde e dura pra trás.
Maria:- Seu filho é um monstro!
- O ressentimento na minha voz podia ser palpável já que não escondo mais a raiva que sinto por anos de abusos cometidos por esse desgraçado que Graça acobertava desde o princípio!
Graça:- Tudo bem admito que teve algumas vezes que passou do limite,por sua causa entrávamos vez ou outra em atrito mas como qualquer família resolvemos.
Maria:- Você tá insinuando que o problema mental do seu filho é minha culpa!?
Graça:- Talvez não tudo Maria mas boa parte sim,desde que entrou na minha vida tudo tem sido horrível,pode acreditar querida que tentei!
- Meu rosto estava molhado das lágrimas que continuavam caindo,confesso à mim mesma que se pudesse sairia daquele lugar,só talvez estivesse acumulando tudo pra desabar depois como costumava fazer quando era atacada verbalmente ou fisicamente pelo Alex.
Maria:- Tentou o que!?
Graça:- Amar você realmente!Mas não dá quando te olho vejo aquela mulher através desses olhos.
- Ao sentir sua mão pelo meu rosto dou um tapa nela para não me tocar mais,nem deveria estar ouvindo tanto veneno escorrendo por essa cobra mas se existia alguma hora pra ouvir tudo que sempre teve vontade de dizer aquele é o momento.
Maria:- Minha mãe!?Você à conhece!?Onde posso encontrá -la!?Ela ainda mora aqui em São Paulo!?
- A verdade pode ser encarada como maligna ou benigna mas se poderia encontrar a pessoa que me deu a vida e que pudesse me mostrar que não estive sozinha mesmo quando me sentia dessa forma talvez nem tudo poderia ser encarado como ruim.
Graça:- Tem certeza que quer mesmo ouvir minha filha?
Maria:- Me diga.
Graça:- Sua mãe foi usuária de drogas desde muito tempo mas só fui descobrir isso alguns meses depois,eu confesso que não tinha coragem de aceitar o que Fernando fez comigo mas...foi libertador quando soube.
- Tentei perguntar mais só que existia um bloqueio imenso na garganta que fazia tudo que essa senhora contava doer como o inferno.
Graça:- Ele não foi mais o mesmo e quando foi demitido do emprego pareceu que tinha sido construído um muro entre nós,toda vez que tentava pegar alguma migalha de afeto do Fernando ele me cortava dizia que ia sair e voltava logo é claro que lembrando bem do que houve talvez eu fosse mais cega do que você filha porque os sinais estavam sendo esfregados na minha cara!
- Ao sentir sua mão no meu braço acabo perdendo a cabeça e partindo pra cima dela tentando lhe balançar enquanto chorava pra tentar desmentir todos os absurdos que tinha ouvido de uma mulher que ate uma semana atrás considerava ser minha mãe biológica.
Glória:- Me solta Maria!Agora que estou contando tudo não tem o direito de tentar estragar mais nada!Bem onde estava?Verdade,lembrei!
- Seu cinismo me dá vontade de vomitar com o assunto sério que está me contando,esperava pelo menos seriedade na sua voz.
Graça:- Então acabei contratando um detetive particular para tentar entender o que seu pai fazia,se minhas suspeitas estavam mesmo certas,foi numa sexta à noite que ele havia batido fotos dele naquela ruela de viciados como era o nome mesmo!?
- Ao tentar lembrar do lugar algo me passa pela mente mas talvez nem fosse,será que seria real essa suspeita?
Graça:- Cracolândia acho,pelo que parecia sua"mãezinha"fumava várias coisas bem pesadas,bem feito pra ela!Teve o que mereceu por roubar meu marido!
Maria:- Cala à boca!
- Consigo entender que esteja com raiva das diversas traições que provavelmente meu pai teve com minha mãe mas não ia deixar que fizesse pouco caso de outro ser humano assim,uma vida acima de tudo que se perdeu infelizmente.
Graça:- Me desculpa mas a verdade dói não é?Acho que foi por essa razão que Bárbara e sim esse era o nome daquela maldita que me assombra mesmo depois de morta!Eu à odeio por ter me feito de idiota e mais ainda pela maneira que Fernando te trouxe pra nossa casa,dando um verdadeiro veredito que iria te criar!
Maria:- Como ela morreu?
Graça:- Isso importa!?Ela está morta queimando no inferno como sempre deveria estar,você...
- Esse deve ser o momento que confessa que eu merecia o mesmo destino que minha mãe!?Porque sei o quanto pode ser cruel nesse tipo de coisa,já me mostrou isso numa simples conversa!
Graça:- Levou menos de nove meses pra nascer Maria,sua mãe não parava com as drogas mesmo no período mais frágil da sua vida,depois que sofreu aquele acidente enquanto perambulava drogada,grávida precisou dar a luz depressa e aqui está você.
Maria:- Meu Deus!
- Àquela loucura toda jogada em cima de mim como um balde de água fria e a pior parte é que dona Graça deveria estar adorando me ver daquela forma.
Graça:- Dias depois de Bárbara ter falecido no parto seu pai te trouxe pra essa casa alegando que não deixaria uma criança tão pequena e indefesa sozinha mas ele sabia que você já tinha nascido com essa peculiaridade sabe,nem me disse nada!Pra que esconder algo assim!?Foi só com o tempo que percebia que não era como meus filhos querida,a pior parte de tudo é que comecei à me apegar de verdade à você,não é ridículo isso?Gostar da filha da amante do seu marido,a vida é mesmo bizarra as vezes querida.
Maria:- Você não faz idéia!
- Ela esteve me escondendo isso por tanto tempo e ainda tem coragem de dizer que me amou?Ou me ama!?Como vou acreditar em mais mentiras daquele tipo!?Suas contradições são tão perturbadoras quanto seu cinismo barato!
Graça:- Quando seu pai descobriu a verdade sobre você não suportou mais e acabou tirando a própria vida.
Maria:- Você disse pra todos que ele morreu por acidente de trânsito!
- Gritei isso tão alto que alguém bateu na porta naquele instante e aquelas vozes eram conhecidas mas não podia falar com ninguém pelo menos não agora,mesmo que me partisse a alma iria ouvir essa cobra até o fim.
Graça:- Precisava inventar alguma coisa pro seus irmãos,essa vergonha deveria ser abafada,esquecida!No fim das contas Bárbara esteve tão mergulhada no vício que acabou cometendo a loucura de ficar com um desses delinquentes em troca de fumar umas pedras e adivinha?Fernando descobriu que não era o pai,nossa adorei saber disso!Menos um peso na consciência.
Maria:- Isso é muita loucura pra um dia!
Graça:- Pelo menos falei filha.
Maria:- Não me chame assim!Você não tem esse direito!
Graça:- Pode falar o que quiser Maria mais aceite a verdade que à criei apesar de tudo e mesmo sabendo que nunca foi minha não cogitei em abandoná-la num orfanato!
Maria:- Você é um monstro!
Graça:- Nunca disse que fui uma boa pessoa mas você está aqui,criada!Apesar de cega tem saúde e uma boca bem grande!
Maria:- E meu pai verdadeiro?Você o viu?
Graça:- Você acha que iria atrás dessa gente para que!?Depois da morte de Fernando e da desgraçada acabei aceitando meu destino e seguindo em frente,quer saber!?Não há um único dia que não lembre com alegria do que houve com aquela mulher!
Maria:- Eu te odeio!
Graça:- Fecha a porta quando passar!
- Tento sair o mais rápido que posso apesar de estar arrebentada não deixaria mais ela me ferir mesmo tendo dado sua cartada final sobre mim acho que entendi finalmente o que era não ser aceita naquele lugar,entre essas pessoas porque não tínhamos o mesmo sangue,isso para Graça era imperdoável,pior ainda é que toda a raiva que sentia da minha mãe foi transferida,era por causa disso que sempre foi distante e fria comigo.
- Ao me encaminhar para o quarto de John esbarro em um peito largo e forte e mãos grandes tocam meus ombros.
Antônio:- Ei!Você está bem?Escutamos os seus gritos e pensamos que talvez...
Leticia:- Nossa!Alguém te fez mal!?Hum!?
- Leticia me tira dos braços de Antônio e me abraça forte tentando de alguma maneira me confortar,até agora não perguntei o quanto tinham escutado mas também não precisavam saber,esse assunto era entre mim e Graça.
Antônio:– Onde está o John?
Maria:– Foi para o hospital.
Leticia:– Deus!Aconteceu alguma coisa com ele!?
Maria:– Na verdade foi com a Lurdes,um acidente em frente e ele à levou
Letícia:– Nossa!
Antônio:– Qual foi o hospital?
Maria:– O que fica à três quadras daqui.
Antônio:– Sei vou dar um pulo lá!E você vem?
Leticia:– Não,melhor eu ficar e fazer companhia pra minha amiga.
Maria:– Leticia não se preocupe comigo,melhor ir com seu irmão.
Leticia:– Nada disso!Além do mais Antônio e John podem lidar com certas coisas sem problema algum,qualquer coisa fica com seu celular na mão tá certo!?
Antônio:– Deixa comigo!
             — Eles se despedem um do outro,pelo que parecem se beijam no rosto,era exatamente isso que me dava uma pontada de inveja esse tipo de companheirismo e cumplicidade entre família que meio estava faltando apenas de Lúcia por vários anos e nem cheguei à ter isso do marido da minha mãe e até agora saber da verdade assim me fazia sentir arrepios na espinha.
Antônio:– Você vai ficar bem.
            – Aquele beijo na testa significava tantas coisas mas naquele momento não podia estar mais confortada por um estranho como pensei que estivesse alguma vez com aquelas pessoas.
Leticia:– Tudo bem agora que meu irmão se foi pode me contar.
           – Tentando desembaraçar meus cabelo molhados escuto a porta ser aberta com força e aquela voz que tanto sentia falta apesar de saber,sim ele estava por toda parte na minha mente mesmo tentando negar para mim o que sentia.
John:– Maria!?Você tá bem!?
Maria:– Sim agora estou.

Aos teus Olhos - Série IMPERFEIÇÕES Onde histórias criam vida. Descubra agora