Capitulo 68 (Porque fazemos o que fazemos)

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John
       " — Não fiquei orgulhoso de mim ao sair pela manhã bem cedo mas estava perdido,precisaria encarar mais uma vez a verdade de que minha mulher e filho tinham morrido precisei esfriar a cabeça e me afastar apenas estou me atrasando ficando aqui."
John:– Espero que entenda amor.
        — Já tinha me vestido e tomado um pouco de café mas descia sem gosto parecendo que não tinha ingerido nada ainda,ao beijar sua testa e lhe cobrir um pouco mais saio pela porta e à tranco deixando a chave embaixo do tapete se Leticia ou Antônio aparecerem é assim que iriam encontrar minha garota.
        — Peguei o metrô pelas oito da manhã ainda querendo fazer um caminho que não me pertencia mais só que o momento finalmente tinha chegado e esperava que de uma vez por todas não criasse expectativas de morrer logo para encontrá-la ou coisa assim por mais que tenha doido como o inferno aquela dor estava ficando dormente e me fazendo refletir sobre tudo que houve.
        — Tentando não fazer barulho por aquele lugar tão sombrio e calmo onde ela está me lembro de não ter me aproximado no dia do seu enterro parecia que não era o momento certo mesmo com os protestos de Ricardo me falando diversas vezes para não ceder a pressão ridícula da sua família agora percebia o quanto estava certo.
        — Há poucos metros de mim estava alguém que jurei nunca mais ver só que algo me dizia que nossa última conversa não tinha chegado.
John:– Não queria atrapalhar.
        — Ao chegar do seu lado noto aquele rosto molhado de chorar parecia que o passado não estava pronto pra deixá-la.
John:– Dona Thereza.
Thereza:– John faz quanto tempo?
John:– Não muito pelo que me lembro.
        — Sua risada seca e sem humor me faz parar de querer provocá-la sendo que a única pessoa que obrigatoriamente nos unia não existe mais pelo menos em carne e osso apenas uma memória fantasmagórica.
John:– Desculpa aparecer vou deixá-la sozinha.
Thereza:– Espera por favor!
        — Apesar de não entender como isso foi acontecer já que nunca falava comigo esperava que os xingamentos e todo o ódio fosse jogado como cascata em cima de mim mas não aconteceu.
Thereza:– Ricardo me deu uma carona até aqui sabe como hoje é um dia mais pesado que os outros e resolveu me esperar no carro.
John:– Fico surpreso por isso.
Thereza:– Pois é.
         — Desde a tragédia nem ouvi falar que Ricardo deu as caras no cemitério da Paz era irônico esse nome já que desde o ocorrido tudo que nenhum de nós teve foi isso.
John:– Sei que me odeia,lamento pelo mal que fiz à sua filha e sua família.
Thereza:– Por muito tempo coloquei a culpa em você e em toda sua má influência sobre minha família mas com o tempo John eu percebi que estava querendo achar chifre na cabeça de cavalo já que naquela noite bom acabei discutindo com minha filha e lhe obrigando a sair de casa.
           — Estou tendo mais um sonho ou ela acabou de dizer o que acho que escutei?
John:– Marina veio atrás de mim não lembra?
Thereza:– O que não sabe rapaz é que acabei por discutir com ela e chamar meu neto de"bastardo inútil como o pai"e isso foi o estopim dela querer sair da sua casa para tentar encontrá-lo além do mais se existe alguém que merece todo tipo de nome ruim sou eu.
          — Mesmo querendo lhe dizer várias coisas horríveis acabei me calando e me pus no seu lugar já que sabia o que era se sentir culpado pela perda de alguém mesmo sabendo que agora era tarde para levantar o dedo e culpar alguém porque já aconteceu.
John:– Não se preucupe com isso.
Thereza:– Como não vou me preocupar?Ela sempre será minha filha e a criança que carregava poderia ter nascido e se tornado alguém de bem e por minha causa isso nunca será possível!
         — Apesar de ser uma mulher forte percebia as lágrimas caindo pelo seu rosto como se não aguentasse mais perceber a verdade que se estendia à sua frente.
Thereza:– Eu me odeio!
        — Antes que pudesse falar mais alguma coisa acabo lhe abraçando e tomando um pouco suas dores para mim já que por muitos meses acabei por me distanciar das pessoas ao meu redor por medo de expor vulnerabilidade ou dor mas quando Maria apareceu na minha vida revelou para mim o que tinha medo de admitir até para minha própria alma que precisava de ajuda.
John:– Sei que nossa relação nunca foi das melhores mas espero que isso um dia possa mudar dona Thereza.
           — Seus cabelos brancos amarrados em um coque começavam à roçar no meu ombro e aquele óculos marrom em seu rosto depois tirado para secar as lágrimas me revelava que ela não tinha mudado nada estava como sempre foi,como se o tempo não tivesse passado apesar de saber a realidade.
John:– A senhora não está sozinha.
Thereza:– Obrigado John é importante ouvir isso de alguém depois de tudo.
John:– Sei que o Ricardo concorda comigo também.
Thereza:– Ele tenta na maioria do tempo mais está sempre metido com seu trabalho e essas coisas.
John:– Olha quando quiser pode nos visitar em casa.
        — Droga!Não queria ter revelado assim que estou com outra pessoa mas de qualquer jeito iria descobrir.
Thereza:– Eu sei que está com alguém,Ricardo me contou.
John:– É?O que falou além disso?
Thereza:– Nada,espero de verdade que seja feliz com essa moça Maria não é?
John:– É sim.
Thereza:– Não vou tomar seu tempo espero que esteja tudo colocado em pratos limpos agora.
John:– É tão irreal que não acredito.
Thereza:– Tem razão mas é a vida.
          — Ambos ficamos de frente ao túmulo dela apenas tentando dar força um pro outro,era estranho que do lugar menos pensado possa existir consolo é como uma vida paralela à minha isso não parecia ser verdade.
Thereza:– Tenho certeza que aonde minha filha e neto estiverem John estão felizes por você ter seguido em frente.
John:– Agradeço pelas palavras.
Thereza:– Bom melhor eu ir agora.
         — Mesmo isso sendo a última coisa que pensava ser possível acontecer hoje acredito que foi um passo dado para a libertação dela e minha do passado.
John:– Dona Thereza.
Thereza:– Oi?
John:– Continuo repetindo se quiser me visitar qualquer hora dessas pode vim.
Thereza:– Obrigado mas por que não vem você e essa moça na minha casa?
John:– Está falando sério?
Thereza:– Vai ser ótimo.
John:– Vamos sim pode deixar.
          — Sem despedidas minha sogra vai embora deixando um gosto agridoce na boca não que essa conversa não tenha sido libertadora mas ambos perdemos alguém que amamos muito e agora faz parte das nossas memórias.
        — Deveria não ter feito tanto mal à mim mesmo no processo mas agora sei que certas coisas foram feitas para acontecer e estão longe do nosso controle quero dizer que me sinto ainda aleijado pela perda dela mas agora tudo está diferente,as coisas estão mudadas e dou graças à Deus por isso.
       — Mesmo em um caminho contraditório parecendo que estava sem rumo sabia onde queria estar naquele momento.
Ricardo:– Ei lunático!
John:– O que está fazendo aqui cara?
Ricardo:– Fui deixar minha mãe em casa e em seguida voltei pra te buscar.
John:– Ela te contou?
Ricardo:– Vem entra!
        — Depois que saímos e ele começou a dirigir tinha lhe explicado a conversa entre eu e sua mãe e a maneira chocante que acabou me revelando os fatos até então não sabia o que pensar de verdade sobre isso apenas que parecia uma outra vida.
Ricardo:– Minha mãe tem melhorado,sei que sempre vai acontecer dela vacilar e falar alguma merda sobre o que houve mas beleza ainda somos família e dona Thereza percebeu finalmente o que eu já sabia.
          — Esperei que revelasse mas o silêncio ficou marcado então resolvi perguntar.
John:– O que seria?
Ricardo:– A vida é curta pra sentir ódio de alguém irmão.
John:– Profundo pra um canalha como você.
Ricardo:– Me sinto assim de vez em quando.
          — Ao parar em frente do meu prédio sabia que provavelmente não estaria mais em casa uma hora dessas então resolvi lhe dar espaço da maneira que me deu.
Ricardo:– Se você encontrar a Leticia diz pra ela que estou esperando notícias.
John:– Como assim?
Ricardo:– Só me disse que estava se sentindo indisposta e que iria no hospital hoje.
John:– Droga!Será que está bem?
Ricardo:– Ei fica de boa!Ela é minha funcionária e fica ao meu cargo saber, qualquer notícia te aviso.
John:– Tudo bem.
Ricardo:– Só tem mais uma coisa.
John:– O que?
Ricardo:– Essa garrafa aqui não vai com você.
           — Mesmo querendo beber um gole dessa bebida alcoólica que tinha acabado de comprar quando sai do cemitério apesar de estar confuso por dentro não fico querendo brigar para tomá-la de volta sei que Ricardo está com isso na cabeça do mesmo jeito que estou.
John:– Tem razão.
Ricardo:– Mata minha curiosidade.
John:– Fala.
Ricardo:– Tenho em mente que não ia de verdade beber isso não é?
John:– Pra ser sincero não sei mesmo cara.
Ricardo:– Bem fico mais tranquilo.
John:– Do que tá falando?Acabei de falar que posso voltar à ser o que era.
Ricardo:– Você falou certo cara o que"foi."
         — Não fazia idéia aonde ele queria chegar mas pra ser franco comigo não acho que iria ingerir álcool e talvez estivesse aos poucos melhorando.
John:– Merda!
Ricardo:– Isso mesmo talvez você esteja no caminho certo.
John:– É pode ser.
        — Antes de descer do carro precisava tirar aquela dúvida da cabeça.
John:– Tem mais uma coisa que fiquei em dúvida.
Ricardo:– Fala.
John:– O que você quer com a Brenda?
       — Ele não responde de imediato apenas dá um meio sorriso como se aquela história estivesse longe de acabar.
Ricardo:– Se posso perguntar por que você se interessa tanto?
John:– Porque ela se tornou uma amiga e de qualquer maneira não vou deixar você só usar ela como faz com as outras mulheres.
Ricardo:– Você não tá virando o jogo não!?Será que não lembra que foi ela que me roubou um beijo?
John:– Antes que se anime muito cara essa garota não é pro seu bico.
          — Diferente de todas as mulheres que pareciam querer baixar a calcinha no automático pra ele Brenda não estava à fim de Ricardo e provavelmente não está dando sinais de que vai parar de arrastar asa pro Antônio.
Ricardo:– Por que!?
John:– Ela presta você não.
         — Mesmo sendo amigos precisava jogar a verdade na sua cara e Ricardo até poderia ser familia mas para se envolver com uma menina seriamente,não.
Ricardo:– Vou levar essa na esportiva.
John:– Não deveria porque falei sério.
         — Quando fecho a porta do seu carro Ricardo ainda solta uma coisa que me deixa em dúvida se ouviu alguma coisa que falei.
Ricardo:– Irmão não se preucupe com isso ela começou agora precisa aguentar.

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