Capitulo 30 (Gritos do passado)

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John
(No passado)
         – Precisava pensar numa maneira de encarar Marina já que estive esperando a noite toda sem poder dormir pela preocupação e loucura que se espelhavam pelo meu rosto graças à mais uma discussão que tivemos,deveria ter ouvido tudo sem querer dar qualquer resposta de volta,sabia que a gravidez era de risco mesmo assim continuei contando com a sorte,sabendo que não sairia perdoado dessa vez pelo mal que tinha cometido,estive segurando sua mão enquanto descansava depois do aborto que sofreu por minha causa,merda!
             – Parecia tão irreal essa cena que me levantei por um momento colocando minhas mãos em meu rosto e esfregando com bastante força pra tentar me acordar desse pesadelo que estava vivendo,era como se fosse outra pessoa dentro daquela pele mas sou eu,não há mais ninguém além de mim para culpar pela perda que sofremos.
Marina:– Querido?
            – Sua voz me desperta dos diversos pensamentos loucos que giravam em minha mente.
John:– Oi princesa.
          – Seguro outra vez sua mão me sentando na cama como se aquilo pudesse me manter mais perto dela,mais longe do peso que me esmagava por ser o responsável.
Marina:– Nosso bebê?
          – Baixo a cabeça sem coragem de olhá-la nos olhos porque sabia que seria o fim sobretudo para nós dois,não podia culpar ninguém além de mim mesmo.
Marina:– Entendo.
          – Apesar de querer ser forte logo as lágrimas descem pelo seu rosto me fazendo ir embora,me perguntando por que não estou morto no lugar do meu filho!?
Marina:– Por favor...não vai.
John:– Sinto muito querida mas nem consigo te encarar como posso ficar do seu lado!?
Marina:– Porque preciso de você John,sei que isso vai me assombrar pelo resto dos meus dias...
John:– Dos nossos.
         – Não queria interrompê-la mas a raiva,desgosto que sentia naquele lugar com a única pessoa que esteve sempre do meu lado,me apoiou e mesmo assim lhe fiz um mal que estava me rasgando a carne como uma navalha cega parece ser coisa de um monstro qualquer não minha.
Marina:– Precisamos enfrentar isso...juntos.
          – Ao voltar e me aproximar sinto sua mão segurar meu braço com toda a força que permite já que precisava descansar,seu olhar para mim,uma rendição silenciosa que faço sem dizer uma palavra,outra vez estou sentado lhe beijando a face e a testa em seguida.
John:– Eu te amo.
Marina:– Também te amo.
          – Apesar de não merecer Marina me perdoou,não que pensasse que essa fatalidade foi mesmo minha culpa porque ambos sabíamos do meu vício em álcool e tentava diversas vezes parar por conta própria mas era como andar em círculos porque acabava no ponto de partida,encarei aquela desgraça como o pontapé inicial de um recomeço para ambos já que minha mulher acreditava tanto na recuperação acabei por fazer disso o meu principal foco,depois de algumas semanas fui seguindo isso,não querendo mais olhar para o passado,ela sempre estaria me guiando nessa estrada de escuridão,pelo menos era nisso que acreditava,loucura pensar em alguém do qual amamos tanto partir primeiro e nos deixar perdidos no meio da caminhada.
             – Depois de alguns meses daquele violento golpe resolvemos nos mudar já que pra esquecer as lembranças ruins precisávamos criar novas,então resolvi aceitar uma promessa de"talvez"em São Paulo e mesmo sabendo que apostava alto numa possível esperança de futuro não pensei em coisas para me pôr pra baixo,fui à luta e acabei encontrando um emprego numa boate como segurança,me adaptei rápido à rotina de festas,pessoas fúteis e álcool,essa última parte foi a mais turbulenta de digerir mas aos poucos fui levando numa boa,com o apoio constante da minha mulher o fardo do vício era mais leve de ser carregado e numa madrugada quando voltava acabei me deparando com Marina sentada na cama acordada,parecia tão abatida que fui logo lhe perguntando qual era o problema,à abraçando foi quando finalmente desabou e chorou no meu ombro por alguns minutos,entre soluços e lágrimas me confessou que estava novamente grávida,aquilo rasgou uma felicidade imensa dentro de mim como se estivéssemos vivendo nossa segunda chance só que dessa vez pra valer sem nenhum tipo de loucura ou desgraça inesperada,era nisso que acreditei porque depois as coisas meio que caíram na rotina de ir pro trabalho,de eu acompanhar Marina as consultas e se soubesse o que estaria por vir talvez minha situação fosse outra,frustrante quando alguma coisa é nos dada e tirada da mesma forma.
John:– Queria ter te salvado.
         – As lembranças são fortes naquele segundo da madrugada,era óbvio que o passado me assombrava mais do que gostaria de admitir mas agora não parecia ser uma ferida tão profunda,as coisas tinham ficado diferentes e nem tinha me dado conta que essa pequena parcela de conforto tinha sido de alguém tão distante e ao mesmo tempo que morava do lado como minha vizinha.

Aos teus Olhos - Série IMPERFEIÇÕES Onde histórias criam vida. Descubra agora