58- Nao, Gizelly

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Como ainda havia muita coisa para ser discutida, o sábado chegou novamente e Tabata chamou Gizelly para uma reunião junto com Letícia. Ambas alegaram que primeiro preferiam conversar com as duas separadamente para só então fazerem uma reunião geral. Tudo precisava dar certo nessa audiência, afinal pelo que parecia, o juiz estava se mostrando ao lado de Prior.

Era algo revoltante, por isso precisavam pensar muito bem, pegar as testemunhas certas, tudo precisava ser conversado. Se por acaso algum passo fosse dado errado, poderiam colocar tudo a perder, e isso não era uma opção.

Por isso logo depois de almoçarem, Gizelly foi tomar um banho demorado para se encontrar com as duas melhores amigas. Nem percebeu, mas acabou demorando mais tempo do que o esperado, mais ou menos uns 20 minutos. Quando saiu, vestiu uma roupa casual qualquer e voltou para a sala para avisar que já estava de saída.

Ao chegar acabou sorrindo com a cena que presenciou. Marcela estava deitada no sofá de três lugares, a cabeça apoiada em um dos braços do estofado e Miguel também dormindo em seu braço, do lado do encosto. A respiração dos dois estava calma, embora a do bebê fosse naturalmente um pouco mais acelerada.

Somente de vê-los assim aqueceu seu coração e um filme passou por sua cabeça. O dia em que a viu ela primeira vez, vestida num jaleco impecável e sentada atrás da mesa do consultório. Todas as vezes que ela a fez rir e a fez sentir ciúmes de propósito, se lembrou de cada detalhe que tiveram juntas e sorriu ainda mais. Por último se lembrou da festinha de Miguel, quando finalmente assinaram a união estavel para ajudarem no andamento do processo.

Não havia sido nada de mais, não usaram a comemoração de Miguel para isso, apenas assinaram. Agora praticamente casadas, mas para tudo havia um tempo. E o tempo de fazerem uma festinha só para isso chegaria em breve.

A cada dia que passava tinha mais certeza de que queria passar todos os dias de sua vida ao lado daquela mulher. Não havia como ser de outro jeito, não do jeito que a amava, era tanto que doía o peito.

Então, mesmo com pena, decidiu sacudi-la de leve, afinal também precisava reforçar o último mamar de Miguel antes de sair.

- Amo? - Sorriu levemente ao vê-la abrir os olhos, sonolenta. - Me deixa dar mamar para o Mig, eu já estou de saída.

Ainda estando um pouco desnorteada, a loira deixou que pegasse o bebê. Tratou de amamenta-lo o suficiente para as três horas que fosse passar na rua e tirou mais um pouco para o caso de demorar um pouco mais que isso para voltar. Depois beijou os dois e saiu rumo a sua reunião.

Marcela estava com tanto sono que, assim que Gizelly saiu, voltou a se enroscar no sofá com Miguel e caiu no sono com ele outra vez. Só acordou quando o ouviu chorar, pois havia sujado a fralda.

Adorava passar seu tempo livre com ele e acabou descobrindo que vê-lo crescer acabou se tornando seu maior sonho. Queria estar presente em todos os momentos. Ouvir o primeiro balbuceio de palavra, o primeiro dentinho rompendo a gengiva, a primeira vez provando comidas, queria fazer parte de tudo na vida dele.

Ele se tornou seu bem mais precioso e agradecia muito a Gizelly por ter lhe proporcionado tamanha felicidade.

Estava tão perdida em pensamentos que nem ao menos percebeu que já estava quase na hora de se encontrar com Bianca. Haviam combinado de irem juntas em um apartamento ali em Laranjeiras mesmo, pois a morena estava pensando em se mudar para mais perto e finalmente morar sozinha.

Estava muito feliz por ela, por isso topou de cara. Queria ajuda-la também da forma que podia, afinal ela era uma das pessoas que mais merecia isso na vida. Por isso vestiu um short desfiado jeans e uma regata branca que deixava bem marcado o bojo do sutiã que vestia.

Então pegou a mamadeira com o leite de Miguel e ajeitou a bolsa dele antes de saírem juntos. Como o apartamento era ali perto, não precisaria sair de carro. Assim não demorou mais que dez minutos para se encontrar com a estudante de medicina. Sorrindo, se aproximou e a abraçou.

- É esse o prédio? - Perguntou para ela.

- É sim, a corretora já tá lá em cima esperando.

- Então vamos lá.

Juntas subiram para o quinto andar e se encontraram com a tal da corretora, que se chamava Natalia. Até que a mulher era bastante bonita, com os cabelos loiros e olhos bem profundos, observadores. Enquanto apresentava os cômodos e a história de antigos inquilinos, ela as observava com uma curiosidade que Marcela não conseguia entender.

E Bianca estava encantada demais com a casa para notar qualquer coisa de diferente, mas estava atenda o suficiente pelas duas. O que será que essa mulher estava pensando? Estava começando a ficar intrigada.

No fim só acabou descobrindo quando terminaram a análise do imóvel e ela as conduziu até a porta de saída.

- Eu conheço você - a mulher apontou de repente.

- Você transou com ela também? - Bianca franziu as sobrancelhas com Miguel nos braços.

- Não, Gizelly - respondeu, fazendo-a rir. - Eu me lembraria.

- Tem certeza? - A corretora sorriu de lado.

- Claro que sim, eu acho...

- Você é amiga da Hari, minha namorada. Eu já vi fotos suas na casa dela - ela riu, achando graça do desembaraço da doutora. - Ela me contou sobre você e o parto complicado.

Marcela nunca em toda sua vida respirou tão aliviada quanto naquele momento. Imagina a saia justa em se encontrar com um antigo rolo de boate e simplesmente não se lembrar? Não que isso nunca houvesse acontecido, muito pelo contrário, já lhe aconteceu pelo menos três vezes e não sabia em qual deles saiu mais constrangida.

- Gente, que coincidência - embora aliviada, não conseguiu conter a surpresa. - Como ela está?

- Cada vez mais doida com a residência - ambas riram.

- Já que vocês indiretamente se conhecem, o que acham de tomarmos um café? - Bianca ofereceu.

As duas toparam na mesma hora e juntas foram para a cafeteria mais perto, menos de duzentos metros de distância do prédio em que estavam. Não durou muito tempo, pois ela tinha outro apartamento para apresentar.

Então pouco mais de meia hora depois, ela estava de despedindo e trocando o número de telefone com as duas. Marcela estava feliz por sem querer acabar esbarrando com a namorada da pequena Hari. O muito era minúsculo mesmo, era impressionante.

- Vamos lá pra casa? - Marcela convidou, depois de saírem da cafeteria empurrando o carrinho.

- Eu preciso estudar alguns assuntos da faculdade, então hoje eu vou passar.

- Não quer ajuda?

- Minhas coisas estão na casa da Ivy - Bia revirou os olhos.

- Não tenho nada pra fazer e a Gi mandou mensagem dizendo que vai demorar pouquinho. Só preciso amamentar o Miguelzinho primeiro, tudo bem?

- Claro, vamos ali pra praça. Lá você pode se sentar com ele.

Bianca sempre iria se lembrar desse dia. Ainda estava ensolarado e a aba do carrinho azul marinho fazia sombra para o bebê. Embora fosse sábado, não havia tantas pessoas ali naquela parte de laranjeiras. Geralmente ficava mais cheio durante a semana, muita gente trabalhava por ali.

E então um homem chegou de repente, estava com uma touca preta que cobria o rosto. Foi tudo muito rápido. Ele pegou o bebê de dentro do carrinho com tanta brutalidade que o grito agudo de Miguel foi instantâneo.

- Ei! - Marcela gritou.

Bianca ia partir para cima dele, as poucas pessoas em volta começaram a olhar um segundo antes de a gritaria começar. Foi naquele momento que o homem sacou a arma da cintura e atirou.  Instintivamente, Bianca tampou os ouvidos e se encolheu com o barulho ensurdecedor. Ele estava muito perto, só piorou tudo.

Seu ouvido zumbia alto e a visão estava turva, mas isso acabou sendo apenas uma coisa qualquer, sem valor, quando seus olhos bateram na loira ao seu lado.

- Marcela!

Quando foi acudi-la, ela desabou antes no chão. A regata branca estava manchando aos poucos de sangue.

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