Marcela não se lembrava de qualquer outro momento em sua vida que tivesse estado tão nervosa daquele jeito. Parecia bobeira, mas mal conseguia respirar. Passava a mão pelos fios dourados toda hora e era sempre repreendida pela mãe ou pelo irmão, que diziam que iria estragar o penteado se continuasse com aquilo.
Vinte minutos.
Gizelly estava atrasada há vinte minutos, como não ficar nervosa com isso. Tudo bem que já eram tecnicamente casadas e tinham um filho juntas, ela não poderia fugir disso, mas a sensação era agonizante. Não conseguia não pensar em ela desistindo de casar ou simplesmente atrasando por medo.
Conhecia Gizelly, ela tinha esses surtos de vez em quando.
Estava tão nervosa que foi impossível não lembrar da trajetória que tiveram até aquele momento. Foram muitos altos e baixos, muita coisa ruim aconteceu, sofreram muito, mas no fim estavam juntas, nada conseguiu abalar a estrutura do amor que sentiam uma pela outra. Gizelly era o amor de sua vida e nunca ninguém conseguiria mudar esse fato.
Meses atrás planejaram fazer uma cerimônia simbólica somente para oficializarem o casamento, mas no fim acabou se tornando um pouco mais do que esperavam. Gostavam de muita gente e muita gente delas, como pessoa e como um casal, por isso a lista de convidados acabou crescendo sem que percebessem.
Agora Marcela se via no final do tapete de pétalas olhando para toda aquela decoração que dava para a vista da praia mais famosa do Rio de Janeiro. Em formato curvo, Copacabana reluzia na tarde ensolarada.
Os convidados também estavam inquietos, mas conversavam entre eles animadamente. Tinha optado por um vestido de alças finas que realça bem seu corpo, com um tom de gelo diferente dos vestidos de noivas tradicionais. Era algo simples e inovador, que havia caído perfeitamente bem ao seu corpo. Seus cabelos estavam presos em um penteado impecável que deixava duas mechas onduladas caírem sobre o rosto, uma da cada lado.
Havia dado trabalho tanta produção, mas depois de tanto pensar acabou contratando uma profissional para cuidar de tudo isso. Não queria se aborrecer logo no dia da cerimônia.
Apesar que já estava começando, afinal meia hora já havia se passado e nada de Gizelly chegar. O trisal também não havia aparecido, provavelmente estavam com ela, mas tentou distrair enquanto conversava com sua família.
E então tudo e todos no mundo se apagaram como num passe de magina. Gizelly finalmente apareceu no final do tapete de pétalas de rosa branca. Os cabelos estavam soltos, com os cachos proporcionalmente modelados, e no topo da cabeça havia uma fina coroa de pequenas flores brancas. Um vestido longo branco de alças finas escondiam o salto que ela vestia.
Não conseguiu conter as batidas fora do normal de seu coração quando Tabata e Letícia chegaram correndo com seus vestidos verde água, uma de cada lado da melhor amiga. Isso não havia sido combinado, o que deixou a morena um tanto surpresa ao descobrir que seria guiada por elas.
- Eu amo vocês - a ouviu dizer de longe, mas não prestou atenção no que as amigas disseram.
Tudo se resumia a ela e mais nada. Foi inevitável não sorrir a medida que ela se aproximava a passos devagar e a música "Se Olha No Espelho" tocava no instrumento que contrataram. No fim acabou sendo a música que mais marcou o relacionamento das duas e ela era o ideal para aquele momento.
Passaram por tantas coisas, por tantos obstáculos, que somente de estarem ali felizes era algo para se comemorar imensamente. Quando Gi chegou perto o suficiente, esperou em silêncio as meninas abraçarem a amiga e depois fazer o mesmo consigo. Agradeceu imensamente por tudo que elas fizeram e finalmente se virou para ela.
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Se Olha No Espelho
Teen FictionAquela segunda-feira de junho tinha tudo para ser como qualquer outra no consultório, mas Marcela não imaginou que conhecer Gizelly seria apenas o início de uma viagem sem volta. Uma relação medico-paciente que jamais imaginou acontecer, uma relação...