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Eu acordei desnorteada e percebi que ainda era de madrugada. A Billie estava deitada ao meu lado e dormia como um anjo. Olhei na cabeceira da cama ao lado dela e percebi que a carteira de cigarros estava ali. Suspirei e me levantei, indo até a mesma e pegando um pra mim. Último cigarro.

Caminhei até a janela e me apoiei no parapeito, acendendo o mesmo e dando a primeira tragada enquanto encarava a noite fria do lado de fora. Eu quero gravar essa imagem na minha cabeça, pra na hora do fim eu conseguir lembrar dessa paisagem, da natureza e de tudo ao seu redor, e não de toda dor e sofrimento que eu causei pra minha família.

Dei mais um trago e fechei meus olhos, me lembrando do abraço na última vez que vi meu pai.

"Ele me puxou e me abraçou mais uma vez - Eu te amo querida, não esquece disso, tudo bem?"

Eu senti mais uma lágrima cair e me segurei pra não soluçar e acabar acordando a Billie. Eu só queria poder voltar atrás, ter meu pai de novo na minha vida. Queria ter deixado ele matar todos aqui dentro e só salvo a Billie, era tudo que eu esperava.

Traguei a ultima vez o cigarro e joguei pro lado debaixo, voltando pra cama e me sentando ao lado dela. Suspirei enquanto acariciava seu rosto perfeito e sentia a textura de sua pele. Senti mais uma vez seu cheiro e selei seus lábios rapidamente, segurando as lágrimas enquanto a encarava.

Sempre que eu lia casos de garotas se apaixonando por seus sequestradores eu chamava todas de loucas. Mas agora eu entendo. É triste não poder ficar.

Eu me levantei com cuidado pra não acorda-la e abri a porta bem devagar pra não fazer barulho. Andei na ponta dos pés e entrei no banheiro, trancando a porta em seguida. Me encarei no espelho e vi o caco que eu estava. Quebrada por dentro e por fora.

Eu peguei a navalha que eu havia encontrado mais cedo no quarto da Billie e coloquei em cima da tampa do vaso. Fui até a banheira e comecei a enche-la. Quando estava na metade de água, eu me deitei com roupa e tudo, mergulhando pra molhar todo meu corpo. Peguei a navalha e fiz os cortes verticais, logo vendo a cor da água se tornar avermelhada. Fechei meus olhos pra aproveitar melhor esse momento e respirei fundo.

"- Ai, eu amo essa série - falei fazendo bico quando começava a introdução e ela riu, depositando um selinho nos meus lábios. - Aproveitadora.

- Nunca perco a oportunidade de beijar essa boquinha - mordeu meu lábio levemente e eu sorri."

"- Eu não vou te perdoar pra você ficar com a consciência tranquila, Billie.

- Eu não quero pela minha consciência, Darya, eu quero porque eu também to apaixonada por você e me fode não poder nem ouvir tua risada todos os dias, e saber que a culpada disso sou eu. - mandou na lata e eu arregalei meus olhos."

"- Filha, você vai acabar caindo - meu pai me alertou e eu ri, pedalando mais.

- Eu sou uma borboleta papai, e to quase voando! - eu ri mais alto e o encarei, atrás de mim.

- Darya, cuidado! - ele falou preocupado e eu olhei pra frente, dando um berro quando a bicicleta bateu de frente a uma árvore e eu caí no chão. Gemi de dor e olhei meu joelho sangrando, droga. - Filha, você ta bem? - perguntou preocupado se abaixando e eu o encarei sorrindo.

- Foi só um raladinho - falei rindo e ele me acompanhou, aliviado - Um dia eu aprendo a voar, papai.

- Sim, um dia você vai aprender, minha borboletinha - falou fazendo cócegas na minha barriga e eu ri me levantando com ele."

BILLIE EILISH

Apalpei a cama ao meu lado, procurando pela Darya, assim que percebi que estava vazio eu dei um pulo. Merda! Me levantei com pressa e saí do quarto pra procurar essa garota.

Assim que fui pro corredor, franzi minha testa ao ver que ele tava com água escorrendo e vindo do banheiro. Fui seguindo a água e percebendo uma cor avermelhada na mesma. Puta que pariu! Corri até a porta do banheiro e comecei a bater na mesma.

- Darya! - bati uma vez - Darya, você ta ai? - bati com mais força - DARYA, CARALHO, ME RESPONDE!

- Billie? O que ta acontecendo? - vi Finneas na ponta da escada coçando os olhos.

- Eu acho que a Darya tá aí dentro, Finneas - falei nervosa e ele desceu o resto das escadas me encarando.

- Mas e daí? Ela não pode cagar? - perguntou brincalhão e eu dei um tapa na cabeça dele.

- Ela falou em se matar ontem, Finneas. E tem uma caralhada de água rosada saindo dessa merda desse banheiro! - falei em desespero apontando e sua feição se tornou séria assim que ele viu.

- Merda, porra! - praguejou e começou a bater na porta com força - Darya, se você ta aí, é melhor abrir essa porra!

- Eu ja tentei isso, espertão, ela não abre! - disse desesperada - Você ta com a tua arma ai?

- Não, ta no quarto - suspirou.

- Vou pegar a minha então - falei e corri até o quarto da Darya, agradecendo por ela não fuçar meus bolsos. Achei minha arma e corri até o banheiro, atirando no trinco e logo vendo a porta ficar entreaberta. Merda, eu não quero ver isso.

Respirei fundo e abri a porta com tudo, vendo a porra da minha garota quase boiando na banheira. Corri até ela e a tirei da água, vendo que seus braços sangravam sem dar pausa.

- PUTA MERDA - ouvi o berro do Finneas e logo ele veio ao meu lado sem a camiseta. - Me da a navalha - ele falou e eu peguei ela em cima do vaso, dando pra ele que cortou a camiseta em duas partes - Tem que estancar o sangue, vê se essa garota ta respirando pelo menos.

- Sim - respirei um pouco aliviada depois de conferir e ele assentiu, terminando de dar o nó.

- Eu vou carregar ela até o carro, você liga, pode ser? - ele perguntou e eu assenti. Pousei de vagar a cabeça dela e a arrumei em seu colo, saindo correndo em seguida.

Fui até o primeiro carro que achei na garagem e destravei o mesmo, logo ligando e vendo o Finneas me seguir e colocar ela no banco de trás.

- Eu quero ir com ela - falei com a voz já esganiçada e ele assentiu. Entrei no banco de trás e pousei sua cabeça no meu colo, abraçando a mesma e me balançando de um lado pro outro - Você não pode morrer também, Darya - falei séria pra ela, sentindo meus olhos marejarem - Não pode, ta me escutando? - beijei seus lábios e olhei pro Finneas. - VAI MAIS RÁPIDO, PORRA!

- Não vai adiantar eu ir mais rápido e a gente sofrer um acidente! Ai morre os três! - falou como se fosse óbvio. - Calma que falta pouco, a gente ja ta chegando.

Eu respirei fundo e encarei a minha garota agora mais pálida do que antes e totalmente sem vida. Tudo culpa minha. De novo.

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Ainda bem q ninguém sabe meu endereço. Beijos mores amo vcs.

KidnappedOnde histórias criam vida. Descubra agora