Ouvi três batidas na porta do meu quarto e me levantei, esperando ser a Billie. Assim que abri, era uma das meninas novas da limpeza, pra arrumar meu quarto. Dei um sorriso sem graça e saí pra deixar ela em paz, indo até a cozinha e encontrando Offred la.
- Bom dia - falei desanimada e ela me encarou.
- Bom dia menina - sorriu fraco - Ta tudo bem?
- Ta sim - dei de ombros e me sentei na cadeira - Você viu a Billie?
- Ela saiu cedo hoje, antes do seu Baylor - ela murmurou lavando a panela - O que quer pro café da manhã hoje? Eu não preparei nada ainda.
- Eu vou só pegar uma fruta - me levantei, indo até a geladeira e tirando um potinho de amora dali, voltando a me sentar em seguida.
Minha briga com a Billie foi ontem, e desde que ela pediu pra me dar um tempo, a gente não se fala. Eu não dormi a noite inteira com medo do Baylor fazer alguma coisa comigo. A agonia e a angústia que eu tava sentindo era inexplicável.
Eu sempre tive um problema com a impulsividade. Sempre fui impulsiva demais, sempre fiz as coisas antes mesmo de pensar. Quando tive a idéia de ir procurar algo sobre ele, não pensei que poderia ter alguma consequência. Até porque, quem é o maníaco que instala câmera no quarto? Como se ninguém soubesse que ele é um psicopata nato e mata várias pessoas.
Eu já havia percebido a um tempo, todo mundo nessa casa tem medo dele, menos seus irmãos. Os funcionários até abaixam a cabeça quando ele ta por perto, se comportam de uma forma que, quando diz respeito a Billie ou ao Finneas, não acontece.
- Bom dia, querida - ouvi a voz dele por trás de mim e arregalei os olhos, sentindo todo meu corpo gelar. Logo ele veio pra minha frente e se sentou ali, me encarando com um sorriso cínico - Billie havia me dito que você agora podia circular pela casa. Não concordei muito no início, mas mal te vejo, de qualquer forma.
- Eu não gosto muito de incomodar - murmurei com a voz falhada e ele sorriu, arqueando as sobrancelhas.
- Você jura? - deu uma risada e aproximou mais o rosto do meu - Você gostou do que encontrou? - perguntou tocando no meu rosto e eu senti todo meu corpo se arrepiar.
- Do que você ta falando? - quase me engasguei no meio da fala de tão nervosa que eu tava.
- No meu quarto, eu soube da sua visitinha - deu uma risada nasalada e senti minha pressão baixar na hora - Espero que tenha entendido do que eu sou capaz e se mantenha no seu lugar. Minha irmã até tentou te encobertar, mas não deu certo.
- Eu... Eu.... - tentei falar alguma coisa, mas nada saia pela minha boca.
- Não tem problema, querida. Espero que agora você perceba qual é o seu lugar, odiaria arrancar os olhos desse seu rostinho bonito - deu uma risada enquanto passava a mão na minha bochecha e eu fechava meus olhos, engolindo em seco. - Se cuida, querida. - levantou e saiu.
Assim que ele saiu do cômodo eu soltei todo o ar preso no meu pulmão e encarei a Offred que me olhava preocupada. Eu corri até o banheiro dos funcionários e vomitei o pouco alimento que tinha no meu estômago.
- Darya, você ta bem? - ela perguntou e eu neguei.
- Minha pressão baixou, eu vou pro quarto. - murmurei e lavei minha boca, tentando evitar me olhar no espelho.
- Tudo bem, querida. Eu vou levar uma sopa pra você mais tarde, pode ser? - perguntou acariciando minhas costas e eu assenti, saindo do banheiro em seguida.
- Obrigada Offred - agradeci e sai da cozinha, indo o mais depressa que eu conseguia até meu quarto.
Assim que cheguei lá, me deitei na cama e tranquei a porta, liberando todas as minhas lágrimas ali. Eu. Só. Faço. Merda.
-...-
- Darya? - acordei assustada quando ouvi alguém me chamar dentro do quarto e me levantei, sentando na cama - A Offred disse que você tava passando mal. Ta melhor? - Billie perguntou preocupada se sentando na ponta da cama e eu respirei fundo, assentindo - Ela também disse que o Baylor foi falar com você...
- Sim - falei pela primeira vez e ela franziu a testa - Ele veio falar comigo pra me ameaçar.
- Como assim?
- Ele sabe que eu invadi o quarto dele e sabe também que eu roubei uns arquivos - murmurei baixo e ela arregalou os olhos.
- Mas o Zayn apagou!
- Mas então ele deve ter visto antes. - dei de ombros - Ele disse que agora que eu sei do que ele é capaz, o melhor é eu me manter na linha.
- Filho da puta desgraçado - ela rosnou - Isso é bom pra você aprender a ouvir o que eu te falo. O Baylor não brinca, Darya.
- É Billie, agora eu sei disso - suspirei - Será que você pode por favor, me deixar sozinha?
- O que?
- Eu entendi o que ele quis dizer com me manter na linha. E entendi que ele quer que eu me mantenha no meu lugar. Ficar com você é insustentável. - murmurei séria e ela riu incrédula.
- Você que faz a merda e eu que tomo no cu?
- Você que tem um irmão psicopata, Billie. Não sou eu não! - exclamei e ela negou com a cabeça.
- Eu não tenho culpa disso. - murmurou.
- E muito menos eu! - exclamei - Eu só quero que meu pai cumpra logo a parte dele no acordo de vocês pra eu poder ir embora e nunca mais ver nenhum dos três.
- Isso vai demorar, você sabe, não é? - perguntou.
- Pode demorar o tempo que for, Billie. Eu só quero me manter quieta e invisível nessa casa, porque cada canto daqui tem uma pessoa mais perigosa que a outra. Eu tenho dezessete anos, sabia? Eu sou nova pra caralho pra um maníaco me matar e me jogar na porra de uma vala! - gesticulei com as mãos.
- Eu ja disse que eu não vou deixar nada acontecer com você! - falou começando a se irritar e eu dei uma risada incrédula.
- Da mesma forma que você não deixou nada acontecer com a Carly? - arqueei uma sobrancelha e ela me encarou, agora verdadeiramente irritada.
- Não toca nessa porra de assunto porque isso não tem nada a ver com você - praticamente rosnou.
- Claro que tem, você não vê? - murmurei - Você amava ela, Billie. E não conseguiu proteger ela. Como vou confiar que eu, que sou só uma atração repentina pra você, tu vai conseguir?
- Você ta falando asneira.
- Eu não to, e você sabe disso - falei baixo e suspirei - Eu gosto muito de você, muito mesmo. Nunca me senti assim com alguém além de você, mas eu quero ficar viva pra poder sair daqui e viver minha vida. Se isso significa ter que ficar longe de você, eu vou ficar! - exclamei e ela se levantou da cama, indo até a porta e abrindo a mesma.
- Você vai se arrepender - apontou com raiva pra mim e eu suspirei de novo.
- Eu sei. - murmurei e ela saiu batendo a porta.
Eu não posso arriscar ficar aqui e acabar sendo morta por uma paixão. Eu não vejo nada romântico em colocar sua vida em jogo por causa de outra pessoa. Eu acho a Billie uma pessoa incrível, e gosto muito dela. Mas enquanto o Baylor me ameaçava através dela, era diferente da ameaça agora.
Eu respirei fundo e voltei a me deitar. Eu não queria pensar muito na merda que eu fiz agora, eu realmente só queria sumir dessa casa e voltar a minha vida normal, sem ter conhecido ninguém dessa família.
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Eu a v i s e i bjs
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Kidnapped
FanfictionVocê ja parou pra pensar como sua vida pode mudar em questão de minutos? Ou como uma decisão pode mudar todo o curso da sua história? Hoje eu fico pensando: e se eu tivesse dito não? Se eu tivesse simplesmente recusado e seguido com a minha vida? Eu...