𝟶𝟷

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Algumas mudanças são necessárias para nossa vida. Se não mudarmos, vamos ficar sempre naquela mesmíssima coisa de sempre. As vezes é até bom sairmos da nossa rotina, para não nos cansarmos de tudo e desanimar da vida. Conhecer novos ares é sempre bom.

Esse foi o discurso "motivacional" da minha mãe, para me convencer de que nossa mudança de Las Vegas para Cookeville era ótima, positiva e necessária. Não entendi o porque de ser necessária, mas ótima e positiva ? Não era mesmo. Perder meus amigos e me afastar da minha família só porque minha mãe quer descobrir "novos ares" é meio que desnecessário. Ela é uma pessoa extremamente "good vibes", e talvez eu devesse ter puxado esse lado, mas sou bem pessimista.

A casa, pelo menos, era bonita. Ela me deixou escolher. Talvez me deixando escolher, ela se sentisse menos culpada de ter me arrastado para cá.

A nova moradia era bonita, perfeita para duas pessoas. Eu preferia nosso apartamento em Las Vegas, onde eu podia ver os cassinos e carros de empresários — que passavam a noite apostando todo dinheiro que ganhavam, além de mulheres saindo com homens cheios da grana. Mas até que a nova casa não era tão ruim. E tinha uma parte atrás que dava para algo como uma floresta.

Tinha bastante espaço, o que eu já considerava um ponto positivo. Talvez não fosse tão ruim assim.

Minha mãe deixou o carro na garagem e eu respirei fundo, esperando que fosse um sonho.

Mas não, Anna, essa é sua vida nova — eu dizia pra mim mesma. Saí do carro, desliguei a música e observei minha mãe entrar em casa pela porta da garagem. Peguei a minha mochila, que obviamente não deixaria vir no caminhão da mudança, e entrei em casa.

Minha mãe já estava pegando as coisas do armário, provavelmente iria preparar algo pro jantar. Peguei a garrafa de azeite da mão dela e deixei de volta no lugar.

- Podemos pedir uma pizza, tá bom? Vai descansar — sorri pra ela.

- Só vou se me prometer que vai sair e fazer amigos. Agora — ela riu.

Minha mãe acha que amigos se compram em qualquer esquina.

Mas será que não mesmo? A resposta é: Não. Ao menos não pra mim, eu era super tímida e tinha dificuldade em chegar nas pessoas e fazer amigos, isso sim era um problema.

- Eu vou sair e fazer amigos, tá? Mas, fica aqui e descansa. Aliás, eu também deveria estar descansando, já tenho aula na segunda. A senhora não deixou nem eu chegar direito e já quer que eu tenha aulas.

- Hoje é sexta, têm três dias pra descansar. Segunda já vai estar novinha em folha — minha mãe pensou um pouco — E aquela sua amiga? Vocês já não tinham se conhecido virtualmente? Acho que é Clara o nome dela.

- Claire, mãe. Eu vou ligar pra ela, ver como ela está. Então vamos sair um pouquinho, mas agora quero que você vá dormir. A viagem foi super cansativa, sei que não é fácil dirigir por 27 horas.

Bem, pelo menos eu iria conhecer minha amiga virtual, e não teria tanto problema em fazer amigos, já que ela conhecia a cidade e podia me apresentar melhor o povo.

Deixei a bolsa na bancada e minha mãe jogou as chaves pra mim. Chaves de casa, claro, ela era super insegura com esse negócio de eu dirigir, talvez porque eu seja meio desastrada.

- Volta antes do jantar, se não vou sentir sua falta. — minha mãe disse.

- Claro que volto — Abracei ela.

Saí pela porta da frente e vi que minha bicicleta já estava ao lado do carro da minha mãe. Peguei ela e fui andando um pouco mais à frente. Eu não sabia me guiar por ali ainda, então resolvi ligar para Claire.

- Já chegou na cidade? — ela disse assim que atendeu.

- Sim, super ansiosa. Não acredito que vou finalmente saber quem é a minha melhor amiga virtual.

- Falando assim até parece que vai conhecer alguém importante — ouvi a risada dela.

- Obviamente, minha melhor amiga é importante! Te encontro onde? Fala o endereço que eu procuro pelo GPS.

Claire falou o endereço, me despedi dela e desliguei a chamada. Para não perder tempo, já coloquei o local no GPS. Felizmente era bem perto da minha casa, então subi na bicicleta e peguei o caminho indicado pelo aparelho.

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Cheguei numa espécie de parque, praça, não sei bem. Mas tinha algumas árvores, alguns casais, um lago e um idoso cantando um tipo de jazz no saxofone, com algumas pessoas assistindo.

Deixei minha bicicleta no estacionamento, prendi ela com a corrente e procurei Claire. Passei 10 minutos procurando, estava quase desistindo, quando alguém tapou meus olhos.

Prendi a respiração e tirei as mãos dos olhos. Era ela.

Claire era morena, cabelos pretos, usava um aparelho nos dentes (mas ficava bonita, apesar disso) e era um pouco mais alta que eu. Ela estava chorando e me abraçou. Abracei de volta e ficamos 20 minutos ali, só chorando de emoção.

- Então você é minha amiga das chamadas da madrugada ? — disse enquanto limpava as lágrimas dela e deixava as minhas caírem.

- Desculpas te decepcionar, sou eu sim — ela chorava e ria ao mesmo tempo.

- Quando minha mãe falou que a gente ia se mudar, eu procurei ter pelo menos um amigo daqui. Mas era só pra conhecer a cidade, só que mesmo de longe, você era melhor que os de perto. Não acredito que você é real! — eu abracei ela novamente.

- É como se ele já te conhecesse faz anos. Não sei nem como expressar isso — ela ria comigo.

Começamos a andar pelo parque, contando algumas coisas da nossa vida.

Descobri até que iríamos estudar na mesma escola, e que ela já estudava lá desde o começo do ano. Era ótimo, porque eu não conhecia ninguém.

Falei um pouquinho mais da minha vida em Las Vegas, então ela me explicou que eu tinha chegado em boa hora, ela tinha acabado de terminar com o namorado e estava meio triste.

- A gente vai sair muito, conhecer muita gente nova e você nem vai mais lembrar dele. — disse — Comigo aqui, você não vai passar tristeza 1 minuto que seja. Te prometo.

- Você é realmente a melhor, nem acredito que você tá aqui — ela riu e voltamos a andar.

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