𝟸𝟷

52 28 0
                                    

No dia seguinte acordei ainda com o coração doendo. Na verdade, só acordei porque minha mãe estava batendo na porta, com um olhar apreensivo.

Sentei na cama e olhei as horas no rádio-relógio. Eram 9 da manhã, bastante tarde. Pensei nos acontecimentos e minha cabeça deu um giro, imaginando se aquilo era um sonho.

Minha mãe ainda estava na porta, me olhando.

- Oi, mãe, bom dia. O que houve? - sorri pra ela.

- A polícia tá lá embaixo, estão te procurando. Eu que te pergunto Anna, o que houve? Que história é essa de incêndio? - sua voz estava exalando decepção.

Então não era mentira. Era absolutamente tudo verdade. Victoria estava morta e o centro psiquiátrico tinha pegado fogo.

Levantei da cama e suspirei.

- Eu já vou descer - disse.

Minha mãe mal olhou na minha cara e saiu da porta, descendo as escadas. Fui até o banheiro, escovei os dentes e arrumei meu cabelo. Vesti meu jeans preto e blusa do Nirvana e saí do quarto, descendo as escadas.

Vi dois oficiais lá em baixo e respirei fundo. O que será que eles queriam?

Os homens me olharam e checaram um papel que estava nas mãos deles. Minha mãe estava na cozinha, encostada no balcão. Ela não me olhava, e eu entendia aquilo. Ela estava chateada.

- Bom dia, srta. Bradford - o oficial olhou os papéis - Eu poderia saber onde você esteve hoje, entre a meia-noite e as uma e meia da manhã?

- Estive na Clínica Psiquiátrica de Cookeville - disse firme, e minha mãe começou a chorar.

- Então você confirma isso - o outro oficial me mostrou um vídeo no celular.

As imagens eram de câmeras de segurança. Vi eu e Claire conversando com Victoria, na hora que ela contou a história. Depois nós duas sumimos do alcance de visão da câmera.

Após alguns minutos, alguém - que parecia eu - apareceu jogando gasolina pelos corredores. As imagens não eram muito boas por conta do escuro, mas vi a pessoa riscando um fósforo e o incêndio começando. Depois disso, o vídeo acabou.

- O que me diz disso? - o oficial me perguntou.

Fiquei calada. Aquilo não era eu.

- Houve um engano senhor, essa segunda pessoa que aparece nas imagens não sou eu. A primeira sim, eu falei com Victoria e...

- Srta. Bradford - o segundo oficial disse - Isso já é o bastante. Você tem provas de que a segunda pessoa das imagens não é você?

- Não tenho - suspirei.

- Você é a nossa única suspeita. Tendo em vista isso e as provas que existem contra você, a senhorita está presa por homicídio doloso duplamente qualificado e incêndio de propriedade privada. Por favor — ele me mostrou as algemas.

Minha mãe saiu da cozinha e subiu para o quarto. Eu estava sendo presa injustamente, aquilo não tinha cabimento. Mesmo assim, não adiantaria resistir, isso poderia ser adicionado na minha ficha como 'desacato'.

Coloquei as mãos para trás e o policial me algemou. Fui levada para dentro de um carro de polícia e os vizinhos todos estavam me olhando. Alguns com curiosidade, outros com desprezo.

Aquela era a pior sensação do mundo, não existia comparação.

❁ཻུ۪۪⸙͎─═════⊰⊱🌷⊰⊱═════─❁ཻུ۪۪⸙͎

Cheguei na delegacia e logo pediram meus pertences, os quais tive que entregar. Então, me botaram numa cela qualquer, que estava vazia. Haviam outras mulheres lá, aquele lugar não era como nos filmes.

Era simplesmente aterrorizante e assustador, meu coração batia que faltava sair pela boca.

Sentei-me no chão e comecei a chorar, me perguntando o que tinha acontecido. Tudo estava tão bem, tão normal e do nada eu era presa por algo que eu nem tinha feito.

As outras mulheres me olhavam com curiosidade e desprezo, assim como todos. Eu mal podia imaginar como estava o coração da minha mãe com tudo aquilo.

- Tem alguém querendo falar com você — um policial abriu minha cela e saí andando.

Ele me guiou até uma sala que parecia de interrogatório. Vi que Carlos estava lá e meu coração disparou mais que tudo. Ele sabia a verdade, ele iria confiar em mim.

Entrei na sala e logo fui abraçar ele, só que seu jeito estava frio e distante. Carlos segurou meus pulsos e me olhou nos olhos.

- Você botou fogo em um hospital psiquiátrico? — ele perguntou com os dentes cerrados — E foi na minha casa depois pra fingir que nada aconteceu?

- Não, eu não fiz isso — disse chorando e tentando me soltar.

- Você é a pior pessoa do mundo. Eu tentei te entender, eu juro. Tentei te proteger, mas você é horrível. Você é doente, eu nem consigo acreditar nisso.

- Então não acredita — gritei chorando — Acredita no que você quiser. Só porque quem botou fogo naquela porra de manicômio parece comigo, significa que sou eu? Você acha que eu faria isso? Então não me conhece. Veio aqui me ver só pra me deixar pior ainda? Conseguiu.

Saí da sala de interrogatório e o policial me segurou. Fui algemada novamente e ele me levou pelo corredor de volta pra minha cela.

Eu não acreditava naquilo. Eu sei o que eu fiz, eu não estou louca. Não tinha cabimento algum aquelas acusações, aquilo tudo era insano.

Voltei a me sentar no chão e fiquei de cabeça baixa. Estava tudo doendo, meu coração, minha cabeça, tudo. Aquilo estava sendo tão difícil pra mim que ninguém conseguiria entender.

Encostei a cabeça nas grades e fiquei encarando o nada. Vi a silhueta de uma mulher e o barulho de saltos batendo no piso. Olhei pra cima e era Lilian, mãe da Victoria.

- Você — sua voz estava amargurada — Você pôs fogo naquele lugar e depois foi lá ver a minha desgraça com a morte da minha filha.

- Eu não matei a sua filha, preciso que acredite em mim — me levantei e olhei ela.

Lilian negou com a cabeça.

- Se depender de mim e da justiça americana, você vai apodrecer na cadeia com prisão perpétua. Eu vou tirar tudo de você, igual você tirou de mim — Lilian virou e foi embora, estava chorando.

Aquilo já era demais. Estava todo mundo contra mim por algo que eu nem fiz? Haviam imagens, isso é inegável, mas não era eu. Então, quem era?

Olhei pro lado e mais uma pessoa veio. Era o Logan. Ótimo, agora todo mundo — até a pessoa mais errada — iria ficar contra mim.
Encarei ele, até ele chegar na frente da minha cela.

- Se você veio aqui com a ideia idiota de que matei alguém, vai embora — disse.

- Não, eu sei que você não matou ela. Fiquei surpreso por você ter ido lá, a Claire falou comigo. O motorista dela tem como confirmar tudo, que vocês saíram de lá antes do incêndio começar. Você só precisa esperar um pouco, nem todo mundo tá contra você.

Aquilo me surpreendeu. Era ótimo ter alguém que acreditasse em mim.

- A mãe da Claire é bastante influente, essa é só sua prisão preventiva. Eles vão fazer uma perícia mais afundo no lugar e como vão ver que você não fez nada, mais o depoimento do motorista, você vai conseguir sair. A gente acredita em você — ele apertou minha mão e sorriu.

Sorri de volta. Aquilo era um alívio enorme pra mim, de verdade. Em pouco tempo eu iria sair daqui e todos veriam que eu estava falando a verdade.

Um policial disse que o horário de visita já tinha acabado. Logan piscou pra mim e saiu andando para a saída do local onde ficavam as celas. Meu coração se acalmou um pouco. Eu sabia que era inocente, então não tinha motivos para desespero. Logo logo tudo estaria esclarecido.

Bom, ao menos eu esperava isso...

Starboy Onde histórias criam vida. Descubra agora