|| BÔNUS - MATHIAS

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Olho para meu rosto no espelho e suspiro agradecido por ele não ter acertado meu rosto dessa vez. Não sei se foi sorte ou se ele estava bêbado demais para encontrar minha cabeça na hora de me bater. No entanto, foram minhas costelas que pagaram o preço novamente. Antes elas só ficavam doloridas, mas agora acho que ele quebrou uma ou duas delas, pela dor absurda que estou sentindo.

Fecho meus olhos, enquanto aperto a faixa contra meu abdômen com todas as forças que tenho e tento me imaginar daqui há alguns anos. Nesse mundo criado por mim e que existe somente na minha mente, eu tenho minha liberdade para comer o que quiser. Dormir a hora que eu quero e meu irmão comigo. Nesse universo só meu, ele está andando, rindo com um sorriso iluminando seu lindo rosto e vivendo a vida que lhe é devida. Uma vida longe do escárnio do nosso pai e sem suas agressões.

Respiro superficialmente, mas a dor ainda está aqui. Matteo está na vizinha, então não preciso me preocupar com ele agora. Tenho que ir trabalhar. Depois do episódio que aconteceu na área de recuperação dos animais, ele tem me observando muito. Medindo cada passo meu e isso está começando a me dar nos nervos e um pouco de medo. Sei que em algum momento, ele vai exigir saber o motivo da minha reação naquele dia.

Como você diz para uma pessoa que é saco de pancadas do próprio pai? Se eu quiser ter meu irmão comigo até eu ter condições de cria - lo, eu vou suportar mais algumas pancadas. Não é como se eu não estivesse acostumado. É terrível pensar assim, mas é minha realidade no momento.

Devagar vou até meu quarto e resolvo não ir de mochila para a clínica hoje. Não sei se aguento levar um penso além do meu próprio corpo. Me inclino vagarosamente e ergo o colchão surrado. O cartão branco com letras douradas em auto relevo parece me chamar. Eu sempre observa esse pedaço de papel antes de dormir, tendo a esperança de um dia chamar por ele. Suspiro e pego - o enfiando no meu bolso.

Na sala não o vejo, o que faz com que uma lágrima de alívio escorra por minha bochecha. Limpo - a e vou trabalhar. Daqui há alguns dias receberei meu segundo salário e estou tão feliz. Pois vou poder comprar mais fraldas e comida para meu irmão. Com esse pensamento em mente, a passos calmos caminho e quinze minutos depois, chego na frente da clínica. Através das portas duplas de vidro, vejo Marcy falando ao telefone com um olhar concentrado em seu rosto e Erick conversa com uma mulher que tem nos braços um gatinho que é completamente sem pêlos e bem magricelo.

Tento tornar meus passos mais rápidos, assim não dou tempo para que falem ou toquem em mim. Quando entro na sala onde estão os utensílios de limpeza, ainda ouvi a voz do meu patrão me chamar mas ignorei. Sinto o suor descer por minha testa e costas. Lavo meu rosto rapidamente e o seco com a pequena toalha branca que há pendurada ao lado da pia.

Pela hora seguinte, eu lavo os banheiros, varro e passo pano no chão e fujo para a área de recuperação dos animais. Decidido a esquecer a dor por mais tempo, converso e brinco com eles. Alguns estão mais atentos que outros que estão medicados. São em sua maioria cães e gatos de todas as cores e tamanhos. Em algumas baias, há animais bem diferentes.

- Aí está você rapaz! - fico ereto e me viro lentamente em direção a voz. Erick veste um sorriso tranquilo no rosto de linhas fortes.

- O - oi...- pigarreio quando minha voz sai muito baixa e vacilante. Não posso mostrar medo ou nada do tipo. - Oi! Eu já limpei os banheiros, varri e passei pano no chão. - ele agora força o sorriso. Olho para meus pés e me pergunto se fiz algo de errado. Se eu fiz, tenho sorte de estar em um lugar público. Assim ele não pode me bater.

- Eu vi. Fez um ótimo trabalho. - dá um passo em minha direção e juro que é muito difícil para mim não recuar ou proteger meu rosto. - Nunca consigo falar com você. Desde aquele dia com os cães e aqui está você de novo.

VOLTA PARA MIM? [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora