|| QUATORZE - O BEIJO - JAMES

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- Oh meu Deus! Não consigo tirar aquelas imagens da minha cabeça. - geme apertando a cabeça dramaticamente.

Quase engasgo com o milk shake que estou tomando, ao ouvir sua voz tão dramática. Estamos saindo do andar onde fica o cinema. As pessoas ao nosso redor conversam entre si, levam sacolas com suas compras, riem, vivem.

- Não seja tão dramático! - ele me olha ofendido, como se eu tivesse duvidado de sua masculinidade.

- Não é drama! - diz agora com as mãos nos bolsos frontais.

- Você sempre foi medroso!

- Medroso? Quem? Eu? Calúnia!

- Você é sim!

- Desculpa se não tenho estômago para ver um cara mascarado cortar uma pessoa ao meio!

- Fracote! - dando de ombros, voltamos a andar em um ritmo calmo. Meu Milk shake já no fim.

Seguimos pelas lojas abarrotadas de pessoas em silêncio. Nossos ombros quase se tocando mas ainda assim havia a distância ainda que mínima entre nós. Algo que eu mesmo impus e ele soube respeitar. Observo seu perfil, o rosto formado por linhas rígidas mas que tem uma harmonia sem igual.

Ele anda de forma despreocupada ao meu lado. Não olha ao redor preocupado que nos vejam juntos como fazia antes, ele parece bem seguro de si. É lindo vê - lo assim. Agindo como ele mesmo. Ele disse desde que apareceu na minha porta depois de anos longe que mudou. E aos poucos posso ver a verdade crua de sua afirmação.

Seja lá como terminar nossa história. Vou ficar feliz que ele esteja realmente vivendo.

- Me diz, como está Julieta? - ele tropeça mas rapidamente recupera o equilíbrio. Me observando de esguelha, na certa está medindo minha reação. - O que? Acredito que não fui só eu a me machucar nessa história toda.

Eu tinha uma certa resistência a mulher, admito. Ela ficou entre nós no fim de tudo, sendo conscientemente ou não. Mas ainda assim, quero conhecer ela além do superficial. Da aura de falsa alegria que ela emanou naquele café da tarde, para animar o amigo que discutiu com a mãe.

- Melhor hoje do que em muito tempo. - murmura tristemente.

- É depressão não é?

- Sim. - solta o ar com força dos lábios rosados. Desvio o olhar dessa área. - Eu não sei o que fazer sabe? As vezes quero tomar toda a dor dela para mim. Alivia - la de alguma forma. Mas ela se torna inalcançável em alguns momentos que o medo de perde - la é...- ele frea suas palavras. Como se tivesse medo de me machucar.

- Não vai perde - la! - aperto seu braço firmemente. Seus olhos se fixam em mim e após segundos presos em uma eternidade, acena. Tomo fôlego e lanço as palavras de repente. - Vocês... chegaram a...- balbucio de repente.

- Não. Juli e eu sempre fomos amigos, tínhamos em comum o gosto por chocolate e a opressão de nossas famílias sobre nós. No fim de toda a nossa confusão gerada pelo medo, eu perdi uma perna e ela o amor da vida dela.

A imagem daquela mulher gritando com eles naquele restaurante me bate com força. Sentindo a profundidade e intensidade de suas palavras iradas e sua dor como se estivesse vendo a cena agora. Diante de mim.

- Vocês estavam com medo. É normal errar. Machucaram muita gente no processo e a vocês também. - digo simplesmente. É uma verdade.

- Poderíamos ter evitado tudo isso se...- ele para engolindo as palavras quando um adolescente passa por nós. Os cabelos são pretos como a noite, a estrutura magra destacada pelas roupas justas, a blusa com a estampa nas costas de uma banda conhecida e os tênis pretos.

VOLTA PARA MIM? [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora