Não retornei para casa até depois de uma da manhã. Deixei a casa de James as nove e me despedi das crianças com um aperto em meu peito. Fazia tempo que não me divertia tanto. Desejei mais energia para o homem que disse tão simples mas poderosas palavras em seu jardim. Pois ele tinha pela frente uma festa do pijama para comandar.
Eu sabia que minha mãe estaria me esperando em casa. Ávida por uma discussão da qual ela queria sair vencedora. Mas não tinha forças para isso. Eu só queria um pouco de paz para tomar um banho, talvez trocar mensagens com meu homem e dormir. É tudo que um homem em uma missão de reconquistar seu amor precisa: paz. Eu não teria meu desejo atendido no entanto. Não com Lilian sentada em meu sofá.
Com meu carro, sai pela cidade sem um destino certo e ao som da minha playlist, somente segui em frente. Quando podia fitava por dois segundos ou mais as estrelas. Essas que eram as únicas testemunhas de meus pensamentos turbulentos. De como seria minha próxima conversa com minha mãe e pedia aos céus por sabedoria para que não a magoe e nem ela a mim.
Abro a porta de casa quase sendo derrubado por Bob. Sua alegria em me ver é contagiante. Beijo sua enorme cabeça, lhe acaricio atrás das orelhas e rola até beijo no nariz. Ele vai a loucura com suas patas batendo em meu peito e nunca me deixando dar mais que dois passos. Quando consigo trancar a porta, com uma rápida olhada respiro aliviado por ela não estar aqui. Acendo as luzes com ele se enfiando entre minhas pernas. Lavo suas vasilhas de água e ração, as preenchendo respectivamente. Ele apenas fareja por um segundo e não dá uma segunda olhada a direção delas.
Após trancar as portas e janelas, vou para meu quarto. Me sento na cama e retiro a prótese, em seguida a meia de compressão e suspiro aliviado. De olhos fechados massageio um pouco acima do coto e deixo o objeto que me permite andar ao lado da cama. Tiro minhas roupas por completo e pego o par de muletas. Indo para o banheiro. Abro as portas de vidro do box e me sento no banquinho que fica sob o chuveiro. Enquanto a água cai sobre minha cabeça e costas, sinto meus músculos doloridos e tensos relaxarem.
Como faço apenas uma vez no dia, observo as cicatrizes que cobrem ambas as minhas coxas. São grossas e irregulares, variando entre o tom rosa claro e banco. Não são bonitas de se ver. Além de serem prova de que sobrevivi a um acidente, são também um indicativo do que a imprudência pode fazer conosco. Imprudência do motorista que se arriscou a dirigir bêbado e minha por estar prestando mais atenção a um maldito telefone do que na estrada. De acordo com o médico quase perdi as duas pernas mas tive sorte. Reviro meus olhos ao ouvir ainda muito claramente a voz mecânica dele ao falar comigo. Sorte eu tive por ter saído vivo. E não ter perdido apenas uma perna.
Lembranças dos momentos escuros de minha vida, cheios de auto piedade e revolta tentam voltar para a claridade da minha vida. Para acabar de foder minha noite mas não deixo. Substituo a sensação de perda pelos sorrisos que dei e recebi hoje. Por suas palavras quando eu nem sabia que desejava tanto ouvi - las. Saio do box e pego uma toalha azul e bem macia que está pendurada no suporte bem perto de onde estou e me seco. Após escovar meus dentes, pego o que vou precisar e vou para a cama. Meu amigo fiel está deitado do outro lado de minha cama. Bufo dando uma risadinha, somente uma orelha sua se ergue.
- Seus tempos de dormir comigo estão prestes a ter fim garoto! - ele late parecendo ultrajado. - Não adianta reclamar, não sei se James aceita um terceiro na cama.
A imagem de nós três é tão inesperada e engraçada, que não aguento. Gargalho de verdade tentando descobrir como seria sua reação. Ele adora cachorros mas não ao ponto de ter um com mais de quarenta e cinco quilos entre nós. Arfando um pouco, me jogo no lado esquerdo, o colchão ondulando com nosso peso combinado. Seu focinho úmido toca minha coluna. Solto um grunhido.
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VOLTA PARA MIM? [COMPLETO]
RomansaPlágio é crime! Capa By: Stephanie Santos Viver de aparências sempre foi uma lei na vida de Miley Sanders, parte disso é culpa da mãe e a outra, de sua covardia para assumir quem é. Covardia essa que o afastou do único que poderia fazê-lo feliz e qu...