Capítulo quinze

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Maria Luíza


Quando a Ana retorna, já estou recuperada.

O negócio anda feio para o meu lado. Justo para mim, que nunca tive grandes problemas ou atritos com ninguém.

Tento esquecer o dia todo e focar no trabalho. Não fica muito difícil de fazer isso. A Ana é bem animada, organizada, gosta de tudo planejado e arquivado com muito cuidado.

Levo o resto do meu horário de trabalho dando conta de tudo o que ela me passa e muito satisfeita da minha mente estar voltada para o que realmente importa.

Não preciso que gostem de mim aqui. Não preciso ter contato com a nata da empresa. Só preciso passar pelo meu período de estágio sossegada e com as horas necessárias adquiridas em mãos. E, logicamente, conseguir aprender o máximo de coisas possíveis, que me ajudarão a conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho.

Geralmente, até me ofereço para ficar mais um pouco e ajudar a Ana, mas sem condições. Deu o meu horário, já começo a desligar tudo, despedir-me e pegar as minhas coisas.

Estou precisando sair da névoa pesada que essa empresa parece ter e respirar o ar de paz, amor e tranquilidade do trailer da minha família. Tudo muito simples, mas acolhedor. Lá ninguém é melhor que ninguém e nem é tratado ou trata os outros como se assim fosse.

Saio tão apressada do prédio, após trocar a minha roupa, que pareço estar sendo perseguida por algum bicho perigoso.

— Já, filha?

— Sim, pai. Deu meu horário lá e cá estou. — Dou-lhe um beijo, coloco o meu avental e assumo o caixa.

Não perco o olhar que ele troca com a minha mãe, mas prefiro voltar minha atenção ao próximo cliente da fila. Anotar pedido, faturar o mesmo, repassar para eles e seguir repetindo o processo.

Perto das sete da noite, minha mãe diz que vai assumir o caixa. Fico sem entender. Costumo ficar até fecharmos lá pelas nove ou dez da noite.

— Você tem um compromisso agora e sua carona já chegou. Dá o fora daqui.

— Do que ela está falando, pai? — Ele apenas sorri, abre a porta lateral do trailer e aponta para uns dez metros de distância para o Bento encostado em seu carro estacionado na calçada. — Mas como vocês vão levar as coisas?

— Já resolvemos isso, filha. Vai embora. Você precisa se distrair.

— Muito obrigada, eu realmente precisava disso hoje, mãe. — Dou-lhe um abraço apertado, segurando choro.

— Nós te conhecemos o suficiente para saber disso e querer saber tudo o que aconteceu mais tarde. Mas, por hora, fiz bem em ligar para o seu amigo mais cedo, que logo me assegurou que viria te salvar. — Que danada essa minha mãe.

— Você fez isso?

— Lógico que sim. Vá!

­— Nem precisa mandar duas vezes. Amanhã corro atrás do prejuízo e compenso. Amo vocês.

Tiro o avental, pego a minha bolsa e saio correndo para os braços abertos do Shrek. Tudo o que eu precisava era desse colo poderoso, sem julgamento, protetor e que me ajudasse a me reestabelecer.

Começo a chorar ali, sem poder e nem querer me impedir ou boicotar os meus sentimentos. Com ele eu posso ser eu mesma. E só.

Ei, vamos sair daqui. Vai ficar tudo bem, eu prometo, Pooh. — Ele beija minha testa e minhas bochechas, antes de abrir a porta do carro para mim e me cutucar para entrar.

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