Capítulo trinta e nove

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Maria Luiza


Como sua vida que parece tão alinhada começa a descer por ladeira abaixo sem que tenha como controlar? Como os planos podem mudar num piscar de olhos?

Tinha decidido ir direto para o apartamento do Pedro assim que chegasse à cidade após o congresso para fazer uma surpresa e minimizar um pouco a distância por conta do fim de semana.

Observo pela janela do carro de aplicativo que pedi a entrada da rua que leva para o meu apartamento.

O dia de hoje no congresso foi praticamente perdido. Como não dormi à noite, demorei a ter forças para levantar da cama e encarar a primeira palestra. Não tomei café da manhã, fiquei de corpo presente na mesa redonda que mais queria assistir, não almocei, acompanhei o encerramento do congresso querendo que alguém jogasse uma bomba no palco para o martírio ter fim de uma vez.

Esperei tanto por esse congresso e acabou que passei a desejar que ele nunca tivesse acontecido.

Talvez, se eu tivesse ido à maldita festa, o Pedro na teria ficado tão tentado ao ponto de me trair da forma que fez. Não entendo a razão de ter insistido tanto para ficarmos juntos, se no fim das contas não tinha intenção de ficar só comigo.

Ele sempre esteve em destaque na mídia, exceto desde o período que nos conhecemos. Sem dúvida, já devia estar sentindo falta dos holofotes em sua vida. O retorno foi feito em grande estilo, isso ninguém pode negar.

Não suporto traição. Não vejo razão para alguém trair que não seja por falta de caráter, porque ninguém tira da minha cabeça que sempre será mais fácil terminar um relacionamento antes de começar outro envolvimento. Estou revoltada com a traição, mas a ira ganha ainda mais força por ter sido com quem foi.

A Luciana parecia estar cantando a pedra do que aconteceria, quando me falou que o Pedro se cansaria de mim. Dito e feito. Talvez ela tenha conhecimento de causa na área dele, talvez o caso deles seja bem antigo, talvez até tenham rido muito de mim pelas costas.

Por mais decepção que sinta, fico irritada comigo mesma por realmente acreditar que o Pedro não seria capaz de me magoar dessa forma de caso pensado. Mas, lembro da cena do vídeo, e essa crença desmorona.

Limpo com raiva a lágrima que desce pelo meu rosto.

Consegui passar o dia todo controlando-as, não vou fraquejar agora estando tão perto de casa. Tudo que preciso é de um chuveiro e da minha cama.

Não quero nem pensar no que vou fazer amanhã na empresa e muito menos na possibilidade de encontrar com o Pedro.

O carro paro na frente do meu prédio, agradeço ao motorista e abro a porta para sair. Alguém termina de puxar e segura, imagino que seja algum dos porteiros e, quando vou levantar o rosto para agradecer, dou de cara com a última pessoa que desejava ver hoje. Não sei se aguento conversar com ele agora.

Respiro fundo e acabo de sair do carro.

Ele tenta pegar a minha bolsa.

— Não precisa.

O carro sai. Ficamos um de frente para o outro sem que eu consiga encará-lo. Não sei como é possível, mas acabo pensando que vai doer ainda mais. É como se quando eu olhasse para o seus olhos tivesse a confirmação do fim.

Sei o que é correto a se fazer para evitar mais sofrimentos lá na frente, só que isso não me traz nenhum tipo de conforto.

— Precisamos conversar.

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