Capítulo três

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Maria Luiza


Menos de cinco minutos sentada no meu lugar de sempre e é a décima vez que bocejo. Não costumo ser muito preguiçosa, mas até pegar o ritmo da nova rotina com o retorno das aulas, o trabalho e os estudos na madrugada demora um pouco, ainda mais depois de férias sem horários tão certinhos.

Eu sou péssima para deixar as coisas se acumularem. Cheguei do trabalho ontem por volta das dez da noite, tomei banho, fiz mais bolos de pote e pudins para o dia seguinte. Depois de finalizada essa parte, sentei na frente do notebook e já finalizei dois trabalhos pedidos ontem e comecei outro. Dormi menos de três horas nessa noite, mas bola para frente.

Confiro o horário e sei que hoje é dia de dois professores novos. Tenho pouca paciência com essa espécie de reinício, porque os professores não conhecem os alunos, pedem apresentação de nome, o que esperamos do curso e a aula acaba passando sem render muito. Eles não nos conhecem, mas a turma está junto há mais de quatro anos, então vamos ouvindo as mesmas histórias.

Não chego a ser CDF, ao contrário do que muita gente pensa, mas acho que se passei no vestibular, se estou sentada aqui, quero chuva de conhecimentos e instrução.

— Nossa, que demora. — Alguém fala da parte de trás da sala. Não reconheço a voz, mas não é estranho que tenham alunos repetentes ou de períodos iniciais puxando algumas disciplinas em outras turmas. — Alguém sabe alguma coisa desse professor?

Olho para trás para prestar atenção no desenrolar da conversa e vejo o rosto novo em meio aos outros. Interessante... Um rosto não tão jovem, mas, sem dúvida, muito bonito. Dificilmente um aluno novato numa turma chega puxando assunto em voz alta assim. Nada nele demonstra ser aluno do curso de psicologia. Como essa matéria tem em outros cursos a presença dele aqui pode ser compreendida.

— Sei que ele entrou no processo seletivo do ano passado e é uma espécie de carrasco. — Diz uma aluna que se acha, a Daniela.

— Carrasco é? — O novato indaga.

— Sim, parece que reprovou uma turma quase inteira. Nos trabalhos em grupo, ele faz perguntas não só sobre o que a pessoa falou como sobre coisas que outro integrante disse. Um mala!

— Por que sempre que uma turma vai mal a culpa logo vai para o professor? Será que foi mesmo a turma inteira? — O cara volta a questionar, relaxando no encosto da cadeira.

— Em regra é assim, quando um aluno tem dificuldades, o problema é dele. Quando a turma toda tem, o problema é do professor. — Ela conclui como sendo a dona da verdade.

— O que você acha? — Sou pega de surpresa quando o carinha se volta para mim.

— Eu? — Ele confirma. — Sou levada a seguir Nelson Rodriguez ao dizer que toda unanimidade é burra. Não gosto de generalizar sem tirar a prova por mim mesma. Se teve uma minoria que conseguiu, com certeza se dedicaram nesse intento e obtiveram sucesso. Logo, é possível. — Dou de ombros. — Falar que avalia o grupo pelo conteúdo todo de um trabalho não está errado, até por que o correto é que todos os integrantes estejam por dentro de tudo até para ajudar o outro.

— Você não conta, porque é nerd. — A Daniela tenta soar como uma piada, mas acaba rindo sozinha. Ignoro e continuo falando.

— Estamos numa universidade top de linha, com conceito nota máxima no curso e todos os que dão aula são mais do que capazes. E outra, se essa opinião de carrasco fosse consolidada, as pessoas já teriam reclamado dele e medidas teriam sido tomadas.

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