Capítulo quarenta e um

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Pedro


A vontade que tenho é levantá-la dessa cadeira e tascar um beijo em sua boca para ver se acorda, se esquece toda essa loucura de me deixar e cai na real que o certo é ficarmos juntos e ponto final.

Ontem saí muito bravo do prédio dela. De todos os cenários, o que aconteceu foi o pior. Pensei que ela não fosse entender e ficar muito chateada, jogar na minha cara que era minha culpa, eu teria que rastejar um pouco falando o quão louca a Luciana é, mas não foi assim.

Ela entendeu a explicação, mas mesmo assim me chutou. E não foi por nada relacionado ao drama que sofri o fim de semana todo por achar que ela estava chateada.

Não consegui voltar para o apartamento ontem. Ia aumentar meu sofrimento continuar vendo a Malu em todos os cantos. Fui para a casa em que vivi durante toda a minha vida praticamente.

Minha avó estava na sala, vendo um filme que sei que ela já assistiu um milhão de vezes. Não pensei duas vezes. Joguei meu corpo cansado no sofá, desabafei, enquanto ela afagava o meu rosto. Quando contei todos os detalhes, ela ficou quieta durante um longo tempo. Se ela não continuasse com o carinho em meu rosto, seria capaz de pensar que tinha até dormido.

Nunca vou esquecer do que ela me disse: "Os dois estão certos. Cada qual em seu ponto. Você por estar furioso e não entender como um casal que se ama acaba separado; e, ela, por estar temendo um sofrimento maior lá na frente. Isso não tem a ver, necessariamente, com a pouca idade que a Malu tem, pois ela já deu provas suficientes do quão madura é. Vocês estão em estágios diferentes de vida sim. Você é um homem formado e muito mais seguro do que quer, mas pensa no tanto de coisas que já viveu a mais do que ela. A percepção de cada um sobre a vida vai mudando conforme o tempo. Ela tem pouco mais de vinte só. O medo é algo que não vê idade, classe social ou raça. Têm pessoas que são muito fortes para determinadas coisas, mas temem outras. Tem gente que se arrisca a dor física, pois essa pode ser mais fácil de tratar ou curar; mas a dor sentimental é tremendamente pior."

Quando perguntei qual era a resposta para resolver esse impasse, ela sorriu e disse simplesmente: "Dê tempo ao tempo, pois nem o mundo foi criado em um único dia, por que, então, que a decisão que pode mudar o resto de duas vidas seria?"

Confesso que consegui dormir à noite depois dessa conversa com a minha avó. Entendi o lado da Malu e tentei me colocar em sua posição. Não sei se abriria mão da gente dessa forma, mas consegui pesar as diferenças que ela apontou.

Decidi ouvir a minha avó e dar tempo ao tempo, mas também não significa que vou ficar de braços cruzados esperando o bom senso voltar à cabeça da minha namorada teimosa.

— Não é nada disso. — Ela responde, enfim, a minha pergunta sobre estar me abandonando no trabalho também.

— E como é? — Fecho a porta da sala e cruzo os braços, ficando bem próximo a ela. O seu perfume nubla um pouco a minha certeza de não agarrá-la aqui.

— Conversei com a Ana e chegamos à conclusão de que seria interessante revezarmos os cargos.

— E será que o chefe não deveria ser questionado sobre isso com antecedência?

— Com certeza. Peço desculpas.

— Desculpas aceitas, mas quero você de volta à sua mesa. — Ao meu lado, a minha vida para todo o sempre. Complemento mentalmente o que gostaria de dizer.

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