Capítulo trinta e sete

67 18 2
                                    


Maria Luiza


— Olha ela, parece que está levitando. — Quando entro no corredor para ir para o meu apartamento, o Bento está parado com os braços cruzados, sorrindo, encostado na porta.

— Talvez esteja mesmo. Estou descansada.

— Descansada, feliz, pele boa. Ah, os benefícios do sexo, quão milagrosos são. — Zomba.

— Você não parece estar muito diferente do que elencou para mim.

— Não tenho do que reclamar.

— O que está fazendo parado aqui no corredor?

— Acabei de chegar e ouvi o barulho do elevador, resolvi esperar para tentar a sorte e ver se era você.

— Acho que a sorte foi a minha. Que tal ajudar a sua amiga mais amada a fazer alguns doces para amanhã? — Deixo minha bolsa no chão e vou até ele para apertar sua bochecha. Sei que odeia!

— Para, sua chata! Vamos lá! Seus doces são horrorosos mesmo.

Ele pega a minha bolsa e entramos.

Ainda não são nem nove da noite, mas meu pai já está roncando no sofá e minha mãe dormindo sentada na poltrona com um livro na mão. Sorrio para a cena à minha frente. Ela é tão recorrente. Tenho boas lembranças de momentos assim, onde ficava falando para eles irem para cama e sempre batiam o pé de que não estavam dormindo.

— Dá até pena de acordá-los.

— Minha mãe deve estar do mesmo jeito. Falei com ela mais cedo e, pelo visto, se divertiram bastante no aniversário que foram. O dia todo fora, praticamente.

— Vai arrumando as coisas na cozinha? — Ele assente e vou chamar os meus pais.

Até que não me deram muito trabalho para irem para a cama. Passaram na cozinha para falar com o Bento, trocamos algumas palavrinhas e logo partiram.

São momentos assim que penso no que sempre ouvi sobre chegar a fase dos filhos trocarem de lugar com os pais e passarem a ser um pouco pais deles. Os meus estão longe de precisarem de tantos cuidados, pois são mais do que capazes, mas essa situação de falar para ir para a cama, fiscalizar os remédios, fazer coisas que gostam de comer e cuidar de tantos outros detalhes, me dá um prazer enorme, só por ter o gostinho de retribuir um pouquinho de todo o cuidado que sempre tiveram comigo.

— Por onde começamos? — Indaga o Bento.

— Você pode fazer a palha italiana. Vou fazer massas para os bolos de pote. Decretei que segunda é dia deles. É mais fácil seguindo um cronograma para não repetir sempre e nem ficar muito tempo sem fazer.

— Fechado. — Ele começa a tirar os biscoitos dos pacotes para começar a trabalhar. — E como está o namoro?

— Bem, acho que estou mais confiante. Está indo tudo tão bem. Ele me levou para o apartamento que ele comprou, nesse fim de semana. Ficamos juntos o tempo todo e foi tão natural, tão íntimo, tão próximo. Não houve momentos de silêncios esquisitos, falta de jeito, desconforto. Acho que ele não queria que eu tivesse vindo embora, da mesma forma que tenho minhas dúvidas se queria ter vindo.

— Fico muito feliz que você tenha se aberto dessa maneira, Pooh. — Ouvir meu apelido de sempre, causa uma sensação de conforto no peito, mostrando-me que mesmo que as coisas mudem um pouco, sempre teremos um ao outro.

Destino marcado - COMPLETO Onde histórias criam vida. Descubra agora