Capítulo dezoito

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Maria Luíza


Saudade da minha vida mais pacata. Será mesmo? Já nem sei mais.

Como diria a Fê: sequência de pancadas sem anestesia.

Um susto com a presença do Pedro lá na sala, a questão de receber uma homenagem no nome do filho da Débora e o sacode que me jogou no chão foi ter aceitado trabalhar diretamente com o Pedro.

Falando na Fê, hoje foi mais um dia que ela não foi à aula. Vou a casa dela hoje de qualquer jeito. Ontem não deu, não tinha a menor condição. Mas, não deixei de continuar ligando, mandando mensagem, já que era o que conseguia fazer estando distante.

A Ana passou tudo o que precisava de mim para hoje, a questão é se consegui ouvir alguma coisa ou compreender certinho. Ainda bem que acordei do transe e acionei o gravador do meu celular, para escutar assim que desse para pegar nas coisas do setor. Só me lembro claramente da última parte, sobre não precisar me preocupar, caso não dê conta, devido às obrigações que terei trabalhando com o Pedro, pegando as primeiras orientações e me adaptando.

Caminho direto para a porta da sala dele e bato à porta, sem parar para pensar muito para não perder a coragem.

Lembro-me do que disse sobre não querer alguém com medo de falar com ele. Medo não tenho, mas devo confessar que fico inquieta.

Quando contei para a Fê sobre tê-lo conhecido, ela disse que se encontrasse o seu crush adolescente pularia em seu pescoço para tirar a prova real de todos os beijos fictícios que já tinha sonhado em trocar com ele. Imagina fazer algo desse tipo! Minha cara partiria de vergonha. Mas, é àquilo também, entre falar e fazer, em grande parte das vezes, existe um abismo sem fim.

O Pedro é um homem lindo, simpático e muito atraente, mas quase catalogado como impossível para mim. Temos entre nós classe social, idade, relação patrão/empregado, fora o principal que é a inexistente falta de interesse dele e, provavelmente, até saber que existo na vida como sendo uma mulher. Tenho a impressão de que ele só me vê como uma garota, uma estudante, alguém para lhe servir no trabalho...

— Pode entrar. — Sua voz soa irritada e me tira do meu momento recheado de conjecturas.

— Com licença. — Quando entro em sua sala ele parece tenso a princípio, mas ao me notar ali, sua expressão se suaviza.

— Ainda bem que você já chegou.

Não tenho muito tempo para me sentir nervosa. Deixo a bolsa na cadeira e ele vira o notebook em minha direção antes de se sentar ao meu lado para mostrar algo na tela.

Tão acessível e próximo. Tento me concentrar em suas palavras, tentando deixar fora de foco o cheiro do seu perfume amadeirado; suas mãos grandes apontando para a tela; sua voz grossa soando baixo tão perto do meu ouvido, causando leves arrepios em minha nuca...

Meu Deus! Como posso estar tão afetada por esse homem? Nunca reagi assim a nenhum cara. Talvez seja isso, ele não é qualquer cara. Ele é um homem realizado e não um dos garotos que já fiquei ou paquerei. Além de já ter sido meu objeto de desejo em sonhos juvenis.

As palavras que saem da sua boca, soam como se fosse grego no início, discorrendo sobre portfólios, contratos e propagandas a serem aprovadas. Quando volto ao momento, esquecendo dos pensamentos indevidos para essa hora, acho que ele pega meu desespero e recomeça, dessa vez traduzindo tudo. Muita coisa não demoro tanto a pegar por causa de o Bento lidar diretamente com o setor de publicidade também. Lógico que não chega nem perto de ser em grande escala como a No Alvo, mas fez com que algumas coisas aqui ficassem mais fáceis de compreender.

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