Capítulo quatorze

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Pedro


— Não sei do que você está falando. Só quis ser prestativa a uma funcionária.

Passo as mãos pelos meus cabelos, mas a vontade era de puxar de tão irritado que minha irmã me deixou.

— Você praticamente expulsou a garota daqui. — Ainda bem que minha avó falou primeiro, antes de eu soltar algo que não deveria. — Uma situação péssima com alguém que só ajudou.

— Eu vou atrás dela. — Digo.

— Pode deixar que faço isso. Você também não está em condições de dirigir. Levo a garota e volto aqui. Não se preocupe. — Assinto e o Arthur sai correndo.

— Não fiz nada demais. — Balbucia a minha irmã. Parece criança birrenta que não larga o osso, mesmo estando errada, continua a dar murros em ponta de faca.

— Fez sim e sabe disso. — Retruco. — Vou buscar uma água.

Preciso ficar um pouco longe dela e invento isso, seguindo até a máquina de vendas automáticas.

Sei que o Arthur vai cuidar da Malu, mas eu que deveria ter ido. A garota não foi nada menos do que impecável, desde o primeiro momento que encontrou a Débora caída.

Confesso que fiquei bastante surpreso com a nossa conversa, por tamanha maturidade demonstrada, cuidado e preocupação em ajudar os pais, mesmo tendo seu foco individual para a sua carreira profissional.

Maturidade. Quem dera fosse possível encomendar dúzias para pôr um pouco na cabeça de vento da minha irmã.

Ela não é má pessoa. Longe disso. Só foi muito mimada. Eu tenho minha parcela de culpa, mas não estou sozinho, pois minha avó também contribuiu e muito. É àquilo, uma menina muito nova que perde os pais cedo demais e acaba sendo mimada para minimizar o trauma ou esquecer um pouco toda a situação.

Não tenho ideia se isso é efetivamente eficaz ou só prejudica na formação da pessoa futuramente... Agora é tarde também.

Minha irmã se formou com louvores na faculdade e fez especializações fora do país. Tem um bom coração, mas mesmo sendo mais velha que a Malu, não tem dez por cento da maturidade dela. Talvez seja ela ou algumas amizades fúteis que tem, que acabam incutindo a ideia de que por ter mais condições financeiras que os outros é um ser humano melhor. Santa ignorância e grande idiotice.

É uma pena.

Espero que o Arthur esteja com a Malu, levando-a em segurança para a empresa. Depois me desculparei pelo o ocorrido. Isso é o mínimo que posso fazer, mesmo não tendo responsabilidade direta.


Maria Luiza


Ando apressada pelos corredores do hospital, um tanto quanto perdida.

A vontade maior que me acomete é sentar em qualquer cantinho no chão mesmo e abraçar meus joelhos, deixando todas as lágrimas que estou prendendo saírem de modo torrencial.

Não é a primeira vez que tentam me humilhar ou me diminuir. A diferença é que em todas as outras pude responder à altura, retrucar, defender-me. Dessa vez acabei tolhida e acho que esse fato é que está me deixando tão mal.

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